Suspeito diz à PF que ‘chefe’ ligado ao Hezbollah queria que ele montasse ‘células criminosas’ na América do Sul

Depoimentos colhidos pela Polícia Federal no âmbito da Operação Trapiche mostram que houve uma tentativa de recrutamento de brasileiros por pessoas ligadas ao Hezbollah. O objetivo seria a criação de “células criminosas” na América do Sul e a identificação de potenciais alvos considerados como “desafetos” do grupo extremista libanês.
Em relato dado à PF na última sexta-feira, um homem afirmou que viajou a Beirute, capital do Líbano, para se encontrar com um “chefe” do grupo identificado como Stefano. Este teria lhe dito que queria montar “células criminosas” na América do Sul, que o “trabalho proposto” seria “matar desafetos deles” e que estava atrás de “recrutadores”.
Em uma lousa, Stefano teria indicado os países – Bolívia, Equador e Colômbia – onde ele deveria localizar os tais alvos a serem abatidos. “Na Colômbia [o alvo] seria um chefe de uma facção que tinha roubado o Stefano por isso deveria ser eliminado”, explicou ele na transcrição do depoimento. Para executar a missão, seria dado a ele “toda a estrutura e dinheiro necessário” e as armas compradas deveriam ser adquiridas no Paraguai.
O chefe do grupo terrorista teria lhe feito uma oferta inicial de US$ 200 mil com um bônus de US$ 500 mil, caso ele aceitasse o serviço. Ao fim do encontro, Stefano lhe entregou US$ 5 mil em notas de cem e lhe falou para “fazer bom uso do dinheiro” e “tomar a decisão”. À PF, o suspeito afirmou que “não cometeu qualquer crime” e que retornou ao Brasil sem dizer “sim” ao tal líder.
O depoente foi alvo de um mandado de busca e apreensão cumprido, em Goiás, na última sexta-feira. Ele tem antecedentes criminais. Foi preso três vezes e respondeu a um processo por receptação e outro por sequestro.
O depoimento dele guarda semelhanças com o de outro alvo da PF que foi ouvido no Distrito Federal, em 8 de novembro. Os dois foram ameaçados de morte caso contassem sobre o que ouviram em Beirute e foram instruídos a tirar fotos de locais turísticos na capital libanesa para o caso de serem inquiridos sobre o motivo da viagem internacional.
Os dois alvos também relataram ter ido ao Líbano sem saber que se encontrariam com pessoas ligadas ao Hezbollah. Eles teriam concluído que se tratava do grupo extremista só depois que voltaram ao Brasil. O homem ouvido em Goiás disse ainda que viu a insígnia do Hezbollah na roupa de pessoas que estavam na reunião em Beirute. O emblema foi mostrado a ele durante o depoimento.
Segundo a coluna de Bela Megale, as oitivas tomadas até agora pela PF indicam que o Hezbollah almejava formar uma rede de mercenários no Brasil, mas sem vínculos ideológicos com o movimento radical libanês.A rede seria constituída pelo que os investigadores chamam de “proxies”, que são uma espécie de “terroristas por procuração”.
Na última semana, a PF deflagrou a Operação Trapiche na qual cumpriu três mandados de prisão temporária em São Paulo e Rio de Janeiro e 12 de busca e apreensão nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Rio. Na ocasião, a PF informou, em nota, que a ação visava a “interromper atos preparatórios de terrorismo e obter provas de possível recrutamento de brasileiros para a prática de atos extremistas no país”.
Fonte: O Globo