8 de março: um quarto das vítimas de feminicídio em 2023 tinham filhos dependentes, mostra levantamento

Mais de 60 mulheres foram mortas vítimas de feminicídio em 2022
Mais de 60 mulheres foram mortas vítimas de feminicídio em 2022 — Foto: Hermes de Paula

Os números alarmantes de feminicídio no país têm produzido milhares de outras vítimas ao longo dos anos. Em 2023, 692 crianças ou adolescentes perderam suas mães para a violência contra a mulher. O número é referente a 400, ou 23%, dos 1.706 casos de feminicídio identificados. Além disso, em 2,4% dos casos a mulher estava grávida, o que em alguns casos acaba por ser uma das motivações para o feminicídio.

Os números constam o primeiro relatório do o Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), uma iniciativa do Laboratório de Estudos de Feminicídio (Lesfem) da UEL em conjunto com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). O levantamento leva em conta a classificação de notícias a partir de ferramenta desenvolvida pelo Data + Feminism Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

O assunto já despertou preocupação no Palácio do Planalto, que lançou no ano passado uma pensão especial no valor de um salário mínimo, hoje R$ 1.320, para filhos e dependentes de vítimas do feminicídio. A lei, no entanto, ainda está em processo de implementação e nenhum valor foi repassado.

Ao sancionar a lei que garante o pagamento o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Estado tem que assumir a responsabilidade de cuidar das crianças, já que não conseguiu cuidar da mulher que foi vítima.

— É preciso garantir que as pessoas que são vítimas da violência não tenham os seus filhos abandonados pelo estado. Se o estado não cuidou da pessoa e permitiu que ela fosse vítima, o estado precisa pelo menos assumir a responsabilidade de cuidar das crianças — afirmou, em outubro do ano passado.

Levantamentos como o feito pelo Lesfem, da UEL, têm apontado dimensões maiores da violência contra a mulher do que os dados oficiais, em razão da subnotificação. O cenário piora quando o recorte foca nos órfãos do feminicídio.

Silvana Mariano, coordenadora do estudo, destaca que os órfãos revelam uma nova face da crueldade da violência contra a mulher. Muitas vezes essas crianças são usadas pelos agressores como forma de controlar, chantagear e punir as mulheres, e em alguns casos os dependentes se tornam vítimas diretas da violência.

Além disso, em muitos desses casos, o dependente acaba ficando sob a responsabilidade do agressor ou de seus familiares.

— A família materna fica com um volume de problemas muito grande para lidar, além da perda da própria mulher. Se for uma sobrevivente, há ainda o processo de readaptação. É muito para conciliar com uma disputa de guarda — disse Mariano.

O relatório mostra ainda que em 2023, 261 casos de feminicídio ocorreram na presença dos filhos ou mães das vítimas, o que representa 15% do total dos casos de mortes registadas. Já nos casos de homicídio tentado, 18,52% foram testemunhados por esses familiares — 988 mulheres sobreviveram à violência. Com isso, adiciona-se à violência da mulher a camada do trauma gerado nas crianças e jovens.

— Uma outra invisibilidade é a situação da vítima de sobrevivente de feminicídio, que impacta no exercício da maternidade. Mesmo a criança com a mãe que sobreviveu, elas precisam estar em uma rede de proteção que dê a atenção para quem está lidando com esse tipo de violência — destaca a pesquisadora.

Fonte: O Globo

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