Rússia entrega à Ucrânia corpos de 563 soldados mortos na guerra

Soldados ucranianos removem corpo de um soldado russo na cidade de Kupiansk-Vuzlovyi, perto de Kharkiv, na Ucrânia
Soldados ucranianos removem corpo de um soldado russo na cidade de Kupiansk-Vuzlovyi, perto de Kharkiv, na Ucrânia — Foto: Finbarr O'Reilly/The New York Times

As autoridades ucranianas anunciaram nesta sexta-feira que a Rússia entregou os corpos de 563 soldados, mortos na guerra entre os dois países, sem especificar se se tratou de uma troca. Cerca de “320 corpos de defensores mortos no setor de Donetsk e 89 soldados mortos no setor de Bakhmut foram repatriados. Também conseguimos repatriar 154 corpos de necrotérios na Rússia”, indicou a organização de coordenação ucraniana para prisioneiros de guerra.

Segundo esta fonte, a operação foi possível, em parte, graças a uma colaboração entre os serviços de emergência ucranianos, o exército, o Ministério do Interior, o comissário parlamentar para os direitos humanos e a comissão para as pessoas desaparecidas.

Esta é uma das maiores repatriações de corpos de soldados ucranianos mortos desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022. Nem a Rússia nem a Ucrânia informam o número de perdas militares, mas os meios de comunicação e os analistas estimam-nas em várias dezenas de milhares, até centenas de milhares de mortes em mais de dois anos e meio de guerra.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou nesta quinta-feira que fazer concessões à Rússia poderia ser um “suicídio” para a Europa. A fala foi feita durante a cúpula da Comunidade Política Europeia, que reuniu cerca de 50 líderes europeus em Budapeste, na Hungria, e ocorreu pouco depois de Moscou ter instado as potências ocidentais a realizar negociações sob pena da “destruição do povo ucraniano”.

A movimentação dos líderes russo e ucraniano, por sua vez, ocorre após o republicano Donald Trump ser reeleito nos Estados Unidos. O magnata já disse repetidas vezes que a guerra na Ucrânia não teria começado se ele fosse presidente, e chegou a afirmar que o conflito terminaria antes mesmo de ele assumir o cargo. Em julho, declarou que poderia resolver a guerra, que já dura mais de dois anos, em apenas um dia.

No mesmo evento desta quinta, Zelensky fez um apelo aos EUA e aos aliados europeus para que sejam “fortes” e “valorizem” o relacionamento com a Ucrânia, ainda que a eleição de Trump lance incertezas sobre a relação entre os aliados. Do lado europeu, as nações da aliança atlântica (Otan) veem o retorno de Trump ao poder com preocupação.

Isso porque durante o primeiro mandato do republicano (2017-2021), o magnata fez jogo-duro para que todos aumentassem suas contribuições para a defesa coletiva da organização. Em fevereiro, ele chegou a ameaçar não defender os países aliados que estão com pagamentos em atraso, e que até encorajaria a Rússia a atacá-los — um contraste com o governo do democrata Joe Biden, que recuperou os vínculos com os parceiros e aumentou a cooperação. Trump frequentemente censura os membros da Otan por não financiarem suficientemente o bloco.

— Alguns de vocês defenderam que a Ucrânia deveria fazer concessões ao [presidente da Rússia, Vladimir] Putin. Isso é inaceitável para a Ucrânia e seria um suicídio para toda a Europa — disse Zelensky em discurso perante líderes europeus reunidos em Budapeste.

Na quarta-feira, quando Trump foi anunciado vencedor da corrida pela Casa Branca, Zelensky publicou nas redes sociais que defender a Ucrânia é do interesse dos Estados Unidos porque seu país é rico em recursos naturais. Apesar do esforço de argumentação, Trump já demonstrou desprezo pela Ucrânia e pelo próprio mandatário ucraniano diversas vezes, chegando a culpá-lo pelo início da guerra.

A fala do republicano sobre poder negociar o fim da guerra antes mesmo de tomar posse gerou preocupações de que ele forçaria os ucranianos a um acordo desfavorável ao cortar o apoio militar. Alguns analistas esperam que Trump busque desmilitarizar e deixar sob controle russo a área atualmente ocupada por Moscou (20% do território ucraniano). Também seria favorável que Kiev renunciasse à adesão à Otan, como exige o Kremlin.

Se confirmada, as medidas iriam de encontro ao “plano de vitória” promovido por Zelensky, para quem os pontos mais importantes são um convite oficial para integrar a Otan e o reforço da assistência militar para proteger o território ucraniano.

“Para nós, na Ucrânia, e em toda a Europa, sempre foi crucial ouvir as palavras do então 45º Presidente dos EUA sobre ‘paz através da força’. Quando esse princípio se torna a política do 47º Presidente, tanto os Estados Unidos quanto o mundo inteiro, sem dúvida, se beneficiarão. Não é coincidência que [o ex-presidente americano] Ronald Reagan seja mencionado com tanta frequência atualmente — as pessoas querem confiança, querem liberdade, querem uma vida normal. Para nós, isso significa uma vida livre da agressão russa, com uma América forte, uma Ucrânia forte e aliados fortes”, escreveu o presidente ucraniano.

Fonte: O Globo

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