Alvo de atentado, Rússia é a maior inimiga do jihadismo

Forças de segurança patrulham entorno do Crocus City Hall, local do atentado terrorista reivindicado pelo Estado Islâmico nos arredores de Moscou
Forças de segurança patrulham entorno do Crocus City Hall, local do atentado terrorista reivindicado pelo Estado Islâmico nos arredores de Moscou — Foto: AFP

A Rússia foi o segundo alvo do terrorismo do grupo Estado Islâmico neste ano, depois do Irã, atacado no começo de janeiro. Ambos foram aliados do regime de Bashar al-Assad e do Hezbollah para combater essa organização terrorista na Guerra da Síria – paralelamente, os EUA e seus aliados curdos também lutaram contra os jihadistas. O Iraque integrou as duas coalizões.

Os russos historicamente são vistos como os maiores adversários do jihadismo islâmico. Isso começou ainda no Afeganistão, quando a então União Soviética lutou nos anos 1980 contra os mujahedeen apoiados pelos EUA. Esses mujahedeen viriam a se tornar o Taleban, no caso dos afegãos, e na al-Qaeda, no caso dos que vieram de outras regiões, como o saudita Osama bin Laden, fundador da rede terrorista.

A ofensiva militar da Rússia na Chechênia e no Daguestão nos anos 1990, que são regiões russas de maioria islâmica, intensificou esse sentimento de que Moscou seria o grandes adversário dos jihadistas. Uma série de atentados ocorreram ao longo das décadas. Para completar, Vladimir Putin foi o principal apoiador militar de Assad, líder de um regime laico, na Guerra da Síria. Já a oposição tinha como principais grupos armados os jihadistas do Jeish al-Islam, Estado Islâmico e Frente Nusrah (braço sírio da al-Qaeda).

Na Síria, a Rússia sempre foi vista como a grande defensora da minoria cristã síria, que em sua maioria apoia Assad, um alauíta não religioso. Cerca de 10% da população síria é cristã, sendo majoritariamente ortodoxa, como os russos. Existe inclusive uma crença em uma teoria da conspiração de que o Estado Islâmico seria apoiado por EUA, Israel e Arábia Saudita com objetivo de acabar com o cristianismo no Levante – não há nenhuma prova dessa ligação e os norte-americanos até hoje lutam contra o Estado Islâmico. A Rússia, segundo essa visão conspiratória, seria a única que enfrenta o jihadismo e protege os cristãos sírios.

Para ficar claro, o jihadismo do EI é o da vertente sunita, inimiga da corrente xiita do Hezbollah e do Irã, que são aliados de Moscou, mas adversários dos EUA e de Israel. O Hamas, embora sunita e com origem na Irmandade Muçulmana, possui uma aliança com o regime de Teerã e com Hezbollah. Na Guerra da Síria, no entanto, o grupo palestino apoiou a oposição síria e chegou a romper temporariamente com os iranianos e o grupo xiita libanês, aliados do regime de Damasco. Com o passar dos anos, voltaram a se aliar.

Bashar al-Assad e Vladimir Putin, no entanto, nunca perdoaram o Hamas. Até hoje o líder sírio evita qualquer forma de solidariedade ao grupo palestino na Guerra em Gaza, embora se mantenha como inimigo de Israel.

Fonte: O Globo

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