Em evento com congressistas afro-americanos, em Salvador (BA), Wellington dos Santos, de 22 anos, neto de Mãe Bernadete, líder do Quilombo Pitanga de Palmares assassinada com 25 tiros em agosto do ano passado, disse que a investigação que revelou os supostos mandantes da morte da vereadora Marielle Franco “deu esperança” para a família, que ainda aguarda por Justiça. Tanto o homicídio da ialorixá quanto de seu filho Binho do Quilombo, pai de Wellington, ocorrido em 2017, seguem sem solução.
— Descobrir quem mandou matar Marielle nos deu a esperança de descobrir quem mandou matar meu pai e minha avó. O caso do meu pai sequer chegou perto de ser concluído e o de Mãe Bernadete ainda tem dois mandantes foragidos — afirmou Wellington, em agenda do acordo de cooperação bilateral para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica e Promover a Igualdade (Japer), realizado entre congressistas e a sociedade civil do Brasil e Estados Unidos.
Em novembro do ano passado, o Ministério Público da Bahia (MPBA) denunciou cinco pessoas investigadas por suspeita de participação no assassinato da líder do Quilombo Pitanga de Palmares, localizado entre as cidades de Simões Filho e Candeias, na região metropolitana de Salvador. Os criminosos foram identificados como Arielson da Conceição Santos, Sérgio Ferreira de Jesus, Josevan Dionísio dos Santos, Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus.
O MPBA sustenta que quatro dos denunciados integram uma facção criminosa ligada ao tráfico de drogas. Desde o início, uma das linhas de investigação apurava a hipótese de Mãe Bernadete ter sido morta por denunciar a ação de traficantes na região.
Os cinco são acusados de homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima. Os promotores também pediram a prisão preventiva de Ydney Carlos. Arielson e Sérgio já estão presos, em caráter preventivo. Marílio e Josevan estão foragidos.
— Atualmente, ainda tem dois mandantes foragidos. Desde o assassinato da minha avó, nossas vidas mudaram drasticamente. Foi tirado de mim o direito de viver na comunidade em que eu nasci por medo de a qualquer momento acontecer uma fatalidade. Hoje só vou lá no quilombo para realizar trabalhos sociais — disse Wellington, em entrevista ao GLOBO.
O jovem estava em casa junto com a avó quando ela foi assassinada. Segundo testemunhas, criminosos invadiram a comunidade, fizeram parentes de Mãe Bernadete reféns e executaram a líder quilombola. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, os 25 disparos que atingiram a ialorixá foram efetuados por dois motociclistas que usavam capacetes para dificultar o reconhecimento.
Seis anos antes de Mãe Bernadete ter sido assassinada, o filho dela e pai de Wellington, Flávio Gabriel Pacífico, conhecido como Binho do Quilombo, foi morto da mesma forma, com diversos tiros dentro do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Apesar do caso ter sido levado para a Polícia Federal, ninguém nunca foi preso e o crime segue sem solução.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Bahia não descarta uma relação entre a morte de Mãe Bernadete e Binho do Quilombo.
Fonte: O Globo