Argentinos têm duas notícias: a boa é que os juros caíram. A má é que eles ainda estão em 80% ao ano

Banco Central da Argentina: corte de juros em meio à inflação de três dígitos
Banco Central da Argentina: corte de juros em meio à inflação de três dígitos — Foto: Erica Canepa/Bloomberg

O banco central da Argentina cortou inesperadamente sua taxa básica de juros, de 100% para 80%, diante da expectativa de queda da inflação mensal e fortalecimento do peso no mercado paralelo.

Apesar da inflação anual acima de 270%, a autoridade monetária citou uma série de fatores para explicar o corte na noite de segunda-feira, incluindo a recomposição das reservas internacionais.

No Brasil, onde o Banco Central (BC) vem cortando juros desde o ano passado, a taxa básica de juros (Selic) é atualmente de 11,25% ao ano, considerada muito alta pelo presidente Lula, que tem acusado o BC de atrapalhar o crescimento da economia brasileira. Em 12 meses, a inflação no Brasil está em 4,50%, apontou hoje o IBGE, o teto da meta a ser cumprida pelo BC.

A divulgação do índice de preços ao consumidor de fevereiro na Argentina, na tarde de hoje, mostrou uma desaceleração, pelo segundo mês consecutivo, maior que a esperada pelos analistas. A inflação do mês passado foi de 13%, ante 15% nas projeções do mercado. Em janeiro e dezembro, foi de 21% e 26% respectivamente. A inflação anual, no entanto, alcançou 276%.

A flexibilização monetária ocorre durante uma operação de troca de dívida local recorde, em que o governo de Javier Milei tenta substituir até 55 trilhões de pesos (US$ 65 bilhões) em notas do Tesouro que vencem este ano por títulos com vencimento entre 2025 e 2028.

A redução de juros contrasta com a sinalização dada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em fevereiro, na mais recente revisão do programa de US$ 44 bilhões de ajuda à Argentina, onde a equipe do credor multilateral disse que “as autoridades concordaram que a política monetária teria de ser apertada para apoiar a demanda por moeda e a desinflação.”

De forma mais geral, o FMI há muito insiste que a Argentina mantenha os juros acima da inflação para incentivar a demanda por pesos e esfriar a alta de preços.

Após um corte de juros semelhante em dezembro, juntamente com uma desvalorização cambial de 54%, muitos argentinos sacaram depósitos de 30 dias em pesos.

A autoridade monetária observou que, embora os juros estejam caindo, a quantidade de dinheiro em circulação diminuiu 17% quando ajustada à inflação desde que Milei assumiu o cargo. Manter um controle rígido sobre a base monetária ajudou a esfriar os preços mensalmente até agora.

Embora a inflação mensal continue a esfriar e a taxa de câmbio paralela esteja mais forte, o resultado é uma forte recessão este ano na Argentina. As medidas de austeridade de Milei eliminaram gastos sociais, e os salários ajustados pela inflação estão no nível mais baixo desde 2003.

Fonte: O Globo

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