Prefeito de Natal critica Governo Fátima Bezerra por omissão no combate ao Coronavírus

“O governo do Estado tem se omitido” (no combate ao Coronavírus)”. A afirmação é do prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB),  e surge exatamente no momento que a governadora Fátima Bezerra (PT) convocou os prefeitos da Grande Natal para discutir medidas de reforço ao isolamento social.

Álvaro Dias argumenta que a falta de uma ação mais eficaz do governo – como a instalação de um Hospital de Campanha – é o que tem causado a sobrecarga nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Natal.

E cobra também – a exemplo da capital – um protocolo para o tratamento dos pacientes. Na entrevista concedida com exclusividade à TRIBUNA DO NORTE, Álvaro Dias se posiciona a favor das medidas de isolamento social, contra a recomendação de lockdown e fala sobre a influência da eleição municipal nesse debate em torno da pandemia.

Prefeito, que avaliação o senhor faz dessa proposta de pacto pela vida lançada pelo Governo do Estado?
Essa reunião do ‘Pacto pela Vida’ eu acho que deve ser discutida melhor para que cada um dos integrantes desse pacto possa assumir compromissos e ter uma atuação eficaz, efetiva, firme contra o Coronavírus na cidade de Natal e no Estado do Rio Grande do Norte. Acho que o Governo do Estado deveria ter uma atuação mais efetiva. Deveria fazer ou seguir o exemplo da Prefeitura de Natal que em 60 dias montou, instalou e equipou um Hospital de Campanha com 100 leitos de enfermaria para Coronavírus e 20 leitos de UTI. Com respirador, com monitor, com tomógrafo, com ultrassom, com oxímetro, com tudo que tem necessidade para que os pacientes possam ser bem assistidos. Acho que o Governo do Estado está devendo isso e por esse motivo também, talvez, as UPAs estejam sobrecarregadas e superlotadas como nós estamos vendo. Elas estão superlotadas de pacientes oriundos de interior, quando deveriam estar atendendo pacientes da cidade de Natal. As Unidades de Pronto Atendimento foram construídas para atender pacientes de Natal, mas estão atendendo pacientes do interior.

 Na sua avaliação o Governo está falhando em criar leitos no interior e em Natal para atender pacientes?
Acho que o Governo deveria instalar um Hospital de Campanha aqui em Natal e disponibilizar mais leitos. Porque o nosso Hospital de Campanha foi feito, foi equipado e instalado para atender a população da cidade de Natal e nós estamos sendo instados a atender pacientes do interior, que é o que está acontecendo nas UPAs. Natal tem 850 mil habitantes e temos mais de 1,5 milhão de cartões do SUS. O que mostra e comprova que pacientes do interior estão usando os serviços públicos de saúde de Natal, inclusive fraudando os cartões do SUS. Esse é um dos motivos da superlotação das UPAs e dos hospitais aqui em Natal. E acho que o Governo do Estado deveria, nessa crise, nessa calamidade, ter o seu próprio Hospital de Campanha para atender os que estão vindo do interior.

Como prefeito, o senhor estuda alguma medida para que só sejam atendidos em Natal os pacientes que sejam realmente do município?
Olhe, a obrigação do município é assistir os pacientes do município. Os pacientes de fora devem ser amparados, assistidos, tratados pelos serviços públicos do Governo do Estado. Mas nós não podemos restringir o acesso dos pacientes que estão procurando as Unidades de Pronto Atendimento. Até porque se for negado esse atendimento, pode haver o questionamento jurídico com relação à omissão de socorro. Então, temos atendido e temos internado mesmo sabendo que os pacientes não são de Natal.

Se o senhor fosse governador hoje, que medida tomaria para resolver essa questão?
Everton… Pergunte à governadora.

Esta semana, o secretário George Antunes, (Saúde – Natal) cobrou manutenção das medidas de isolamento. E agora, nessa discussão do ‘Pacto pela Vida’ foram sugeridas medidas como fechamento das orlas e proibição da circulação de pessoas. O senhor vai adotar essas medidas em Natal?
George Antunes cobrou manutenção do isolamento social e eu também sou favorável. Sou favorável à manutenção do isolamento social. Eu acho que nós ainda não estamos preparados para flexibilizar. Inclusive, a Prefeitura está fazendo a parte dela. Estamos entrando nos transportes coletivos, distribuindo máscaras e álcool em gel, higienizando as paradas de coletivos, locais de grande circulação, equipes atuando dentro da cidade, montamos o Hospital de Campanha, que está recebendo os pacientes; discutimos com o Comitê Científico um protocolo para ser estabelecido para orientar o tratamento do coronavírus na cidade do Natal. Um protocolo que foi adotado pelo Conselho Regional de Medicina e também pela Secretaria Municipal de Saúde e estamos tomando todas as medidas plausíveis e necessárias para tratar e prevenir o coronavírus. Inclusive, estamos indicando – de acordo com o protocolo do Comitê Científico – medicamentos como profiláticos para prevenir o Coronavírus na cidade de Natal. Além de estarmos instituindo medidas terapêuticas, estamos instituindo medidas profiláticas para prevenir o coronavírus. E acho que o Governo do Estado tem se omitido com relação a essa questão. Quero cobrar aqui uma ação mais eficaz do Governo do Estado como a instituição de um protocolo de tratamento; a instalação e equipamento de um Hospital de Campanha para receber os pacientes do interior, para que não continue se sobrecarregando as Unidades de Pronto Atendimento de Natal e o Hospital de Campanha de Natal com pacientes do interior. Se isso não for feito, o Hospital de Campanha também será sobrecarregado com pacientes do interior. E nós queremos evitar que isso aconteça. É preciso que o Governo do Estado faça a parte dele.

