População inteira no norte de Gaza corre risco iminente de morte, diz Unicef

Menino caminha em campo de refugiados palestinos no norte de Gaza
Menino caminha em campo de refugiados palestinos no norte de Gaza — Foto: Omar Al-Qattaa/AFP

Toda a população palestina no norte da Faixa de Gaza está em “risco iminente” de morrer por doenças, fome ou pelos “bombardeios contínuos” do Exército de Israel, advertiu a chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell. No sábado, ela afirmou que, apenas nas últimas 48 horas, mais de 50 crianças teriam sido mortas em Jabalia, o maior dos oito campos de refugiados históricos do enclave palestino, onde ataques aéreos israelenses destruíram prédios residenciais que abrigavam centenas de pessoas.

— E nesta manhã [de sábado], o veículo pessoal de uma funcionária da Unicef que trabalhava na campanha de vacinação contra a pólio foi alvejado enquanto ela dirigia por Jabalia. Felizmente, ela não ficou ferida, mas ficou profundamente abalada — disse Russell. — Enquanto isso, pelo menos três crianças teriam sido feridas em outro ataque próximo a uma clínica de vacinação em Sheikh Radwan, onde a campanha de vacinação contra a pólio estava em andamento.

No domingo, autoridades palestinas afirmaram que um ataque de drone israelense a uma clínica no norte de Gaza onde crianças estavam sendo vacinadas contra a pólio feriu seis pessoas, incluindo quatro crianças. Israel negou a responsabilidade pela ofensiva, ocorrida no sábado. Porta-voz da Unicef, Rosalia Bollen disse que o ataque ocorreu enquanto a pausa humanitária para a aplicação da vacina ainda estava em vigor.

Uma campanha reduzida para administrar a segunda dose da vacina contra a pólio começou no sábado em partes do norte de Gaza. Segundo as Nações Unidas, ela vinha sendo adiada desde 23 de outubro devido às repetidas ordens de evacuação em massa, bombardeios frequentes e falta de garantias para pausas humanitárias. A administração da primeira dose foi feita em setembro em todo o enclave, incluindo áreas do norte que agora estão completamente isoladas, publicou a Associated Press.

A fase final da campanha de vacinação contra a pólio visava alcançar aproximadamente 119 mil crianças no norte com uma segunda dose da vacina, mas atingir essa meta agora é “improvável”, disseram autoridades de saúde. O imunizante começou a ser aplicado após o primeiro caso de pólio ser registrado em Gaza em 25 anos —um bebê de dez meses que agora apresenta paralisia em uma das pernas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a presença de um caso de paralisia indica que pode haver centenas de outras pessoas infectadas, mas sem sintomas.

Russell, a chefe da Unicef, também afirmou que os casos recentes de ataques são exemplos das “graves consequências” do que definiu como “ataques indiscriminados contra civis na Faixa de Gaza”. Ela reforçou que, conforme determinado pelo direito humanitário internacional, civis e estruturas civis, bem como trabalhadores humanitários e seus veículos, devem sempre ser protegidos. Ordens de deslocamento ou evacuação, disse, não permitem que qualquer parte do conflito considere todos os indivíduos ou objetos numa área como alvos militares.

— Esses princípios estão sendo repetidamente desrespeitados, deixando dezenas de milhares de crianças mortas, feridas e privadas dos serviços essenciais necessários para a sobrevivência. Os ataques a civis, incluindo trabalhadores humanitários, e o que resta das instalações e infraestruturas civis de Gaza precisam parar. Toda a população palestina no norte de Gaza, especialmente as crianças, está em risco iminente de morte — declarou. — A Unicef está pedindo a Israel uma investigação imediata sobre as circunstâncias do ataque contra sua funcionária, e que sejam tomadas medidas para responsabilizar os culpados.

Sob a justificativa de que era preciso impedir que integrantes do grupo terrorista Hamas se reagrupassem, o Exército israelense lançou uma nova e intensa ofensiva no norte da Faixa de Gaza em 6 de outubro. Como consequência, publicou o jornal britânico The Guardian, civis foram mortos nos ataques, e moradores começaram a denunciar a tomada de hospitais e abrigos para pessoas deslocadas por parte das forças de Israel, além de ofensivas contra áreas residenciais.

Pelo menos 100 mil pessoas foram obrigadas a evacuar áreas do norte de Gaza em direção à Cidade de Gaza nas últimas semanas, mas cerca de 15 mil crianças com menos de 10 anos permanecem em cidades do norte, incluindo Jabalia, Beit Lahiya e Beit Hanoun, que estão inacessíveis, de acordo com a ONU. (Com AFP)

Fonte: O Globo

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