A todas que me antecederam e a todas que ainda virão

Mulheres negras protestando contra o racismo
Articulista afirma que sem a força das mulheres que lhe serviram de exemplo, certamente não teria condições de enfrentar a violência política de gênero, a discriminação e o assédio; na imagem, manifestação pelos direitos das mulheres

Há exatos 3 anos, escrevi uma carta destinada às meninas que estavam chegando ao mundo naquele dia. Hoje, gostaria de me reconectar-me com elas e, também, de honrar todas as mulheres que me antecederam.

Começando por minha mãe Reni e minhas avós Elza e Lisete, que me formaram e me serviram de exemplo para ser a mulher que sou hoje. Sem a força e a determinação delas eu certamente não teria condições de enfrentar a violência política de gênero, a discriminação e o assédio aos quais estou cotidianamente exposta pela minha simples condição de ser mulher. Suas batalhas pavimentaram meu caminho, mas não só.

Graças a luta do movimento pelo sufrágio feminino no Brasil e de mulheres como Bertha Lutz, hoje posso exercer o direito de votar e ser votada. Assim como, graças ao grande trabalho da chamada “bancada do batom” e de minhas colegas congressistas constituintes, que garantiram, em 1988, a igualdade jurídica entre mulheres e homens, bem como a expansão dos nossos direitos civis, sociais e econômicos, hoje, temos garantida a licença maternidade de 120 dias.

Expresso minha mais profunda gratidão a todas essas mulheres e, por meio delas, reconheço que nossas questões, lutas e conquistas não são individuais. As distintas violências de gênero, a desigualdade salarial, a divisão das tarefas profissionais de acordo com o gênero, as diversas formas de abuso são barreiras, nem sempre visíveis, que afastam nós mulheres das tomadas de decisão e fortalecem a desigualdade.

Com as meninas que nasceram quando escrevi a 1ª carta, assumo o compromisso de dedicar minha vida para ser elo entre as conquistas alcançadas pelas mulheres que vieram antes de mim e a luta pelos seus direitos. Seguirei trabalhando incansavelmente para garantir que nenhuma mulher precise enfrentar as mesmas dificuldades que eu enfrentei.

Quando apresentei um projeto sobre o combate à pobreza menstrual, fui ameaçada de morte e recebi ódio na internet, mas hoje é lei: toda estudante que precisar tem direito ao absorvente. Graças ao nosso trabalho sério, mães solteiras e crianças de 0 a 6 anos recebem mais recursos do Bolsa Família. Tivemos grandes avanços na legislação sobre violência contra a mulher e, pela 1ª vez na história, estamos construindo consenso em torno de um texto sobre a licença-paternidade, beneficiando mulheres, homens, crianças e famílias.

Apesar dessas conquistas nacionais, o Brasil está muito longe de um ideal de igualdade de gênero e quando olho especialmente para a cidade de São Paulo percebo que as políticas de segurança, urbanismo, mobilidade, habitação e ampliação de renda, para dar só alguns exemplos, ainda excluem mulheres e pessoas negras.

Meu desejo é que toda criança, ao nascer, tenha assegurado seu direito de sonhar e de se desenvolver plenamente, que sua saúde e bem-estar estejam garantidos desde o pré-natal; que seus cuidadores, que em sua maioria são mulheres, tenham acesso a trabalho digno, proteção social e segurança. Que possam crescer de forma saudável, independentemente da loteria do CEP, da raça e do gênero.

Que tenham acesso a esporte, lazer e cultura. Que suas casas estejam integradas ao sistema de esgoto sanitário e à água de qualidade, que suas ruas estejam limpas e iluminadas, que o zigue-zague interminável no ônibus não seja necessário para os deslocamentos cotidianos.

Como a cidade dos sonhos pode se tornar realidade? Perseguir metas de desenvolvimento que melhorem a qualidade de vida de nossas meninas e mulheres nos dá uma pista de como transformar a vida de todos que escolheram São Paulo para viver e empreender.

Pois uma cidade em que as mães consigam dormir tranquilas sabendo que suas filhas e filhos voltarão seguros para casa, que no dia seguinte todas as refeições estarão na mesa, e que seu acesso a saúde e educação de qualidade é garantido, é uma cidade boa para todos.

A igualdade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, é imperativo para o progresso de toda a sociedade.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, meu desejo é simples: quero contribuir para que São Paulo seja uma cidade em que as meninas possam sonhar sem limites.

Fonte: Poder360

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