Os incêndios no Pantanal, estimulados pela onda de calor desta semana, levaram a uma repetição de cenas já vistas em 2020, o pior ano de ataque do fogo ao bioma. Carcaças de animais queimados, colunas de fumaça no céu e chamas se alastrando pela Transpantaneira, no Mato Grosso, mostram que os erros cometidos há três anos, como a falta de prevenção, não foram sanados.
O governo do Mato Grosso decretou estado de emergência por 60 dias. A medida também foi adotada em cinco municípios do Mato Grosso do Sul, mas por 90 dias: Corumbá, Ladário, Miranda, Aquidauana e Porto Murtinho. Os presidentes do Ibama, Rodrigo Agostinho, e do ICMBio, Mauro Pires, chegaram à região na terça-feira para acompanhar o combate à queimada no Pantanal. Na quarta-feira, ao lado do governador em exercício, Otaviano Pivetta, Agostinho sobrevoou as áreas atingidas pelos incêndios.
Em 2020, as queimadas devastaram 30% da região e mataram 17 milhões de animais vertebrados. Mas o pior já havia passado em novembro, que tradicionalmente marca o início do período anual de chuvas. Em 2023, é diferente. Do dia 1º até ontem, foram registrados 261 eventos de fogo. O número é 135% maior que o verificado em 2020 e 314% acima do visto no ano passado, nos mesmos intervalos de dias.
Moradores e especialistas afirmam que a falta de ações preventivas e a demora na ação das autoridades no combate às queimadas agravaram o problema. Em 2021, o governo de Mato Grosso criou um comitê de enfrentamento aos incêndios, e o governo de Mato Grosso do Sul publicou o Plano Estadual de Manejo Integrado do Fogo. Houve aumento de empenho de recursos e de compra de equipamentos. Mas os esforços ainda são insuficientes, segundo quem acompanha a situação.
O comitê não cumpriu vários objetivos, como a criação de aceiros (acessos para combate ao fogo) e de 15 corixos (açudes artificiais), que serviriam como reservatórios de água próximos às florestas. Apenas um corixo foi feito. O plano de manejo do fogo só foi aplicado em uma propriedade do Mato Grosso do Sul.
— É preciso melhorar a logística e a integração entre as agências, estaduais, federais e privadas. Temos corpos técnicos de padrão internacional, mas que precisam atuar num comando unificado — diz Leonardo Gomes, diretor da SOS Pantanal, que também destaca a necessidade de investimento em prevenção. — Não adianta só investir em resposta, gastando milhões de reais com operações caríssimas, que muitas vezes não têm tanta efetividade.
Proprietários de hospedagens nos dois estados onde fica o bioma reclamam de demora na chegada de ajuda efetiva dos governos no combate ao fogo. Uma força-tarefa que conta com o Corpo de Bombeiros, representantes de ONGs e moradores vem atuando 24 horas para apagar focos de incêndio.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima informou que dobrou para 90 o número de brigadistas no Norte do Pantanal, atuando também com quatro aeronaves. Mais 209 servidores atuam em outros locais do bioma, acrescentou.
A pasta lembrou que em maio foi lançado o Plano de Ação para o Manejo Integrado do Fogo no Pantanal. “Ibama e ICMBio atuam desde julho em todo o Pantanal com apoio de um helicóptero do Ibama”.
O governo de Mato Grosso afirmou que cerca de 100 militares atuam nos incêndios. Desde 5 de outubro, são usados três aviões e um helicóptero. O governo de Mato Grosso do Sul decretou emergência em cinco cidades e aviões da PM são usados contra os incêndios.
Há oito frentes de fogo em curso, mas as duas principais já afetaram mais de 400 mil hectares no Pantanal. A primeira começou em 1º de outubro, no Parque Encontro das Águas. A partir de novembro e da onda de calor, o fogo se alastrou e uma área de 160 mil hectares já foi afetada. O maior incêndio começou no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, cortou a Transpantaneira e atingiu mais de 260 mil hectares. A principal ação de combate é com aviões.
Fonte: O Globo