“Quando o adversário é seu maior aliado”, por Sérgio Azevedo

Na análise que fiz neste blog sobre o resultado da eleição em Parelhas de 2012, disse que se a oposição quisesse vencer novamente, precisaria urgentemente de uma renovação. Na análise de 2016, disse que o processo de renovação, iniciado com a candidatura de Dr. Tiago Almeida, então novato,  deveria continuar, especialmente em um nome que trouxesse união ao grupo, e finalizei pontuando: “Tiago pode ser esse nome. Em 2020 já não seria alguém quase desconhecido como este ano. Mas pairam muitas dúvidas sobre suas próprias intenções políticas em Parelhas daqui para frente. Ademais, a oposição precisa trabalhar o eleitorado das comunidades rurais: seu grande calcanhar de Aquiles… E encontrar um líder.”

Pois bem, esses pareciam os grandes desafios da oposição para 2020. E foi. Contudo, talvez não contassem com o seu principal aliado nesta eleição: o próprio prefeito-candidato Alexandre.

É claro que havia um desgaste natural de 20 anos de um mesmo grupo político governando a cidade. É muito tempo, e, como na política (assim como na vida) é impossível agradar a todos, muitos desgostos se acumulam ao longo dos anos e dos mandatos. Porém, havia sempre a figura carismática do maior líder político vivo de Parelhas, que vinha como bombeiro apagar os incêndios deixados. Dr. Antônio era a figura que unia o grupo e transmitia a confiança aos correligionários e ao eleitorado.

Em 2016 Alexandre não era Alexandre. Era o “filho de Dr. Antônio”. Uma opção, ainda que questionada, de buscar um sucessor dentro do bacurau. Tinha a figura do pai como avalista, e o povo assinou um cheque em branco, tamanha era a confiança.

Em 2020, porém, Alexandre já não era apenas uma promessa. Já tinha nome e cargo. Era o prefeito. E a tentativa do marketing de sua campanha de insistir na figura do seu pai e nos feitos de suas administrações, já não eram suficientes. Alexandre já dava conta de um mandato e tinha que prestar conta dele. Por que não falaram disso?

Porque foi uma administração tímida e controversa. A consagrada “união” do grupo político, parece que sofreu fortes abalados devido à sua inabilidade política e falta de carisma. Trocando em miúdos, ele é filho de Dr. Antônio. Mas não é Dr. Antônio (nem de longe parece).

A cereja do bolo veio com a pandemia. A saúde de Parelhas já era motivo de críticas, e, apesar do volume de recursos recebidos pela cidade para enfrentar o COVID19, faltaram ações mais contundentes que insatisfizeram a população, que passou a questionar a aplicação dos recursos recebidos.

Enquanto isso, Tiago, que já não era mais um desconhecido, vinha pavimentando sua eleição, ocupando, com firmeza, o vácuo deixado pela administração de Alexandre junto ao sentimento da população insatisfeita. Ademais, conseguiu o feito de unir seu grupo, concatenando os diversos interesses internos de seus aliados, culminando em convencer Humberto Gondim a compor a chapa como vice.

Assim, a diferença de votos, que já vinha diminuindo ao longo das últimas eleições, reverteu-se  em uma vitória maúscula, numa maioria inimaginável para uma disputa normalmente bastante acirrada. De quebra, fez 7, dos 11 vereadores.

Foi, de fato, uma derrota humilhante para o grupo que tinha a prefeitura e o governo do Estado ao seu lado, e as lideranças de Francisco, ex-prefeito por duas vezes e deputado estadual, e Dr. Antônio, três vezes prefeito e que dispensa comentários. Alexandre tinha a faca e o queijo na mão para vencer. Mas derrubou o queijo no chão e se cortou com a faca.

Além da derrota, o grupo da situação fez apenas 3 vereadores.  O PT, que durante muito tempo foi visto como fiel da balança, dessa vez não fez qualquer diferença. A zona rural, sobretudo os povoados Cobra e Joazeiro, que sempre deram a vitória ao bacurau, os bicudos conseguiram trazer para seu lado lideranças importantes, fazendo com que a vantagem verde caísse consideravamente. Mas talvez nem precisasse. Tiago conseguiu passar com um rolo compressor sobre tudo, conseguindo uma maioria histórica. Era sua vez, e as pesquisas já mostravam.

Agora, resta especular sobre o futuro, sobre 2024. Quem será o candidato do bacurau? Será novamente Alexandre? Será a vez do PT encabeçar? A aliança MDB-PT se sustentará? Francisco, caso não seja reeleito deputado, se disponibilizaria a ser candidato a prefeito novamente? Parcelio teria cacife para ser trabalhado como candidato? São muitas incógnitas que permeam um grupo bastante abalado pela derrota nas urnas, que tem Dr. Antônio ainda como líder, porém sem a mesma presença e o vigor de antes.

Por sua vez, a vitória expressiva de Tiago o qualifica para uma candidatura a deputado estadual. Porém, quando? Em 2022 ou 2026? Tudo vai depender das aspirações políticas de Ezequiel Ferreira – presidente e líder do PSDB no estado. Se este for candidato a outro cargo (que não de deputado estadual), arrisco dizer que Tiago sairá candidato a deputado. Se estiver como prefeito, teria que renunciar em favor do seu vice. Só o tempo vai dizer.

Tiago-Humberto, caso façam uma boa administração, tem tudo para garantir uma hegemonia dos bicudos nas próximas eleições. Ja o bacurau, junta os cacos da grande derrota sofrida e precisa se reinventar.  Observar com humildade seus próprios erros e fazer a mea-culpa, é um começo.

Por Sérgio Azevedo
Servidor Público

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