Além do caso de filha de Samara Felippo, escolas de elite de SP tiveram episódios recentes de discriminação

A atriz Samara Felippo
A atriz Samara Felippo — Foto: Reprodução/Instagram

Na semana passada, a atriz Samara Felippo denunciou um caso de racismo no colégio Vera Cruz, na Zona Oeste da cidade de São Paulo. A filha mais velha da artista, de 14 anos, teve o caderno pego por colegas, que arrancaram páginas e escreveram ofensas raciais. Além deste, outros casos recentes de discriminação aconteceram em colégios da elite da cidade. As controvérsias envolveram racismo e antissemitismo, e levaram à expulsão de alunos e até à demissão de um diretor.

No caso que envolveu Samara Felippo, o ato foi cometido por duas colegas da filha mais velha da atriz, que estuda no 9º ano do Vera Cruz. A escola suspendeu as estudantes por tempo indeterminado. Samara prestou depoimento em uma delegacia da região central da cidade nesta terça-feira (30) e conversou com O GLOBO sobre as denúncias. Ela afirmou que não foi a primeira vez que a filha foi alvo de racismo.

— É reincidente, é recorrente desde o ano passado, desde um episódio em que um carregador some e a acusada é a minha filha. Isso tudo são pequenas camadas do racismo que crianças pretas passam todos os dias veladamente — disse a atriz.

Em nota, o Vera Cruz informou que mediou um encontro entre as duas alunas que praticaram racismo e a filha de Samara.

— Os agressores foram informados das sanções definidas inicialmente, dentre elas, uma suspensão por tempo indeterminado[…] Novas sanções poderão ser adotadas, conforme apuração e reflexão sobre os fatos — disse o colégio.

No final de 2022, um grupo de pais do Colégio São Domingos, localizado no bairro de Perdizes, também na Zona Oeste, denunciou uma suposta omissão do então diretor da escola, Silvio Barini, após denúncias de discriminação. O caso foi revelado pelo site Ponte Jornalismo.

Os episódios envolviam práticas racistas entre alunos, como comentários sobre o cabelo de uma estudante negra e uma discussão durante uma aula. Nessa briga, uma das crianças disse uma jovem negra que ela “não precisaria se preocupar em ser vendida” nos países onde isso é uma prática, porque seria “feia”.

Pais acusaram a direção de não tomar as providências adequadas e de não realizar ações de combates à intolerância racial. Em março de 2023 a Associação Cultural São Paulo anunciou a demissão do então diretor do colégio após “desgastes no relacionamento (do diretor) com vários elos da comunidade escolar”.

Em março, um aluno judeu de 15 anos foi vítima de atos antissemitas realizados por três colegas, em uma escola na capital paulista. A Beacon School, colégio de elite com unidades nos bairros Alto de Pinheiros e Vila Leopoldina, suspendeu os autores, que desenharam símbolos e escreveram cânticos nazistas e antissemitas em seus cadernos.

O trio foi suspenso por tempo indeterminado. Uma investigação interna também foi instaurada e os pais dos alunos foram chamados na escola para uma reunião com a direção.

A escola afirmou que “repudia veemente toda e qualquer manifestação de ódio e destaca a sua firme posição contra qualquer forma de discriminação, tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar, seja ela relacionada à nacionalidade, etnia, religião, raça, gênero ou quaisquer outros aspectos”, disse a instituição, por meio de nota.

Após o episódio, a Beacon disse que ampliaria o foco no projeto pedagógico na formação contra ações discriminatórias e que convidaria as famílias e comunidade escolar para um grupo de trabalho sobre antissemitismo.

Segundo representantes da comunidade judaica que acompanha a questão em escolas paulistanas, os casos se tornam cada vez mais recorrentes:

— Não passa uma semana sem chegar ao nosso conhecimento algum incidente (de discriminação) — diz Jacques Griffel, diretor voluntário da Federação Israelita do Estado de São Paulo, que orienta escolas de elite com iniciativas voltadas ao combate do discurso de ódio.

Oito alunos foram expulsos do Colégio Vicente de Porto Seguro em Valinhos, no interior paulista, após um estudante negro de 15 anos denunciar mensagens racistas, machistas, gordofóbicas e xenofóbicas em um grupo de WhatsApp. O caso ocorreu em novembro de 2022.

Segundo o g1, o grupo de Whatsapp mencionado tinha referências a ditadores como o nazista Adolf Hitler e o fascista italiano Benito Mussolini.

O colégio afirmou na época que aplicou aos alunos envolvidos sanções disciplinares, como o desligamento imediato da escola, e disse também que reforçaria práticas antirracistas, de respeito à diversidade “para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa”.

Após o início do conflito entre Israel e Hamas, em outubro de 2023, a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP) criou um grupo com docentes de escolas, universidades e ligados a instituições como o Museu do Holocausto para combater a discriminação dentro das instituições de ensino básico.

— Levamos a escola a possibilidade de sugerir alterações no currículo ou atividades paralelas, como palestras com profissionais qualificados, como com sobreviventes do holocausto — diz Jacques, da FISESP, que conta que até o momento dez escolas de elite da capital paulista fazem parte da iniciativa.

— Chegam até nós episódios como alunos que desenha uma suástica na carteira do colega. 95% das vezes são casos entre crianças. São pessoas que tem que ser educadas e não punidas, a gente não acredita em expulsão — ele diz.

Griffel explica que a iniciativa visa conscientizar sobre todos os tipos de discriminação — não apenas casos envolvendo membros da comunidade judaica, mas discurso contra o ódio, racismo, xenofobia, antissemitismo e islamofobia.

Fonte: O Globo

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