A Suíça devolveu três múmias pré-colombianas que datam centenas de anos à Bolívia nesta segunda-feira (20). A ação se dá em meio a um movimento a favor da devolução de restos mortais, obras ou objetos humanos ao país de origem pelos museus ocidentais.
Numa cerimónia no Museu de Etnografia de Genebra (MEG), a diretora da instituição, Carine Ayélé Durand, destacou que a cidade faz “um gesto forte em termos éticos ao devolver restos mortais humanos aos seus beneficiários, como já tinha feito em 2014 no pedido do povo Maori de Aotearoa”, o nome Maori da Nova Zelândia.
— O que buscamos, além da restituição, é a reparação ética —, disse a diretora.
O líder municipal Sami Kanaan afirmou que “Genebra, cidade da paz e do diálogo, sede de organizações internacionais, deve dar o exemplo”, ao devolver as caixas com as múmias à ministra boliviana de Culturas, Decolonização e Despatriarcalização, Sabina Orellana Cruz.
Foi em nome da “ética” que as três múmias, dois adultos e uma criança, não foram expostas durante a cerimónia. As caixas foram inseridas em grandes caixotes de madeira, nos quais o cônsul boliviano na Suíça selou para que viajassem a bordo de um avião.
— Hoje, para a Bolívia, é um reencontro com as nossas raízes —, disse a ministra boliviana à AFP. — Para nós, repatriar isto é decolonização. O encontro com os nossos antepassados é muito importante.
O museu de Genebra comprometeu-se, nos últimos anos, a facilitar a “devolução incondicional” de restos mortais, bens funerários e objetos sagrados aos seus legítimos proprietários.
Foi decidido, em 2022, não exibir objetos compostos por restos humanos, a menos que tivesse o consentimento do Estado ou da comunidade em questão.
Muitas vezes, “restos humanos preservados em museus são legalmente assimilados a objetos, enquanto as comunidades exigem que seja iniciado um processo ativo de reumanização”, lamentou a diretora do museu suíço.
Mas, de acordo com ela, o museu só recebeu três pedidos de restituição até agora, devido à complexidade do processo.
Em dezembro do ano passado, as autoridades bolivianas solicitaram a devolução das múmias depois de o museu ter informado que faziam parte do seu inventário, no âmbito de um programa que visa “descolonizar as coleções”.
Segundo o museu, os três corpos trazem vestígios de costumes funerários pré-colombianos (antes da chegada dos espanhóis) na região montanhosa próxima ao Lago Titicaca.
A ministra boliviano esclareceu que as múmias eram provenientes das culturas Pacaje, que se estabeleceram na região entre os anos 1.100 e 1.400. As estruturas funerárias, denominadas “chullpas”, que guardam este tipo de múmias, têm forma de torre e podem atingir vários metros de altura. Estas torres funerárias atraem ladrões e colecionadores de túmulos.
Os corpos mumificados foram enviados em 1893 de La Paz para a Sociedade Geográfica de Genebra pelo engenheiro suíço Gustave Ferrière (1846-1916), que era cônsul alemão na cidade.
A transferência foi realizada sem o consentimento dos proprietários tradicionais ou autorização formal, segundo o museu. Foram então doados ao museu arqueológico em 1895, antes de serem integrados no antigo museu etnográfico de Genebra em 1901.
Fonte: O Globo