Praias da Grande Natal atingem maior contaminação em 20 anos

Sexta Feira, 15 de Julho de 2022/Natal/ Praias contaminadas Praia de Miami Foto. Magnus Nascimento Repórter Valcicley

As praias da Região Metropolitana de Natal têm o maior índice de contaminação por coliformes fecais em mais de 20 anos, desde o início da série histórica do Programa Água Azul. A análise de balneabilidade da água da segunda semana de julho aponta que, das 33 praias analisadas, 16 estão classificadas como impróprias. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15). Na semana anterior, a Região Metropolitana já tinha batido o recorde da série histórica com 15 praias, subindo mais um número nesta semana.

Segundo o diretor geral do Idema, Leon Aguiar, o resultado se deve principalmente às chuvas dos últimos dias: “essa chuva pode ser comparada a uma chuva que aconteceu somente há 24 atrás, antes mesmo da série histórica”, revela.

De acordo com Aguiar, as cidades são “lavadas” pelas chuvas e por isso dejetos podem ser levados às praias. “Imagine as ruas, os imóveis, as galerias de drenagem, as galerias de esgoto, tudo isso sendo levado para os rios, e nossos rios desembocando em nossas praias. Isso faz com que a gente tenha uma maior quantidade de contaminantes naquele momento”, comenta.

Para o diretor, à medida que as chuvas reduzem, “você vai tendo uma redução também daquilo que é levado para os rios do nosso Estado”. Por isso, se espera que nos próximos monitoramentos o nível de contaminação baixe.

Já Ronaldo Diniz, coordenador do Programa Água Azul e doutor em Geologia Costeira e Ambiental, diz que “é difícil prever o futuro. Mas, via de regra, a gente espera que vá diminuindo”. Segundo o coordenador, porém, outras variáveis devem ser analisadas. No monitoramento feito pelas entidades, há duas formas de classificar uma praia como imprópria para banho, com base numa resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

“A resolução diz que o último resultado, se for acima de 2.500 coliformes fecais por 100mL de água, essa praia é considerada imprópria. Caso contrário, se for acima de 1.000 coliformes, é preciso que dos últimos cinco resultados, ou seja, as últimas cinco semanas, duas delas ou mais tenham mais de 1.000 coliformes por 100 mL de água”, descreve. “Então pode ser na média de cinco semanas ou, se o valor for muito alto, acima de 2.500, um único resultado, desde que seja o último, já classifica a praia como imprópria”. De qualquer forma, comenta, “já que não está chovendo tanto, a tendência é diminuir”.

Das praias analisadas pelo projeto do Idema, a da Redinha foi a mais afetada nesta semana, junto com a Praia de Pitangui, em Extremoz. No levantamento, as duas praias tiveram uma contaminação de 5.400 coliformes totais por 100 mL de água. Na avaliação anterior, da primeira semana de julho, os números da Redinha, próximo ao Rio Potengi, eram ainda mais alarmantes: 16.000 coliformes totais por 100 mL de água.

Extremoz também registrou alta contaminação em outras áreas. Na Redinha Nova (Tômbolo), a contaminação é de 3.500. Em 16 de junho, como comparação, era apenas 2 coliformes fecais por 100 mL. A Praia de Graçandu, altura das Barracas, e a Praia dos Artistas, próximo ao Centro de Artesanato, são outros locais com a mesma contaminação: 3.500.

O monitoramento do Programa Água Azul é realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Norte (Idema), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN) e a Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do RN (Funcern).

Problema está relacionado com falta de saneamento

Embora as chuvas dos últimos dias sejam apontadas pelos especialistas como principal problema para a contaminação elevada, outro motivo pode estar relacionado aos índices das praias potiguares. Segundo Leon Aguiar, “uma das explicações mais factíveis desse nível de contaminação foi realmente a criticidade de chuvas, mas não é só isso que leva a ter um alto nível de contaminação”.

