O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, de 59 anos, foi baleado nesta quarta-feira após sair de uma reunião de gabinete. Segundo a agência de notícias Reuters, o porta-voz do premiê classificou o caso como uma “tentativa de assassinato”. O político cumprimentava um pequeno grupo de pessoas em frente a um centro cultural de Handlova, a cerca de 190 quilômetros da capital da Eslováquia, Bratislava, quando quatro tiros foram disparados. Dois deles teriam atingido seu braço e um o abdômen. Ele foi levado a um hospital da cidade e depois transferido para outra unidade, onde entrou em processo cirúrgico.
A extensão dos ferimentos dele ainda não foi divulgada, mas o gabinete do primeiro-ministro afirmou à Reuters que ele corre risco de vida. Ele seria inicialmente levado de helicóptero para um hospital na capital, mas precisou ser encaminhado a outro centro de saúde porque demoraria para chegar a Bratislava. Imagens do local publicadas pela mesma agência mostram o que parecem ser os seguranças do político correndo ao redor de um sedan preto. Um vídeo cujas imagens não foram verificadas de forma independente mostram homens detendo o suspeito. Em alguns registros é possível ver uma pessoa algemada no chão.
Nascido em uma família de classe trabalhadora, Fico, que é advogado, iniciou sua carreira política no Partido Comunista pouco antes da Revolução de Veludo de 1989, que levou à dissolução da antiga Tchecoslováquia. Conforme publicado pelo Guardian, ele fundou o seu partido de centro-esquerda, Smer-SD, em 1999, após ser preterido para um cargo ministerial pelo Partido da Esquerda Democrática, os herdeiros políticos dos comunistas. Admirador do presidente russo, Vladimir Putin, Fito já afirmou que não permitiria a prisão do líder sob mandado internacional caso ele fosse à Eslováquia. Ele também se alinhou ao seu homólogo húngaro, Viktor Orban, na oposição à ajuda à Ucrânia.
Fico, que foi o representante da Eslováquia no Tribunal Europeu de Direitos Humanos de 1994 a 2000, liderou o país na entrada na zona do euro em 2009. Em 2012, ele obteve uma vitória esmagadora após a queda de uma coalizão de centro-direita devido a acuações de corrupção, e venceu novamente em 2016, embora tenha renunciado dois anos depois em meio a protestos massivos pelo assassinato de um jornalista que investigava a corrupção no governo. Em outubro do ano passado, Fico voltou para um terceiro mandato como primeiro-ministro à frente de uma coalizão populista-nacionalista, revivendo uma carreira política que muitos consideravam encerrada pelas polêmicas.
Um perfil escrito pelo jornalista Jon Henley no Guardian descreveu o político como um estrategista: em 30 anos, Fico navegou com sucesso entre posições mainstream e pró-UE e uma retórica nacionalista e antiocidental, destinada principalmente ao consumo interno — e mostrando-se mais do que disposto a mudar de rumo dependendo da opinião pública ou da realidade política. Dizendo que tem “apenas os interesses da Eslováquia no coração”, o primeiro-ministro tem recentemente voltado o seu discurso para os ataques à União Europeia e ONGs internacionais, além de insultos de seus rivais, alegações falsas de um complô de golpe e afirmações de que a votação seria fraudada.
Nas redes sociais, Zuzana Caputova, presidente do país, disse estar “chocada”, condenou o ocorrido e desejou “força” ao premiê. A política, cujo mandato termina em junho, tem usado seus poderes limitados para resistir à inclinação de Fico em direção à Rússia e aos seus esforços para limitar a capacidade do judiciário de processar a corrupção.
Apesar das relações complicadas, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, condenou “este ato de violência contra o chefe de governo de nosso Estado parceiro e vizinho”. Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia que já entrou em conflito com Fico no passado, também disse que condena fortemente o “vil ataque”. “Tais atos de violência não têm lugar em nossa sociedade e minam a democracia, nosso bem comum mais precioso”, escreveu nas redes sociais.
Fico, que terminou uma gestão anterior como primeiro-ministro ao renunciar em 2018 em meio a uma onda de acusações de corrupção, também seguiu Orban na tentativa de neutralizar o judiciário de seu país e em retratar os apoiadores da Ucrânia como lacaios desleais dos Estados Unidos. Ele voltou ao poder após uma eleição geral em setembro, revivendo uma carreira política que muitos consideravam encerrada quando ele renunciou em meio a grandes protestos nas ruas após o assassinato de um jornalista investigativo que estava investigando a corrupção no governo.
(Em atualização)
Fonte: O Globo