As diferenças da direita radical europeia e a brasileira

Os manifestantes seguram uma faixa com os dizeres 'Revolução ou barbárie' enquanto se manifestam contra o partido francês de extrema direita Rassemblement National (RN).
Os manifestantes seguram uma faixa com os dizeres 'Revolução ou barbárie' enquanto se manifestam contra o partido francês de extrema direita Rassemblement National (RN). — Foto: Sébastien Salom-Gomis/AFP

A extrema direita saiu vitoriosa em alguns países, como França e Itália, avançou em outros como a Alemanha, e teve pouco impacto nos demais, como a Espanha. No geral, ficou atrás dos tradicionais blocos da centro-direita conservadora e da centro-esquerda social-democrata, que seguem dominantes no Parlamento europeu. Terá apenas 8% das cadeiras. Os resultados simplesmente indicam que a direita radical se tornou uma realidade política na Europa, o que já era óbvio por estarem no poder há anos na Hungria e mais recentemente na Itália. Muito possivelmente, talvez assumam o poder em um futuro próximo em Paris.

No Brasil, como era de se esperar, voltou a discussão sobre se a performance da extrema direita europeia fortalece o bolsonarismo. A narrativa, sem dúvida, ajuda os partidários do ex-presidente, ainda mais com o exagero de que foram os vitoriosos (a centro-direita tradicional foi a grande vencedora). Mas precisamos entender que a agenda da direita radical europeia muitas vezes contrasta com as ideias defendidas por Jair Bolsonaro até porque os contextos são bastante diferentes.

A extrema direita europeia tem na sua base o sentimento anti-imigrante, chegando em muitos casos à xenofobia. Isso se deve em grande parte aos fortes movimentos imigratórios a esses países. O Brasil, embora tenha recebido muitos imigrantes um século atrás, não é mais destino de estrangeiros em escala relevante. Na verdade, o que vemos atualmente são centenas de milhares de brasileiros indo para os EUA, Portugal e outros países. Milhares de brasileiros tentam cruzar a fronteira do México para o território norte-americano todos os meses. Convenhamos que devem ser raríssimos os franceses e alemães fazendo esse trajeto. Outra diferença está na questão religiosa. O bolsonarismo possui forte apoio entre setores evangélicos neopentecostais. Essa corrente é fraca na Europa, onde o catolicismo é forte na extrema direita francesa e italiana, por exemplo.

Na economia, o bolsonarismo é pró-mercado. Teve como ministro Paulo Guedes, um economista ortodoxo, e desfruta de ótimas relações com o mercado financeiro. Já Marine Le Pen, por exemplo, é protecionista e vê os banqueiros como inimigos. Emmanuel Macron, que trabalhou em banco, sempre foi o preferido da elite financeira com seu discurso pró-mercado. Por último, Bolsonaro até agora foi mais bem sucedido do que Le Pen por ter conseguido ser eleito presidente. A líder francesa coleciona derrotas nas suas tentativas de chegar à Presidência.

As similaridades estariam mais em questões comportamentais e ambientais.

Fonte: O Globo

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