Para o diretor, há um lançamento indevido e constante de coliformes fecais das fossas negras, — um modelo escavado diretamente no terreno e revestimentos — que são lançados aos rios e mares por meio de ligações clandestinas nas redes de drenagem.

“Nós temos redes de esgotamento em algumas regiões, mas infelizmente quando as pessoas começam a ligar suas calhas ou qualquer excesso de água que tem nos seus imóveis dentro dessa rede de esgoto, esse esgoto que teria um tempo de chegar nas estações de tratamento para ser depurado e tratado, acaba acontecendo o que aconteceu”, comenta. “Começa a chover e começa a ter mais efluentes chegando até a estação. Isso não dá tempo tratar”.

A professora Cláudia Maria Gomes é turista de São Paulo e estava conhecendo a Praia de Miami na manhã desta sexta-feira (15). Ela estava apenas caminhando pela areia, e pretendia entrar na água, mas não sabia da contaminação em outros locais de Natal apontada pelo Programa Água Azul. “Não fui lá ainda, mas não parece [que está contaminada]. Mas se eu ver, não vou me espantar, não.” Na semana passada, Miami possuía 5.400 de coliformes fecais por 100 mL de água. Agora, caiu para apenas 20 e voltou a ser considerada própria para banho.

Já o surfista Marcelo Stima estava prestes a entrar no mar e diz que tem acompanhado a situação. “Eu tenho surfado aqui há uns cinco anos. A contaminação aqui é proveniente de esgoto doméstico e não saneado. Normalmente são ligações clandestinas”, afirma.

Segundo ele, a principal micose que vê é o pano branco. “Mas a gente sabe que várias doenças podem ser passadas através de coliformes fecais”, comenta. Para o surfista, a contaminação é “uma ameaça em relação à exposição a esse tipo de matéria orgânica que não é saudável. Mas depende da imunidade de cada um”, acredita.

Idema analisa danos ao rio Jaguaribe

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA/RN) vistoriou a área onde está sendo construída a Estação de Tratamento de Esgotos do Jaguaribe (ETE Jaguaribe), na zona Norte de Natal, cuja estrutura não resistiu às fortes chuvas da semana passada e provocou erosão do talude, estrutura de contenção da água, gerando o carreamento de lama para o Rio Jaguaribe, principal afluente do Rio Potengi. O órgão autuou a Caern, responsável pelo empreendimento, para que tome providências quanto ao ocorrido. Segundo ambientalistas, isso provocou um intenso dano ambiental ao mangue, que poderá não resistir. O documento também é uma solicitação do Ministério Público do Estado (MPRN), que aguarda as informações para definir como deverá agir. Apesar da suspeita do dano ambiental, ainda não há um dimensionamento do mal que pode ter provocado àquele ecossistema.

A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), explicou em nota que, na semana passada, “um pequeno trecho do muro caiu com as fortes chuvas,  mas já foi refeito. Também há outra parte do muro  que ainda será refeita, sendo este junto de uma rua projetada pela Prefeitura. A Caern realizou contenções evitando o carreamento de material. Também está sendo feita a limpeza do excesso desse barro”.

Segundo a companhia, a ETE Jaguaribe não está realizando o tratamento de efluentes porque ainda está em obras. No local, diz que possui uma tubulação de drenagem provisória. Contudo, essa tubulação não resistiu ao excesso de chuvas fazendo escorrer lama com material argiloso da obra para o rio.

Técnicos do Idema foram ao local e, segundo o diretor do instituto, Leon Aguiar, a primeira providência exigida pelo órgão foi a contenção do material para evitar que seja arrastado para o mangue. “Não se trata de nenhum material contaminante, nem material químico que venha a afetar a qualidade da água. Momentaneamente a gente viu que há uma dispersão desse segmento dentro do rio, por isso, a coloração das águas está amarelada. Mas isso ali vai decantando e o próprio fluxo de maré vai dissipando esse material não oferecendo um problema ambiental preocupante”, declarou o diretor.

Do Tribuna do Norte

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