Nova pesquisa do Datafolha revela a persistência de um tríplice empate na liderança da corrida eleitoral em São Paulo, que registra sua disputa mais acirrada desde a redemocratização. Guilherme Boulos (PSOL) está numericamente à frente, com 23% das intenções de voto, seguido por Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB), ambos com 22%.
Esta é a primeira vez em quase quatro décadas que a maior cidade do país chega a um mês do pleito com três candidatos tecnicamente empatados na dianteira. Há quatro anos, por exemplo, a diferença entre o líder Celso Russomanno (Republicanos) e o terceiro colocado, Boulos, chegava a 15 pontos à mesma altura da disputa. A menor diferença entre os dois primeiros até então havia sido registrada em 2004, com José Serra (PSDB) quatro pontos percentuais à frente de Marta Suplicy (PT), hoje vice do psolista.
Nenhum dos líderes variou nas últimas duas semanas para além da margem de erro, estimada em três pontos percentuais para mais ou menos. Mas as sutis oscilações foram celebradas com mais entusiasmo pela campanha do candidato à reeleição: Nunes havia oscilado para baixo entre a primeira e a terceira semana de agosto, mas agora inverteu a curva e viu sua taxa de menções variar três pontos para cima. Boulos não se moveu em relação ao levantamento anterior, enquanto Marçal viu seu crescimento desacelerar e, agora, oscilou só um ponto.
Os resultados indicam o saldo dos primeiros dias da propaganda eleitoral que começou a ser veiculada na sexta-feira. Único entre os líderes da disputa que não tem direito a espaço no rádio e na TV, Marçal viu sua rejeição imbicar para cima diante dos ataques de seus adversários, o que ajuda a explicar o freio no ritmo de crescimento do ex-coach. São 38% os que dizem “não votar de jeito nenhum” no candidato do PRTB, taxa que era de 34% há duas semanas e de 30% um mês atrás.
Adversários avaliam que Marçal atingiu um “teto” de intenções de voto e atribuem sua desaceleração a uma alegada falta de traquejo do ex-coach em apresentar propostas concretas. Já na campanha do PRTB, a leitura é que Marçal ainda tem potencial para subir e conseguiu consolidar seu eleitorado mesmo sob ataques de todos os lados.
Um dos segmentos mais fortes dessa fortaleza marçalista até aqui é o de eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que oficialmente apoia Nunes. Segundo o Datafolha, 48% dos paulistanos que escolheram Bolsonaro em 2022 agora optam pelo voto em Marçal (eram 46% na sondagem anterior), enquanto Nunes é escolhido por 31% desse segmento (um ponto a mais que há duas semanas).
O candidato à reeleição, dono do maior tempo de exposição no horário eleitoral, tem se valido do espaço nas telas para apresentar seu histórico e destacar marcas de sua gestão, ao mesmo tempo em que concentra ataques a Marçal nas inserções no rádio e ensaia uma guinada mais acentuada à direita em seus discursos. A recuperação do prefeito na nova pesquisa, ainda que apenas em termos numéricos, dá um respiro para sua campanha, que vinha sendo criticada internamente por partidos aliados.
A oscilação positiva é puxada pela população mais pobre, cerca de um terço do eleitorado. No grupo de renda mensal de até dois salários mínimos, Nunes passou de 18% para 28% das menções, ficando à frente de Boulos (19%) e Marçal (17%). Dentre os menos escolarizados, os números também foram positivos para o emedebista, que foi de 25% para 31% das menções dos que cursaram só o ensino fundamental.
O GLOBO apurou que a campanha de Nunes deve reforçar a estratégia em defesa de um “voto útil” para evitar os riscos de uma vitória de Boulos, assim como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já vinha dizendo na TV. O Datafolha mostra que o emedebista supera tanto o candidato do PSOL quanto o do PRTB em simulações de segundo turno, enquanto o ex-coach hoje seria derrotado pelo nome apoiado por Lula.
Enquanto a dupla Nunes e Marçal disputa espaço à direita, Boulos até o momento navega tranquilo no lado oposto do espectro ideológico. O candidato tem adaptado seu discurso para reduzir a pecha de “radical” que os adversários tentam colar nele.
A campanha do psolista tem explorado a imagem da candidata a vice, Marta Suplicy, e o apoio de Lula para reter a preferência dos eleitores mais identificados com o petismo. De acordo com a nova pesquisa, porém, não houve avanços nesse campo. Boulos era escolhido por 44% dos eleitores que votaram em Lula em 2022, taxa que agora variou para 43%.
Abaixo do trio de líderes na corrida eleitoral, a deputada Tabata Amaral (PSB) passou numericamente à frente de José Luiz Datena (PSDB), embora ambos permaneçam tecnicamente empatados. Tabata variou de 8% para 9% em duas semanas. Já o tucano oscilou de 10% para 7% — metade do que o apresentador tinha há um mês.
Tabata redesenhou sua campanha e até o próprio figurino para se apresentar como a opção mais combativa a Marçal, explorando denúncias contra o candidato. Já o tucano aposta no discurso antipolarização, dizendo-se independente de Lula e Bolsonaro, mas ainda não empolgou os eleitores apesar do prestígio conquistado em décadas na televisão.
A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
(colaboraram Samuel Lima, Hyndara Freitas, Matheus de Souza e Victoria Abel)
Fonte: O Globo