Em meio a um dos períodos mais severos de seca da história do Amazonas, a estudante Zahyra Helena Garrido Ipuchima, de 18 anos, se prepara para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros processos seletivos importantes. Natural da Comunidade do Tumbira, situada a cerca de uma hora e meia de barco de Manaus, Zahyra é uma das mais de 747 mil pessoas impactadas pela grave estiagem que assolou a região em 2024, superando o número de atingidos no ano anterior.
Devido à seca, que dificultou o acesso à sua comunidade, Zahyra optou por se mudar temporariamente para Novo Airão, onde está hospedada na casa de parentes.
— Esses dois meses são os mais intensos para as provas pré-vestibular. Por isso, decidi vir um mês antes para garantir que não perderia as avaliações —, explica a jovem.
Apesar da distância, a comunidade onde Zahyra reside não ficou totalmente isolada. Os ribeirinhos ainda conseguem se deslocar utilizando canoas tipo rabeta, pequenas embarcações com motor de popa acoplado.
Atualmente no terceiro ano do ensino médio, Zahyra concluiu seus estudos por meio do modelo presencial com mediação tecnológica. O projeto utiliza a tecnologia para levar educação a comunidades remotas, com aulas transmitidas em teleconferência. O programa foi implementado pelo governo estadual do Amazonas em 2007.
A ferramenta ajuda estudantes como Zahyra desde o período pandêmico da COVID-19 e, agora, durante os dois anos consecutivos de seca.
Zahyra está ansiosa para sua primeira experiência no ENEM. À medida que o dia das provas se aproxima, seu nervosismo aumentou. No entanto, ela tentou manter a calma e focar na preparação.
— Minha maior expectativa é a redação. Tenho me preparado bastante não apenas para o ENEM, mas também para outras provas de vestibular. Estou treinando muito redação. Ela é fundamental e pode garantir uma boa pontuação —, afirma.
A jovem utiliza a internet como aliada em seus estudos. Com acesso a plataformas online pagas e recursos gratuitos como o YouTube, Zahyra pratica redação e questões no formato do ENEM.
— Apesar das dificuldades, estudar em casa é a melhor opção pra mim. Aqui reviso tudo que aprendi na escola e nos cursos pagos — , diz ela.
Mesmo longe da escola física, Zahyra mantém contato constante com as aulas. Os professores compartilham conteúdos via grupos de WhatsApp, permitindo que ela acompanhe os exercícios e permaneça ativa nas atividades escolares. Essa medida foi adotada para evitar prejuízos ao ano letivo dos alunos devido à seca.
Em 2024, o Amazonas registrou 46.683 estudantes concluintes do ensino médio na rede pública inscritos no ENEM, representando 90,48% do total desses alunos. O Ministério da Educação (MEC) aplicará as provas nos dias 3 e 10 de novembro em cerca de 10 mil locais em todo o Brasil.
Fonte: O Globo