50 anos do golpe no Chile: Boric e ex-presidentes assinam compromisso pela democracia

Imagens de presos políticos desaparecidos durante a ditadura militar chilena são projetadas na fachada do Palácio de La Moneda
Imagens de presos políticos desaparecidos durante a ditadura militar chilena são projetadas na fachada do Palácio de La Moneda — Foto: Javier TORRES / AFP

O governo de Gabriel Boric e quatro ex-presidentes chilenos comprometeram-se, nesta quinta-feira, a “defender a democracia das ameaças autoritárias”, quatro dias antes do 50º aniversário do golpe de Estado no Chile. Os ex-presidentes de centro-esquerda Eduardo Frei [1994-2000], Ricardo Lagos [2000-2006] e Michelle Bachelet [2006-2010/2014-2018], e o ex-mandatário de centro-direita Sebastián Piñera [2010-2014/2018-2022], assinaram, ao lado de Boric, o chamado “Compromisso pela democracia”, de acordo com o documento divulgado pelo Palácio de La Moneda.

“Queremos preservar e proteger esses princípios civilizatórios das ameaças autoritárias, da intolerância e do desprezo pela opinião do outro”, diz o texto.

A oposição de direita também foi convidada a aderir ao compromisso, assim como a participar da cerimônia oficial no dia 11 de setembro, mas recusou o convite. A direita alega a possibilidade de um “ambiente hostil”, devido às acusações de promover discursos negacionistas em relação à ditadura, que foi uma das mais sangrentas da América Latina e terminou em 1990. Mais de 3.200 pessoas foram mortas ou são consideradas desaparecidas. Exceto pelo ultraconservador Partido Republicano, as forças de direita emitiram sua própria declaração na quarta-feira, na qual pediram o fortalecimento da democracia.

“Não podemos estar constantemente implorando a partidos políticos democráticos que adotem um compromisso tão simples, que foi elaborado precisamente com a intenção de que todos o assinem”, disse o presidente Boric nesta quinta-feira.

Aos 37 anos, Boric é o presidente mais jovem do Chile e o único nascido após a ditadura, entre os que lideraram o país após o fim do regime militar. O presidente chileno enfrenta a baixa de popularidade de seu governo e uma onda ultraconservadora que não para de crescer e estimula versões revisionistas da história do país que negam crimes cometidos pela ditadura. Uma pesquisa recente da Mori Consultores revelou que apenas 42% dos chilenos consideram que o ditador Augusto Pinochet (1973-1990) destruiu a democracia do país. Há dez anos, o percentual era de 63%, e em 2006, ano da morte de Pinochet, atingiu 68%.

“Não se trata apenas de mais uma declaração, trata-se de um compromisso com o futuro. Essas discussões acabam afastando a população do que é realmente importante, que é a valorização da democracia”, acrescentou o presidente.

Boric buscou selar um compromisso semelhante ao assumido pelos ex-presidentes uruguaios e pelo atual presidente Luis Lacalle Pou, que, no 50º aniversário do golpe de Estado no Uruguai, concordaram com o lema muito celebrado “nunca mais” e participaram juntos de diversos eventos.

Fonte: O Globo

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