O senhor avalia fechar o acesso à orla e reduzir a circulação de pessoas como medidas complementares a tudo isso que foi citado?
Essa determinação de fechar a orla foi elaborada, publicada e decidida pelo Governo do Estado. Então, o Governo do Estado tem aí os mecanismos de fazer cumprir o seu decreto. Mas além de procurar fazer cumprir o decreto, eu acho – volto a repetir – o Governo do Estado deveria agir de maneira mais ampla, instituindo medidas profiláticas e terapêuticas; disponibilizando medicamentos; disponibilizando protocolos; disponibilizando leitos de enfermaria e UTI para tratar o Coronavírus. Não apenas utilizar medidas restritivas de isolamento social, que devem continuar a existir. Nós não estamos preparados, ainda, para flexibilizar.

Mas a orla é uma questão do município. O senhor avalia ou não fechar?
Não. Não é do município. O Governo do Estado elaborou um decreto para o Estado todo. Então o Governo tomou essa decisão, o Governo procure colocar em prática o seu decreto. Nós vamos colocar em prática as medidas que já estamos implantado e que são muito mais amplas para prevenir e tratar o Coronavírus. Espero que o Governo do Estado possa proceder da mesma forma.

O Comitê Científico do Consórcio do Nordeste recomendou lockdown (“bloqueio total”) para Natal e Mossoró. Qual a sua opinião sobre isso?
Eu não concordo, não acho que tenha necessidade de um lockdown. Concordo que se mantenha o isolamento social. Mas o lockdown eu não concordo.  Como médico, como cidadão, como ser humano, como pessoa e como prefeito não acho que tenha necessidade – ainda – de um lockdown aqui em Natal.

Os posicionamentos que o senhor vem adotando têm sido influenciados pelo fato do senhor ser pretenso candidato à reeleição à Prefeitura?
Não. Até porque eu não decidi se sou candidato à reeleição. Poderei ser e poderei não ser. Tenho dito isso reiteradas vezes. As medidas que eu tenho adotado aqui na cidade de Natal eu tenho tomado como médico e tenho tomado como prefeito, orientado pelo Comitê Científico criado aqui e que tem infectologistas reconhecidamente competentes, como o médico Fernando Suassuna, Luiz Alberto Marinho e Eliana Lucia Tomaz do Nascimento. Médicos e outros colegas de profissão que fazem parte do nosso Comitê e que tem apresentado propostas e têm sido acatadas por nós para combater o Coronavírus na cidade de Natal. Tudo que eu tenho feito tem sido com base científica. Não tenho tomado decisões pensando em eleição até porque eu não decidi se sou ou não candidato. E estou agindo como cidadão, como prefeito, mas acima de tudo, como médico, por profissão e por vocação.

Se tudo continuar como está, o que o senhor pretende fazer para remediar essa questão das UPAs?
É difícil resolver a questão das UPAs. Porque as UPAs estão superlotadas com pacientes do interior. Eu volto a repetir: é preciso para evitar essa superlotação que o Governo do Estado tome as providências cabíveis e necessárias para tratar e cuidar dos pacientes do interior para evitar esse fluxo de maneira exagerada para Natal. Isso só vai acabar se o Governo do Estado tomar as providências que ele tem de tomar, como a instalação de um Hospital de Campanha para tratar esses pacientes egressos do interior do Estado. Se isso for feito, aí sim nós vamos ter uma ação mais eficaz por parte do Governo do Estado, um amparo melhor, e consequentemente uma situação mais regular para esses pacientes na cidade de Natal. Nós estamos fazendo todo o esforço humanamente possível para enfrentar o coronavírus na cidade de Natal.  Nunca trabalhei tanto na minha vida. Espero que todos nós – com a ajuda de Deus – possamos encontrar o caminho para superar essa pandemia tão grave.

O senhor pretende implantar alguma medida complementar para reforçar o isolamento social?
Nós estamos a favor da manutenção do isolamento social. Eu já disse e repito: todas as medidas possíveis e cabíveis que nós estudamos com o Comitê Científico, nós tomamos. E vamos continuar a agir assim. Inclusive estamos estudando a possibilidade de desde já aumentar os leitos do Hospital de Campanha. Mas fazendo questão de sugerir, lembrar, propor e solicitar que o Governo do Estado também faça o seu hospital de campanha para evitar a sobrecarga que o município de Natal está tendo com os pacientes oriundos e egressos do interior.