Assistir ao eclipse solar sem proteção pode causar perda irreparável da visão, alertam especialistas

Eclipse solar fotografado da Austrália em 2002
Eclipse solar fotografado da Austrália em 2002 — Foto: AFP

Um simples vislumbre de um eclipse solar, como o que será visto nesta segunda-feira em grande parte da América do Norte, pode causar perda irreparável de visão, alertam especialistas em saúde ocular. Dezenas de milhões de pessoas, do México ao Canadá, passando pelos Estados Unidos, testemunharão um fenômeno celeste raro que não se repetirá naquela parte do mundo até 2044: a Lua bloqueará — em alguns lugares completamente — a luz do Sol.

Os seres humanos normalmente não olham para o Sol por causa do desconforto que ele causa, mas durante os eclipses alguns “substituem” esse instinto, explicou Aaron Zimmerman, professor de optometria da Universidade Estadual de Ohio, à AFP.

O principal perigo associado a este fenômeno, segundo o especialista, advém da “toxicidade fotoquímica”, quando ondas curtas e poderosas de luz azul, violeta e ultravioleta — esta última invisível — desencadeiam reações químicas que danificam os bastonetes e cones da retina, a membrana localizada na parte posterior do olho que recebe impressões de luz e as transmite ao nervo óptico.

O resultado são visitas aos serviços de urgência de pessoas com queixas de visão turva, alterações na percepção das cores e manchas pretas, por vezes sem a certeza de que voltarão ao normal. Uma importante revista médica relata o caso de uma jovem que foi a uma clínica oftalmológica em Nova York depois de ter visto o eclipse de 2017 “várias vezes durante cerca de seis segundos sem óculos de proteção” e depois com eles colocados.

Poucas horas depois, os objetos começaram a ficar embaçados e distorcidos, as cores começaram a mudar e a paciente relatou o aparecimento de uma mancha preta no centro do olho esquerdo. Os danos observados a nível celular persistiram durante seis semanas.

De acordo com a revista, os jovens adultos podem estar em maior risco porque têm pupilas maiores, uma estrutura ocular mais clara ou uma “percepção mais fraca dos perigos” de ver um grande eclipse.

“Em alguns casos, o dano é parcial e pode ser tratado de forma que não seja mais perceptível”, disse à AFP Neil Bressler, professor de oftalmologia da Universidade Johns Hopkins e editor-chefe da revista JAMA Ophthalmology.

Embora a recuperação geralmente dure alguns meses, alguns podem não ter tanta sorte.

“Em outros casos, pode deixar uma mancha preta permanente e não temos tratamento para revertê-la. É como o tecido cerebral: depois de perdido, ele não volta”, acrescentou Bressler.

A melhor forma de observar um eclipse é usar óculos especiais, que bloqueiam 99,99% da luz. Para verificar a qualidade desse equipamento, “encontre a lâmpada mais brilhante da sua casa e observe-a de perto. Você mal conseguirá ver a luz”, aconselhou o professor Zimmerman.

Se já for tarde para conseguir lentes especiais, existem métodos indiretos, como fazer um pequeno furo em uma folha de papelão e deixar a luz atingir outra superfície, ou ainda usar um simples coador da sua cozinha da mesma forma. Outra opção é acompanhar o fenômeno pelo site da agência espacial americana, NASA.

Aqueles que tiverem a sorte de estar no caminho do eclipse total poderão vê-lo quando ele estiver totalmente formado, sem óculos, e admirar a atmosfera externa do Sol, sua coroa, brilhando por trás da silhueta da Lua.

Para o professor Bressler, o perigo também está em saber se proteger antes e depois desse momento específico, que pode durar de alguns segundos a vários minutos, dependendo da posição geográfica em que a pessoa se encontra.

“É absolutamente necessário saber quando começa o eclipse e colocar os óculos com antecedência”, enfatizou. Da mesma forma, se você consegue ver a fase do eclipse total sem eles, é preciso saber quando colocar a proteção novamente na hora certa, “mesmo que você esteja cativado pelo espetáculo”, disse o profissional.

Fonte: O Globo

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