A função social do Banco Central

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, em maio deste ano

Desde que precisou aumentar a Selic para lidar com o processo inflacionário que o Banco Central vem sendo alvo de críticas e atenção. Por isso, suas decisões precisam ser cada vez mais precisas, pois interferem diretamente na estabilidade econômica do país, apesar de essa não ser a missão primordial da instituição. Deve-se salientar que a missão do BC não é garantir a atividade econômica, e sim perseguir a meta de inflação –o que vem fazendo brilhantemente.

Quando a inflação começou a avançar em ritmo preocupante ao nível global, o Banco Central do Brasil foi o pioneiro no ajuste dos juros para conter que se perpetuasse. Na época, houve pressão política para que a alta fosse interrompida. No entanto, o tempo provou que a firmeza do BC foi a decisão mais acertada, visto que muitos países seguiram esse movimento pouco tempo depois.

Sentindo os efeitos dos juros mais altos, a demanda começou a desacelerar e o nível de preços a se ajustar. Guiado por dados e teoria econômica, não populismo governamental, o Banco Central acreditou ser o momento certo para conter os juros e iniciar o processo de cortes, seguindo por esse caminho durante 7 reuniões.

Contudo, esse caminho precisa se ajustar à realidade. Ao observar as incertezas domésticas e internacionais, a autarquia decidiu reduzir a velocidade dos cortes na penúltima reunião, sendo novamente uma decisão técnica e exercendo sua independência política. Já na última reunião, a decisão unânime foi pela interrupção dos cortes, mantendo a meta para a Selic em 10,5%, o menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25%.

Apesar das consequências para a atividade econômica brasileira, essa foi uma decisão necessária. O BC precisa ter cautela com o momento fiscal indefinido do país, com a dúvida se o planejamento para as contas públicas será cumprido, o que deveria ser a principal preocupação do governo, pois ele precisa fazer a sua parte caso deseje que o Banco Central retorne os cortes nos juros.

Além disso, o nível de preços vem ficando acima do esperado pelo mercado, com os serviços ainda pesando na inflação. As expectativas inflacionárias ainda não estão totalmente ancoradas, o que torna impossível novos ajustes na Selic no momento.

Espera-se que novos cortes sejam feitos apenas no ano que vem. O mais importante é ancorar as expectativas inflacionárias primeiro, dado que a missão principal do Banco Central é perseguir as metas estabelecidas para a inflação, e para isso precisa passar credibilidade para o mercado de que esse trabalho será feito.

A situação internacional também não está definida, com o Fed postergando mais uma vez o ajuste dos juros no país. Muitos analistas apostaram que o corte começaria no início do ano, fazendo com que perdessem dinheiro com essa espera. Com a interrupção no corte da Selic, é possível que a volatilidade do câmbio reduza, pois se terá maior confiança no Brasil. Contudo, dólar e juros em níveis altos podem ser considerados o novo normal. Somente a ausência de incertezas fiscais e o começo das quedas das taxas de juros norte-americanos poderão alterar esse novo normal.

A manutenção da Selic em 10,5% afetará o mercado de crédito e será sentida por quem recorre a esses recursos, freando a demanda e atividade econômica. Porém, ter que lidar com a inflação alta é um cenário bem pior, ainda mais para um país que passou por um período de hiperinflação e sabe exatamente o quanto o poder de compra é importante. A função social do Banco Central é justamente estabilizar os preços na economia.

Fonte: Poder360

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