Quem entra no elevador logo percebe que, ao contrário dos demais, o botão para o segundo piso não funciona. Pela escada também não há acesso. A porta que leva ao andar está trancada. É um pavimento fantasma no centro de Brasília. Ali perto, onde deveria haver uma empresa de serviços de informática, funciona um curso para dentistas.
“Nunca ouvi falar nessas pessoas”, diz a atendente do estabelecimento, repetindo, em linhas gerais, a resposta ouvida pela reportagem em outros 12 endereços ligados a Pedro e Juliana Salomão, presos pela Polícia Federal sob suspeita de operar, a partir da capital da República, o braço financeiro de um esquema que desviou milhões de reais do Ministério da Educação.
O casal tem relação com uma rede de 25 firmas espalhadas pelo Distrito Federal. O Metrópoles esteve em 13 delas. E descobriu que só uma, o Basic Lounge Bar, funciona de acordo com as declarações prestadas à Receita Federal. As demais estão registradas em locais em que, atualmente, há outras empresas. A maioria das pessoas abordadas em cada um desses lugares está por ali há anos e desconhece a atividade das firmas do casal.
Se por um lado as empresas não existem fisicamente nos endereços, por outro as transações financeiras que elas fazem são bem reais. O movimento que o Metrópoles não encontrou nos endereços a Polícia Federal achou em transferências bancárias entre as diferentes firmas. Foi desse fluxo, dizem os investigadores, que a verba desviada de contratos para a compra de kits de robótica para escolas de Alagoas virou dinheiro vivo supostamente entregue a gente com conexões importantes no mapa do poder.
Depois que recebiam os aportes, as empresas, que seriam de fachada, faziam repasses para uma casa lotérica de nome sugestivo: Mina. Entre setembro do ano passado e janeiro deste ano — ou seja, em apenas quatro meses — R$ 2,4 milhões transitaram entre contas da loteria e das empresas de Pedro e Juliana. Os donos da “Mina” têm outras duas loterias em Brasília.
As firmas do casal também faziam repasses entre si, mesmo sem ter atividade comprovada, num movimento supostamente destinado a limpar o rastro sujo dos recursos. A PF encontrou muitos saques dessas contas, sempre fracionados, o que amplia ainda mais as suspeitas de que se tratava de uma tentativa de burlar os mecanismos de fiscalização.
A lista de empresas ligadas ao casal da mala do esquema do MEC é eclética. No papel, as firmas declaram atuação em diversos segmentos, de informática a turismo, passando por reparação de carros, consultoria, vestuário e comunicação. Tem também casa noturna. Uma outra tem como negócio principal a venda de coxinhas.
A empresa Exclusiva Tecnologia Limitada, por exemplo, recebeu das demais firmas do casal cerca de R$ 500 mil nos primeiros quatro meses de 2022. A Exclusiva tem endereço declarado no Edifício Trindade, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Com um detalhe: ela declara funcionar na sala 202, onde há um escritório de contabilidade. No local, um funcionário disse que é frequente o movimento de pessoas procurando a Exclusiva. A resposta que ele dá é sempre a mesma: “Não sei como ajudar”.
Em nota, o escritório de advocacia que faz a defesa do casal Pedro e Juliana Salomão afirmou que “seus clientes não têm nenhum envolvimento com as supostas fraudes apontadas pela PF e estão à disposição para colaborar com os órgãos de investigação”.
Do Metrópoles