Após rei Charles e Kate Middleton anunciarem câncer, Camilla se torna ponto central da família real

O rei Charles III e a rainha Camilla
O rei Charles III e a rainha Camilla — Foto: Getty Images

Na última sexta-feira, a princesa de Gales, Kate Middleton, anunciou publicamente seu diagnóstico de câncer. O Rei Charles III já havia anunciado que também está com a doença em fevereiro desse ano. Com isso, ficam de lado duas das figuras reais mais visíveis do Reino Unido e entra em cena outro membro da família: a rainha Camilla.

Na semana passada, Camilla viajou para a Ilha de Man para fazer um discurso em nome de Charles e se reuniu com funcionários públicos e grupos comunitários. Em seguida, voou para a Irlanda do Norte, onde visitou uma padaria e um açougue, participou de um evento literário e recebeu saudações em um desfile militar.

Na quinta-feira, a rainha de 76 anos sorriu para os fotógrafos e brincou que uma criança fotogênica que ofuscou sua visita ao açougue: “nasceu para isso”. Em suas visitas, não passou para o público a tensão de cuidar de um marido com câncer, nem de saber que no dia seguinte Kate anunciaria que também foi diagnosticada com a doença.

É o tipo de reviravolta do destino que quem acompanha a realeza gosta de assistir: Camilla, a mulher cuja existência parecia ameaçar a estabilidade da família real, emergiu justamente como uma força estabilizadora durante uma grande crise. Há quem diga que, recentemente, parecia que ela estava carregando toda a Casa de Windsor em seus ombros.

— Este é um momento vulnerável para a família real, onde suas fragilidades humanas estão totalmente expostas — disse Arianne J. Chernock, professora associada de história da Universidade de Boston e especialista em monarquia britânica moderna — O próprio treinamento e histórico de Camilla podem ajudá-la nessas circunstâncias.

Com seu marido cancelando compromissos públicos enquanto passa pelo tratamento da doença, e com Kate se voltando para quimioterapia que provavelmente fará em breve, Camilla começou a assumir funções importantes. Sua viagem à Irlanda do Norte, programada antes de o rei ficar doente, a empurrou para um terreno diplomaticamente delicado, dado o legado da violência sectária e seu governo politicamente frágil. Segundo os relatos, ela se saiu bem.

Camilla não é a única da família a segurar a barra enquanto Charles e Kate estão doentes. A princesa Anne, irmã do rei, manteve sua agenda cheia de eventos reais, como de costume. O marido de Kate, príncipe William, espera voltar às suas funções em tempo integral após o feriado da Páscoa, e o próprio Charles continuou a se encontrar com líderes estrangeiros e realizar sua sessão semanal com o primeiro-ministro Rishi Sunak.

Mas nenhum deles teve tanto destaque quanto Camilla. Nas comemorações do dia da Commonwealth na Abadia de Westminster neste mês, ela liderou a família real junto com William. Em discurso na Ilha de Man, disse:

— Meu marido está tão triste por não poder estar conosco nesta ocasião extremamente especial, mas ele me enviou aqui preparada com uma cópia de seu discurso para ler em seu nome.

Seu estilo sensato e direto ajudou a manter uma família desequilibrada. Ela consegue tranquilizar as pessoas dizendo que o rei está indo bem e tenta projetar um ar de normalidade. No evento, quando uma mãe segurou seu filho bebê, Louis, Camilla respondeu que também tinha um neto Louis, que ela disse ser “um menino difícil”. Foi um contraste comovente com a fala de Kate, que em seu vídeo de anúncio do câncer falou sobre a angústia de dizer a Louis e a seus outros dois filhos que estava doente.

Mesmo antes da recente onda de doenças, os títulos da família real haviam sido esvaziados pelas mortes da rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip; além da tensa partida do príncipe Harry e sua esposa, Meghan; e o exílio do príncipe Andrew por conta de suas ligações com Jeffrey Epstein, magnata americano acusado de agressão sexual. Isso aumentou o fardo sobre Camila, que assumiu o título de rainha consorte em 2022, após a morte de Elizabeth.

No início de março, Camilla tirou uma semana de folga para passar tempo com seu marido e família, o que perturbou alguns fãs da realeza, por conta da escassez de pessoal da família. Mas não demorou para que ela estivesse de volta aos seus deveres.

Mas o destaque de Camilla não resolve o que se tornou um problema sério para a família real. Ela realizou 233 compromissos no ano passado, de acordo com uma contagem do The Daily Telegraph, enquanto Charles realizou 425. Mas ambos estão em seus 70 anos, e a geração mais jovem não está assumindo suas obrigações. Mesmo antes da doença de Kate, ela e William foram a menos eventos reais, alegando estarem voltados para sua recente família.

Alguns especialistas dizem que esperavam que a família real fizesse mais uso das redes sociais para ampliar suas aparições. A conta da família no Instagram tem mais de 13 milhões de seguidores e sua conta no X tem mais de cinco milhões. Mas o lado ruim das redes ficou claro durante o período de hospitalização e convalescença de Kate, quando explodiram rumores e teorias da conspiração sobre seu sumiço.

— Eles vão ter que mudar o que fazem — disse Peter Hunt, ex-correspondente real da BBC. — Na ausência de William e Kate, eles não têm quem continue a aparecer nas redes. E não vão ser capazes de produzirem conteúdo como antes.

Para Camilla, esta última iteração é mais uma reviravolta em seu relacionamento complexo com o público — um que se estabeleceu, se não por afeto, então por aceitação. Em uma pesquisa com adultos britânicos realizada pela empresa de pesquisa de mercado YouGov no ano passado, Camilla teve uma taxa de aprovação de 41%. Esse número é maior do que o de Harry, com 27%, mas abaixo do de Charles, com 51%, Kate, com 63%, e William, com 68%.

Para os historiadores especialistas na família real, a coroação do ano passado foi o ápice de anos de reabilitação de imagem por Charles e Camilla, que se envolveram romanticamente quando ela era conhecida como Camilla Parker-Bowles. Ela assumiu grande parte da culpa pelo fracasso de seu primeiro casamento, com a princesa Diana, que morreu em um acidente de carro em 1997. Os tablóides de Londres difamaram Camilla, espalhando detalhes íntimos sobre a vida pessoal do casal em suas primeiras páginas.

Mas nos anos após Charles e Camilla se casarem, em 2005, em uma cerimônia civil discreta, eles trabalharam constantemente para reconstruir suas imagens. Camilla tornou-se uma participante ativa e obediente na vida real. Nada fez mais para consolidar seu status do que quando a rainha, pouco antes de sua morte, estabeleceu um roteiro para Camilla se tornar rainha consorte, colocando para descansar anos de incerteza e especulação sobre seu status.

Em retrospectiva, quem acompanha a família real diz que a bênção de Elizabeth pode ter sido tanto sobre garantir uma transição suave na monarquia após o seu reinado como uma recompensa para Charles e Camilla pelas suas melhores imagens públicas.

— Não que Elizabeth pudesse prever a série de desafios que a família real encontrou no ano passado, mas ela reconheceu que a monarquia nunca é apenas sobre o monarca, é sobre a família no trono — disse o professor Chernock da Universidade de Boston. — Agora é o momento da Camilla.

Fonte: O Globo

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