Venezuela: exportadores brasileiros se preparam para retomada do comércio com o país sem sanções

Imagens do falecido presidente Hugo Chávez e Simon Bolívar acima de um mural com bombas de petróleo em Caracas
Imagens do falecido presidente Hugo Chávez e Simon Bolívar acima de um mural com bombas de petróleo em Caracas — Foto: Carolina Cabral/Bloomberg

Antônio Carlos Oliveira mora em Curitiba (PR) e viaja de duas a três vezes por ano à Venezuela. Suas relações com aquele país têm mais de 20 anos. Hoje, ele importa minérios e exporta tubos de PVC e conexões ao mercado venezuelano. Também intermedeia negócios para facilitar a venda de produtos brasileiros para a Venezuela.

No entanto, seu faturamento não chega ao que era até 2013, quando teve início uma crise econômica por lá que ganhou proporções ainda maiores em 2015, quando o país passou a alvo de sanções aplicadas pelos EUA. Mas Oliveira ainda insiste no mercado e agora está otimista.

Ele e muitos outros empresários brasileiros que pararam ou reduziram suas vendas ao mercado venezuelano, porque deixaram de receber pelos produtos, estão animados com o acordo entre o presidente Nicolás Maduro e opositores, firmado há cerca de um mês, que tem por objetivo garantir eleições livres, justas e transparentes em 2024. Em contrapartida, os EUA já anunciaram a suspensão parcial das sanções.

Foram suspensas, temporariamente, sanções sobre o petróleo, gás e ouro venezuelanos, produtos que levavam divisas à economia do país. Com mais dólares, a expectativa é que os venezuelanos aumentem suas importações, já que o país não produz uma série de produtos e alimentos. Em troca, os americanos pediram o fim das inabilitações de políticos e a libertação dos presos políticos na Venezuela.

— A liberação das sanções econômicas e as eleições com candidatos legítimos de centro-direita e direita serão saudáveis ao país e ao povo venezuelano. Nós, empresários, precisamos de um ambiente mais seguro economicamente, onde tenhamos bancos locais que estejam integrados ao Swift (sistema financeiro criado por americanos e europeus) — diz Oliveira, alertando que o Brasil não pode perder espaço para outros países, como China, Rússia e Turquia.

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Tatiana Prazeres, ressalta que a Venezuela foi o 9º maior destino das exportações brasileiras em 2014, com US$ 4,57 bilhões em compras. Os principais produtos exportados foram alimentos, como carnes, açúcar e leite, além de construções pré-fabricadas, pneumáticos, máquinas agrícolas e siderúrgicos.

Naquele ano, a Venezuela representou 2,1% das exportações brasileiras. Se mantivesse hoje essa participação, seguiria sendo o 9º destino de vendas do Brasil, à frente de países como Japão, Alemanha, Coreia do Sul e Canadá. No entanto, em 2023, o mercado venezuelano foi o 47º maior destino das exportações brasileiras, com participação de 0,4%.

— A recuperação da renda da Venezuela é fundamental para que o país volte a ser um dos principais destinos das exportações brasileiras, principalmente de alimentos e produtos industrializados — afirma Tatiana.

O presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil, José Francisco Marcondes, diz não ter dúvidas de que os negócios serão retomados. Ele acredita que os principais setores a se beneficiar são os de alimentos, bens de capital e metalurgia.

— A complementariedade entre as economias dos dois países, que permitiu um fluxo de comércio muito forte há alguns anos, é evidente e teremos grandes oportunidades comerciais, nos próximos meses — afirma Marcondes. — Restam, ainda, restrições ao uso do sistema Swift, no âmbito das sanções, que esperamos sejam retiradas em curto prazo.

José Veloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), destaca que as exportações do setor para a Venezuela chegaram a 6% do total, e as vendas tendem a se recuperar. Mas, para ele, o fim das sanções não é o único caminho, pois a economia venezuelana precisa melhorar.

— Nossos principais produtos vendidos para a Venezuela são máquinas para embalagens da indústria de alimentos, agricultura, petróleo, gás, mineração e siderurgia — relata.

Luis Fernando Baracho, professor de Relações Internacionais e Direito Internacional na São Judas Tadeu, acredita que existe uma oportunidade, mas destaca que a Venezuela não sofre apenas por causa dos embargos econômicos. Ele lembra que a infraestrutura do país é precária, e a renda per capita, a menor da América do Sul:

— É possível dizer que o Brasil possui uma oportunidade de ampliar uma presença que já existe no mercado de alimentos, em especial no setor de proteína animal, porém há limites, como a estrutura aduaneira precarizada, a reduzida renda per capita do país e a insegurança sobre o futuro da relativização dos embargos — diz Baracho.

No entanto, há dúvidas sobre se Maduro cumprirá o acordo. Até o momento, foram liberados apenas cinco dos cerca de cem presos políticos. Além disso, a pessoa que tem o nome mais forte da oposição para disputar a eleição, Maria Corina Machado, está inelegível.

Fonte: O Globo

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