Uma apoiadora do empresário Pablo Marçal, candidato pelo PRTB à prefeitura de São Paulo, afirmou que foi remunerada por ele após publicar vídeos com sua imagem em uma rede social. O GLOBO teve acesso à integra de uma entrevista da apoiadora e a registros do canal “Cortes do Marçal”, na plataforma Discord, que indicam que o pagamento ocorreu em junho, depois do lançamento da pré-candidatura de Marçal —o que contradiz a alegação do ex-coach de que não teria feito repasses em período eleitoral.
Na entrevista, sua apoiadora, Karen Talissa dos Santos Ferreira, diz que Marçal “paga para você fazer os vídeos dele se você viralizar”. O caso foi revelado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.
Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbem que candidatos ou pré-candidatos paguem pela publicação de conteúdo nas páginas de terceiros nas redes sociais. A legislação só permite o chamado impulsionamento de propaganda eleitoral nas páginas do próprio candidato, e mediante pagamento direto às plataformas. A candidatura de Marçal é alvo de pedidos de impugnação, sob análise no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), devido a esse tipo de pagamento.
Os vídeos em questão, também chamados de “cortes”, começaram a ser publicados por Karen no início de maio, em um perfil no TikTok denominado “takesdopmarcal”. Ela diz ter alcançado um pico de visualizações logo no início da empreitada, o que lhe rendeu o prêmio de “corte” mais visualizado no dia 8 daquele mês, com um vídeo em que Marçal fala sobre sua atuação durante as enchentes no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o empresário foi acusado de divulgar desinformação sobre supostas restrições a caminhões que levavam doações ao estado.
— Viralizou um vídeo, ganhei o prêmio de vídeo mais viralizado do dia. No Discord, que é da competição do Pablo, onde ele paga para você fazer os vídeos dele, se você viralizar. Você tem a oportunidade de ainda fazer uma renda no digital — afirmou Karen à TV Barueri, no fim de maio.
Estava em andamento, à época, uma competição de cortes de Marçal através de um canal homônimo na plataforma Discord. Como O GLOBO mostro, o campeonato, administrado por dois funcionários de Marçal, Jefferson Zantut e Gabriel Galhardo, estabelecia prêmios diários e mensais para os vídeos que atingissem maior visualização entre 22 de abril a 22 de maio.
Inicialmente, Galhardo orientou os participantes a publicar cortes de um reality show organizado por Marçal em suas redes sociais.
Registros no canal do Discord mostram que os pagamentos foram agendados para o início de junho. A data já representa o período de pré-campanha. O PRTB havia anunciado desde abril um evento, marcado para 15 de maio, para lançar a pré-candidatura de Marçal. O lançamento ocorreu de fato no fim daquele mês.
Desde o fim de abril, o empresário era apresentado pelo partido como postulante à prefeitura. Em entrevistas, o próprio Marçal declarou que se filiou ao PRTB em abril, no último dia de janela partidária, após outra sigla, o DC, se recusar a lançá-lo à prefeitura, sinalizando interesse em participar da empreitada.
O candidato do PRTB vem alegando que só remunerou a publicação de vídeos por terceiros antes do período eleitoral. Ele também argumenta que apenas permite o uso de sua imagem em vídeos que são remunerados pelas próprias plataformas, após atingirem determinado patamar de visualizações.
Além da premiação pelo vídeo publicado no início de maio, Karen afirma que ficou em quarto lugar na premiação mensal do campeonato em questão, o que lhe rendeu outro prêmio no campeonato organizado no Discord. À TV Barueri, a apoiadora de Marçal disse que aproveitou a projeção para criar um curso para ensinar outras pessoas a obter remuneração com cortes.
— O Discord é um canal de competição dos cortes do Marçal. Você abre um (perfil no) Tik Tok, faz cortes, que são trechos de vídeo dele chamativos, impactantes, só fazendo vídeo dele. Se você viraliza com esses vídeos, você ganha dinheiro com ele. Ele te paga para isso —reforçou a apoiadora, na entrevista.
Ela participou também de uma mentoria de Marçal, naquele mesmo mês, na qual contou ao empresário que havia trabalhado como auxiliar de cozinha e de limpeza em seu resort, em 2021, antes de começar a trabalhar com redes sociais. Marçal elogiou o desempenho de seus cortes e orientou sua equipe a chamá-la para trabalhar com ele. Procurados, Karen e a campanha de Marçal não retornaram.
Fonte: O Globo