Uma ausência nas agendas de Lula

A desaceleração começa a entrar, pouco a pouco, no debate econômico, pauta introduzida pelo próprio governo, enquanto o Legislativo está debruçado sobre iniciativas que só farão diferença, se fizerem, num futuro distante. Logo logo, as manchetes gritarão que se aprovou a reforma tributária, mas acordaremos no dia seguinte e o problema imediato estará igual a quando fomos dormir: como escapar do atoleiro da mediocridade?
Onde estamos, sabemos. O Ministério da Fazenda precisa buscar alguma disciplina fiscal para mostrar ao mercado que a política econômica é confiável. O Congresso persegue firmemente a execução de suas emendas, o combustível para eleger prefeitos e vereadores que farão campanha para suas excelências dali a dois anos. E o Planalto não abre mão de gastar e investir.
O resultado prático é a agenda econômica ter girado neste terminal 2023 quase apenas em torno de mais arrecadação para o governo federal. Segundo o pensamento hegemônico na Brasília de agora, se o governo investir, estimulará o investimento privado. Claro que ao útil une-se o agradável: governos com capacidade de investimento, e, portanto, de impulsionar negócios, têm mais bala na agulha para atrair apoios políticos, na sociedade e no Congresso.
Vai funcionar? Ainda é cedo, mas desde sempre falta uma perna na estratégia governamental. E o investimento privado? O que o governo tem feito para estimulá-lo, além da fé em que ele virá a reboque do Estado? É notável que, em seu 1º ano no 3º mandato, Luiz Inácio Lula da Silva não tenha repetido o que costumava fazer nos 2 primeiros: o maior ausente em suas agendas, viagens e preocupações parece ser o capital.
Juro alto e cenário de provável aumento de impostos não chega a ser propriamente um estímulo ao investimento. Lula é célebre pela convicção de que o consumo puxa o investimento, e portanto deve se preocupar mais com o 1º que com o 2º. Daí a firmeza em redistribuir renda por meio do Estado e a energia dispendida em buscar aumentar a arrecadação de impostos, também para turbinar políticas públicas. Não é uma linha que costume alavancar saltos no crescimento e desenvolvimento, mas também nisso Lula é beneficiado pelo zeitgeist.
Crescimento e desenvolvimento saíram de moda por aqui.
E tem um fator adicional. Sergio Massa faz um 2º turno competitivo na Argentina, mesmo tendo sido o ministro da Fazenda de uma economia longe de brilhante, ao contrário. Ali o “é a economia, estúpido” precisa ser visto de um ângulo mais sofisticado que o habitual. Para manter-se no poder, atender bem a clientela é sempre um recurso prudente quando não se consegue proporcionar prosperidade à sociedade em geral.
Para ganhar uma eleição em 2º turno bastam 50% mais um dos votos válidos.
O ótimo é inimigo do bom, e Lula parece buscar, antes de tudo, manter a maioria que o elegeu enquanto constrói com cargos e verbas um colchão protetor no Legislativo –sempre uma fonte potencial de problemas. Por enquanto, já que a progressiva corrosão na popularidade caminha bem devagar, a operação está rodando a contento.
Fonte: Poder360