Argentina: inflação desacelera pela segunda vez seguida em fevereiro, mas supera 270% em 12 meses

Governo de Javier Milei elevou tarifas dos transportes públicos com retirada de subsídios
Governo de Javier Milei elevou tarifas dos transportes públicos com retirada de subsídios — Foto: Enrique García Medina/La Nación

A inflação ficou em 13,2% na Argentina em fevereiro, na segunda desaceleração consecutiva do índice mensal à medida em que o impacto da maxidesvalorização de 54% do peso promovida nos primeiros dias do governo de Javier Milei, em dezembro, começa a se diluir na economia penalizada há anos por uma inflação fora de controle.

A desaceleração também reflete as medidas de austeridade fiscal de Milei, com o fim de congelamentos de preços e cortes de gastos públicos, benefícios e subsídios, que limitam o consumo e empurram o país para uma recessão mais profunda.

Os preços ao consumidor subiram 13,2% em fevereiro em relação a janeiro, abaixo das expectativas dos economistas, que era de 15%. Segundo dados divulgados hoje pelo governo, em 12 meses, a inflação no país chega a 276,2%.

O ministro da Economia, Luis Caputo, afirmou hoje, em evento em Buenos Aires, que espera que a inflação mensal desacelere abaixo de 10% até meados de 2024.

Ele observou que Milei (que prometeu dolarizar a economia do país durante a campanha eleitoral no ano passado) ainda pretende introduzir uma espécie de “competição de moedas”, na qual o dólar americano também poderia ser moeda corrente legalmente no país.

Caputo acrescentou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está aberto a discutir um novo programa para substituir o atual de US$ 44 bilhões de dólares com a Argentina, que incluiria novos empréstimos. O FMI foi uma das instituições mais atacadas por Milei durante a eleição e agora tem mantido uma boa relação com o governo dele, apoiando medidas de austeridade.

Embora a inflação tenha diminuído desde o seu pico mensal de 25% em dezembro, espera-se que o progresso desacelere à medida que Milei continue a eliminar os generosos subsídios estatais que mantinham artificialmente baixos os preços dos combustíveis, da energia e dos transportes, apontam analistas. O equilíbrio das contas públicas é um fator decisivo na estratégia adotada pelo governo argentino.

Espera-se que março seja um mês particularmente difícil, à medida que as crianças regressam à escola e os sindicatos negociam aumentos salariais, avaliou Gabriel Caamano, economista da Consultora Ledesma, com sede em Buenos Aires.

Depois de assumir o cargo, Milei desvalorizou a taxa de câmbio oficial do peso em 54%, instituiu uma indexação mensal de 2% e suspendeu centenas de congelamentos de preços. Mas as medidas de austeridade também eliminaram as despesas com a segurança social e os salários ajustados à inflação, restringindo drasticamente o consumo e agravando a recessão econômica.

Nesse contexto ainda de alta acelerada de preços, o presidente do banco central argentino, Santiago Bausili, supreendeu ao anunciar, na noite de ontem, um corte surpresa da taxa de 100% para 80% na noite de segunda-feira, citando uma “trajetória descendente” nos preços de varejo, apesar do “forte arrasto estatístico” da alta inflação mensal, juntamente com a reconstrução constante das reservas internacionais.

No Brasil, onde o Banco Central (BC) vem cortando juros desde o ano passado, a taxa básica de juros (Selic) é atualmente de 11,25% ao ano — considerada muito alta pelo presidente Lula, que tem acusado o BC de atrapalhar o crescimento da economia brasileira. Em 12 meses, a inflação no Brasil está em 4,50%, apontou hoje o IBGE, o teto da meta a ser cumprida pelo BC.

Fonte: O Globo

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