“Reforma da Previdência = (des)forma do futuro” – Por Maria Helissa de Medeiros

Maria Helissa de Medeiros
Professora

Como sonhar ou fazer planos em um país que retira do seu cidadão a perspectiva de futuro? Como dizer aos meus alunos que não importa o quanto eles estudem porque o futuro reserva vagas apenas para mão de obra barata e não especializada? Como explicar para o meu filho (se o tiver) que ele nasceu sob a lei do ventre escravocrata antes mesmo de tomar conhecimento da lei do ventre livre? 

O atual governo do Brasil insiste que as respostas para essas perguntas se concentram no que eles chamam de crise econômica. Porém, o que vejo é uma crise de valores, de caráter e de cunho político, não econômica. A crise financeira que acomete nosso país tem origem no alto custo do congresso brasileiro. Os nossos representantes políticos além de usufruírem de salários exacerbados, recebem benefícios à parte para cobrir despesas no exercício de suas atividades que muitas vezes são confundidas com mordomias.

Como se não bastasse, ainda se sentem no direito de desviar verbas públicas em benefício próprio. Sem contar o superfaturamento com obras públicas que antes de atender à população abastece o ciclo de corrupção política do Brasil. Somado tudo isso, é claro que o resultado não poderia ser outro: crise financeira.

Porém, a conta vem para o bolso do trabalhador. Além de bancar nossos políticos somos herdeiros de uma dívida que eles contraíram. Então, quando se fala em reforma para sanar tais dívidas a origem deveria ser no próprio congresso, no entanto os políticos não abrem mão do alto padrão de vida e preferem sacrificar o povo.

Eis os sacrifícios que nos aguardam e (des)formam nosso futuro: reforma da previdência, terceirização do trabalho e perdas trabalhistas como FGTS, décimo terceiro, terço de férias e provavelmente nossa dignidade. Seremos obrigados a trabalhar 49 anos ininterruptos e ter idade mínima de 65 anos para ter direito a uma aposentadoria integral.

O governo terá o aval para contratar mão de obra terceirizada que, em outras palavras, pode ser compreendida como privatização dos serviços públicos e contratação de mão de obra barata e sem a devida qualificação. Consequentemente, teremos trabalhadores sem garantias de estabilidade e sem direitos trabalhistas.

Mesmo assim, diante de uma conta tão negativa, ainda pude encontrar um saldo positivo como fez o personagem Brás Cubas de Machado de Assis: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” E por mais doloroso que isso seja o meu saldo ainda é mais positivo, pois diferente do personagem machadiano, eu ainda estou viva. Então ainda há tempo de construir um novo legado e quem sabe perpetuá-lo. Portanto, estou em greve para que no futuro eu possa deixar, pelo menos, uma herança de lutas ao invés de uma herança de dívidas.