Armado, temido e reservado: moradores do TO descrevem Danilo Cavalcante

Danilo Cavalcante é capturado após 14 dias de buscas nos EUA
Danilo Cavalcante é capturado após 14 dias de buscas nos EUA — Foto: Reprodução

Passava pouco da meia-noite de um sábado. Uma chuva leve começava a cair na praça quase vazia perto da igreja. Evaldo Alves Feitosa estava fazendo seu último hambúrguer da noite quando ouviu tiros do lado de fora de sua lanchonete.

— Achei que fosse um foguete de uma festa da boate ali — disse Feitosa. Ao olhar para fora, viu Danilo Cavalcante entrando em um carro prateado e saindo em alta velocidade.

Para trás ficou Valter Júnior Moreira dos Reis, caído numa poça de sangue após levar seis tiros.

— Foi a última vez que vi Danilo — disse Feitosa, usando a pronúncia mais comum de seu primeiro nome em português. — Ele desapareceu — acrescentou.

Cavalcante passou a ser alvo de uma caçada humana no interior da Pensilvânia depois que fugiu da prisão do condado de Chester, em 31 de agosto.

Ele estava detido pelo assassinato de sua ex-namorada, Débora Evangelista Brandão, em abril de 2021. Depois de matá-la, Cavalcante tentou fugir, chegando até a Virgínia antes de ser capturado e enviado para a prisão.

Ele foi condenado e sentenciado em agosto deste ano e, poucos dias antes de iniciar a sentença de prisão perpétua em uma penitenciária estadual da Pensilvânia, escapou das autoridades. O brasileiro foi recapturado nesta quarta-feira.

Mas esta não foi a primeira vez que Cavalcante fugiu das autoridades. E a primeira vez em que ele esteve em fuga mostrou que é extremamente difícil detê-lo.

Cavalcante também desapareceu de um trecho remoto do norte do Brasil, depois que Moreira foi baleado e morto em 2017, supostamente por causa de uma dívida não paga. Os promotores estaduais disseram que um mandado de prisão contra ele foi emitido em 21 de novembro de 2017.

Na primeira vez que Cavalcante escapou da justiça, ele encontrou refúgio na zona rural de Figueirópolis, uma cidade de cerca de 5.000 habitantes situada no interior do estado de Tocantins. Depois de fugir da cena do crime, ele se escondeu em uma fazenda a menos de uma hora da cidade, segundo moradores locais.

— Depois que você sai são apenas fazendas e matas além daqui. Não é difícil desaparecer — disse Kelton Meneses, padre em Figueirópolis.

O poeirento cerrado brasileiro proporcionou o disfarce perfeito para Cavalcante. As fazendas de gado se estendem por quilômetros, ladeadas por arbustos e florestas secas. Cercas de arame farpado, algumas com caveiras de vaca no topo, marcam o final de um lote e o início do seguinte. Estradas de terra serpenteiam por pedras irregulares, formando labirintos traiçoeiros que afastam os estranhos.

Cavalcante se sentia à vontade no sertão brasileiro, disse Raimundo Campos dos Santos, morador de longa data da região.

— Quando você está acostumado com o rancho, você sabe se esconder. Ele passou muito tempo no mato — afirmou Santos.

Cavalcante havia se mudado para essa região pouco mais de um ano antes do assassinato, chegando com a mãe e o irmão do estado vizinho do Maranhão, segundo quatro moradores.

Ele trabalhava em uma fazenda próxima chamada Mula Preta, cuidando de gado e maquinário. Sua família comprou um terreno em uma comunidade rural vizinha, onde criava vacas e cavalos.

— Eles eram pessoas trabalhadoras —  disse Santos, que mora na mesma comunidade, que se estende por quase 50 mil metros quadrados. — Muito humilde — acrescentou.

A fazenda da família fica em um lugar remoto, acessível por uma estrada íngreme e rochosa. Numa visita recente, arame farpado circundava uma modesta casa de fazenda. Na varanda havia selas penduradas em ganchos e uma rede balançava na sombra. Cerca de meia dúzia de galinhas e quatro cachorros vagavam pelo poeirento jardim da frente. Abutres sobrevoaram.

Aroaldo Cavalcante, irmão do fugitivo, ainda mora na fazenda, segundo vizinhos. Na tarde de domingo ele não saiu do local e não respondeu às mensagens de texto solicitando entrevista.

— Ninguém conhecia bem essas pessoas — disse Darci Gomes Neves, de 75 anos, um vizinho que mora na região há duas décadas. — Danilo não ficou muito tempo. Ele partiu e ninguém mais ouviu falar dele.

Mas quando chegou à região, iniciou uma amizade rápida e improvável com Moreira, uma figura popular na cidade.

— Ele era um doce — disse Feitosa sobre Moreira. — Ele conversava com todo mundo, gostava de dançar e brincar.

Cavalcante era mais quieto.

— Ele era reservado, não falava muito — disse Feitosa. — Ele nunca olhou nos seus olhos.

Mesmo antes da morte de Moreira, Cavalcante era temido por alguns moradores da cidade.

— Ele tinha a reputação de manter muitas armas em casa — disse Carlos Humberto Jacob, amigo de Moreira que conhecia Cavalcante. — As pessoas costumavam dizer que ele tinha armas pesadas na fazenda — acrescentou.

A amizade entre os dois aparentemente azedou quando Cavalcante emprestou um carro para Moreira, que supostamente danificou o veículo e nunca pagou pelos reparos, segundo a polícia.

Cavalcante então começou a enviar ameaças de morte a Moreira, disse a irmã da vítima, Dayane.

— Ele ficava dizendo: ‘Vou matar você, vou matar você’ — contou.

Em novembro de 2017, Cavalcante foi à praça confrontar Moreira, que havia se mudado para outra cidade, mas voltou para casa para tirar uma nova carteira de motorista.

Após o encontro fatal, Cavalcante supostamente se escondeu na região por várias semanas antes de deixar o Brasil sob uma identidade falsa. Ele é considerado foragido no Brasil desde 2017, segundo autoridades do Tocantins.

Fonte: O Globo

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