‘Abstinência total’: Mãe e irmão de Djidja estariam ‘voltando à realidade’ em meio a crises na prisão, diz defesa

Vítimas de seita sofreram estupro e foram mantidas em cárcere privado
Vítimas de seita sofreram estupro e foram mantidas em cárcere privado — Foto: Reprodução/Redes sociais

Ademar e Cleusimar Cardoso, irmão e mãe da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, estão sofrendo graves crises de abstinência na prisão, de acordo com o advogado da família. Os dois foram presos na última quinta-feira, após a morte de Djidja, investigada como possível overdose. Ao GLOBO, a defesa afirmou que os dois têm passado mal por falta da droga quetamina, que era usada compulsoriamente pela família.

De acordo com o advogado Vilson Benayon, Ademar e Cleusimar estariam retomando consciência, após uma semana de cumprimento da prisão preventiva. Além disso, a defesa afirma ter solicitado acompanhamento de um assistente clínico psiquiátrico para os dois, enquanto estão presos.

— Eles estão sendo avaliados pela equipe médica, tendo crise direto. Estão em abstinência total. Agora que estão voltando à noção da realidade, eles não tinham qualquer noção de tempo. Eles não lembram nem que dia foram presos, têm apenas memórias esparsas — afirmou o advogado, ao GLOBO.

Os dois foram presos por envolvimento com tráfico de drogas e, para Ademar, também há uma denúncia por estupro. Os mandados de prisão também foram expedidos contra três funcionários da rede de salões Belle Femme, comandada pela família.

Segundo o delegado, ao longo das operações nas unidades da rede, foram encontrados centenas de seringas, algumas prontas para serem usadas, além de doses da quetamina, um alucinógeno. Conforme a investigação, grande parte do faturamento dos salões Belle Femme era direcionado para alimentar o vício.

De acordo com Benayon, a mãe e o irmão da ex-sinhazinha não foram ouvidos durante a audiência de custódia, que ocorreu na última sexta-feira. Ambos não estavam em condições de dar depoimento no momento da prisão, muito alterados pelo uso de drogas.

— Pedimos o toxicológico e a internação compulsória dos dois em uma clínica de reabilitação. Eles foram atendidos na enfermaria do complexo prisional em crise de abstinência. Ontem estavam de um jeito, hoje estão de outro. O que eles têm é uma patologia, a prisão os salvou da morte — disse o advogado.

Segundo a defesa, Cleusimar e Ademar estavam em estado de insanidade mental, já que não teriam qualquer noção da realidade enquanto estavam sob efeito da droga. Ainda conforme o advogado, não havia venda dos medicamentos por parte da família, eles apenas adquiriam as drogas para uso próprio.

Djidja Cardoso era investigada pela Polícia Civil do Amazonas por fazer parte dessa seita com a família. Após a prisão, a mãe e o irmão disseram à defesa que chegaram ao estágio atual de vício em menos de um ano de uso. Eles obrigavam funcionários de uma rede de salões de beleza a consumirem quetamina.

Batizada de “Pai, Mãe, Vida”, a seita criada por Cleusimar e Ademar, tinha forte cunho religioso. De acordo com a polícia, os três acreditavam ser, respectivamente, Maria Madalena, Maria e Jesus Cristo.

— A morte tem peculiaridades, principalmente pela possibilidade de uso de fármacos psicotrópicos. Há a possibilidade de ter havido um abuso que levou ao óbito dela (…) Não trabalhamos ainda com a hipótese de homicídio. Para que eu possa dizer que teve uma morte violenta e um homicídio, preciso de elementos de autoria. É o que estamos levantando — explica o delegado Daniel Antony, da Delegacia de Homicídios.

As investigações tiveram início a cerca de 40 dias, e a droga era obtida de forma irregular em uma clínica veterinária. Vítimas relataram aos policiais terem sido dopadas e mantidas em cárcere privado. A morte da mulher foi o estopim para o início das operações contra a organização, segundo disse o delegado Cícero Túlio, durante uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira.

— Eles utilizavam (a droga) para entrar nessa espécie de transe, para, segundo eles mesmos relataram, transcenderem para outra dimensão — explica o delegado Cícero Túlio. — Diversas pessoas já foram ouvidas no decurso da investigação. Duas pessoas relataram fatos criminosos que levam a crer na possibilidade prática de estupro de vulnerável. Inclusive, com a possibilidade de ter acontecido um aborto com uma dessas garotas.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.