Antes aliados, movimentos sociais agora criticam decisões de Lula

Lula
Lula durante ato do 1º de Maio em 2023, em São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne neste 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalho, com centrais sindicais e movimentos sociais em ato unificado após críticas das entidades ao governo petista. A manifestação, marcada para às 10h, será no estacionamento da Neo Química Arena, estádio do Corinthians, na Zona Leste de São Paulo.

A presença de Lula no evento organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e Intersindical Central da Classe Trabalhadora, é um aceno à tentativa do presidente de cumprir suas promessas feitas durante as eleições presidenciais de 2022.

Das centrais sindicais que estão organizando o evento, ao menos 5 já criticaram e cobraram Lula publicamente desde o início do seu 3º mandato.

Além das centrais, entidades como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) também já fizeram críticas ao chefe do Executivo, principalmente sobre questões relacionadas à reforma agrária, promessa de campanha de Lula.

Leia abaixo as principais reivindicações dos movimentos sociais e das centrais sindicais para o governo Lula:

Desde o início do 3º mandato do petista, o MST foi o movimento que mais fez críticas ao governo. Em julho de 2023, o líder do movimento, João Pedro Stédile, disse que o governo estava “lento” e “medroso” em adotar medidas no campo social. Pouco depois, em setembro, afirmou que a insatisfação do movimento com o governo era “grande”.

Durante a campanha presidencial, Lula havia prometido priorizar a reforma agrária. No entanto, houve uma explosão de invasões de terra em 2023 –em 8 meses, foram registrados ao menos 62 episódios de invasão de terra em 11 Estados. O número se igualou ao registrado durante os 4 anos da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Depois de 1 ano e 4 meses da gestão Lula, as principais falas do MST ao governo ainda são relacionadas à reforma agrária. Em aceno à tentativa de estruturação do movimento, depois de uma série de ocupações de propriedades feitas em abril, o presidente lançou o programa Terra da Gente, que destina terras ociosas à reforma agrária.

Apesar das cobranças do MST em relação a Lula, em nota enviada ao Poder360, o movimento evitou subir o tom, e disse que a pauta do movimento no ato de 1º de Maio é a reforma agrária, combate à fome e denúncia à violência no campo.

“Entendemos que estamos em um momento crucial das lutas populares e essa data, além do marco histórico, se apresenta como uma janela de retomadas das lutas de massas para garantir mais direitos aos trabalhadores do campo e da cidade”, disse a entidade.

Além do MST, a Contag também já fez reivindicações sobre as questões do campo. Durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2023/24, o presidente da entidade, Aristides Veras dos Santos, disse que o programa anunciado não era o “ideal”, ficando abaixo das expectativas da confederação. Em sua fala, responsabilizou as altas taxas de juros do Banco Central.

Depois de Lula vetar o projeto de lei que estende por mais 4 anos a política de desoneração, 3 centrais sindicais assinaram uma carta conjunta criticando a decisão do petista. O episódio foi o que mais rendeu críticas e cobranças de diferentes entidades.

No texto divulgado, as centrais Força Sindical, UGT e CSB disseram“lamentar” a decisão do governo federal sobre a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia.

Procurada pelo Poder360, uma das centrais que assinou a nota, a CTB, afirmou que o governo Lula tem indicado “caminhos”, mas que ainda há “insuficiências”, em parte por conta da presença do Centrão no Congresso Nacional.

A entidade afirmou que o tom dos atos do 1º de Maio será no sentido de “fazer pressão” contra o “conservadorismo” do ministro Fernando Haddad (Economia) e para o governo cumprir as promessas de campanha.

À época do veto, a CUT também escreveu uma nota. A central não criticou a decisão do presidente, mas disse ser preciso que “todas as medidas que afetam a classe trabalhadora sejam amplamente discutidas e negociadas entre as partes envolvidas”.

Desde a campanha presidencial, em 2022, Lula vem defendendo revindicações dos povos indígenas, como a criação de um ministério voltado para a população, a demarcação de terras e a derrubada do PL (projeto de lei) que estabelece a tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

No entanto, desde o início do seu governo, líderes indígenas têm criticado a atuação de Lula na área. Em 2023, o governo do petista falhou ao tentar impedir que o Congresso Nacional aprovasse o PL do marco temporal.

Além disso, indígenas também têm reclamado da falta de demarcação de terras. Em 2023, o chefe do Executivo tocou no assunto, mas, para representantes da população indígena do país, como o cacique Raoni Metuktire, “não cumpriu o que prometeu”.

Conforme o Poder360 apurou, Lula não foi convidado para a edição deste ano do ATL (Acampamento Terra Livre), ato organizado pelo movimento indígena em Brasília. O petista foi nas edições anteriores do evento, em 2022 e em 2023.

Em notas oficiais, a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) acusou o governo de utilizar os direitos indígenas como “moeda de troca” com o Centrão. Em outras ocasiões, a entidade cobrou compromisso do presidente para vetar o projeto do marco temporal, aprovado no Congresso, e reclamou do número de terras indígenas demarcadas, abaixo do prometido por Lula.

Outra cobrança feita pelos movimentos ao governo Lula são os investimentos no orçamento da educação. Até 23 de abril, ao menos 29 instituições federais de ensino estavam com as aulas suspensas em decorrência da greve de professores no país.

No último sábado (27.abr), os sindicatos de professores e técnicos das universidades federais recusaram as propostas do governo e irão ampliar a greve nas próximas semanas. O governo tentou negociar com os profissionais um reajuste salarial de 9% em janeiro de 2025 e outro de 3,5% em maio de 2026.

Ao Poder360, a UNE (União Nacional dos Estudantes) afirmou que o governo Lula tem sua importância por ter superado o “fascismo”, mas que, para isso, teve que fazer um arco de alianças “bastante amplo”, o que faz com que o governo esteja em constante disputa.

De acordo com a entidade, é papel dos movimentos sociais e sindicais continuar nas ruas para que as promessas feitas por Lula durante a campanha sejam de fato cumpridas.

Algumas das reivindicações da UNE são que o Planalto receba cada vez mais os movimentos sociais, aumente o orçamento geral para a educação e mantenha e amplie o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o Prouni (Programa Universidade para Todos).

Uma das críticas da entidade é a política de deficit zero. Para a UNE, a medida que é uma “obsessão” do ministro Fernando Haddad não deve estar no centro da política do governo.

Fonte: Poder360

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