No dia 6 de outubro de 2023, a estratégia de Benjamin Netanyahu para a questão palestina era: em primeiro lugar, enfraquecer a Autoridade Nacional Palestina (ANP) na Cisjordânia para inviabilizar um Estado palestino; em segundo, fortalecer os colonos na região, para agradar aos integrantes extremistas de sua coalizão e ficar no poder; em terceiro, manter o acordo com o Catar para o envio de dezenas de milhões de dólares para o Hamas administrar Gaza, com a suposição de que o grupo se tornaria mais pragmático e se distanciaria do terrorismo; e, por último, estabelecer relações diplomáticas com a Arábia Saudita, diminuindo o isolamento regional e demonstrando não ser necessário um acordo de paz com os palestinos para ter boas relações com o mundo árabe.
No dia 6 de outubro de 2023, a estratégia de Yahia Sinwar, líder do Hamas em Gaza, era: em primeiro lugar, realizar um atentado terrorista contra Israel, matando o máximo possível de israelenses e sequestrando outros para usar como moeda de troca no futuro; em segundo, atrair Israel para uma guerra na Faixa de Gaza; em terceiro, ver a imagem israelense se deteriorar internacionalmente com as cenas de crianças mortas e de cidades destruídas; e, por último, sabotar acordos de Israel com países árabes como a Arábia Saudita.
No dia 8 de outubro, depois do atentado, a estratégia de Netanyahu passou a ser: em primeiro lugar, eliminar o Hamas independentemente da intensidade da resposta; em segundo, buscar apoio internacional; e, por último, libertar os reféns. Sinwar, por sua vez, não precisou mudar a sua estratégia. Já estava preparado para aquele dia.
Passados sete meses, Netanyahu não conseguiu atingir seus objetivos. Comecemos pelas metas que antecederam o atentado. A ANP, de fato, segue enfraquecida, mas voltou a ser vista como uma entidade legítima para administrar um futuro Estado palestino. Os colonos na Cisjordânia começam a se tornar párias internacionais e alguns são, inclusive, alvos de sanções nos EUA. O dinheiro enviado pelo Catar serviu para armar os terroristas e não para criar uma infraestrutura. Um acordo com a Arábia Saudita foi, no mínimo, adiado, enquanto as relações com Egito e Turquia, dois gigantes na região, ficaram estremecidas. E os objetivos de Netanyahu depois do atentado? Só um refém foi resgatado. Cerca de cem foram libertados, mas mediante a libertação de centenas de prisioneiros palestinos. Outros 140 seguem com o Hamas — um número incerto já estaria morto. O apoio internacional diminuiu, os EUA congelaram o envio de alguns armamentos, e Israel é acusado por países como África do Sul e Colômbia de genocídio.
E Sinwar? Conseguiu comandar o maior ataque terrorista desde o 11 de Setembro. Atraiu Israel para uma guerra e usa crianças palestinas mortas como propaganda. Vê protestos contra israelenses nas melhores universidades dos EUA e da Europa. Conseguiu a libertação de centenas de palestinos e talvez consiga de outras centenas em novo cessar-fogo. Viu Netanyahu se isolar internacionalmente. E segue vivo em algum túnel, usando reféns como escudos humanos Antes que façam distorções, preciso deixar claro que condenar o terrorista Sinwar não significa ser contra os palestinos terem um Estado. Sou a favor. Criticar Netanyahu por suas ações em Gaza tampouco significa ser contra a existência de Israel. Sou a favor. Defendo um Estado palestino vivendo em paz e segurança ao lado de Israel.
Fonte: O Globo