Ao mesmo tempo que segue com suas ações militares na Faixa de Gaza, Israel intensifica o seu confronto contra o Irã. Nesta semana, os israelenses bombardearam uma missão diplomática iraniana em Damasco (Síria), onde estavam importantes comandantes das Guardas Revolucionárias do regime de Teerã. Apesar de muitas vezes se misturarem como agora, esses conflitos contra os palestinos e contra os iranianos são paralelos. Ambos vivem seus momentos mais tensos em décadas e talvez na História. Vale entender cada um deles.
Começo pelo conflito contra os palestinos — não apenas a guerra em Gaza, mas o contexto todo das disputas entre esses dois povos. Primeiro, Israel é o ator mais poderoso militar e politicamente. Ocupa ilegalmente a Cisjordânia, onde mantém dezenas de assentamentos, violando a legislação internacional. Cerca de 2 milhões de palestinos que vivem no território sofrem uma série de restrições, além de serem impedidos de terem um Estado independente ou o direito à cidadania israelense.
Embora tenha desmantelado os assentamentos em Gaza, Israel implementou um bloqueio terrestre (em coordenação com o Egito), aéreo e marítimo do território. Nada disso, para ficar claro, justifica o terrorismo do Hamas ou elimina o direito de Israel de se defender de ataques de inimigos. Mas, na resposta ao atentado de 7 de outubro, as forças israelenses já mataram mais de 33 mil palestinos, segundo os EUA, sendo a maioria mulheres e menores. Essa reação é vista como desproporcional até por alguns governos europeus. Gaza foi destruída. Seus habitantes enfrentam uma catástrofe humanitária.
No passado, os dois lados perderam oportunidades de assinar a paz. Yasser Arafat rejeitou a proposta israelense em Camp David um quarto de século atrás, que poderia ter resultado no Estado palestino. Mas Ehud Barak, então premier israelense, tampouco aceitou a proposta palestina. Além disso, Israel ignorou a Declaração de Beirute de 2002, quando todos os países árabes e a Autoridade Nacional Palestina disseram estar dispostos a estabelecer relações com Israel em troca da retirada israelense dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias de 1967 (Cisjordânia, Faixa Gaza, Jerusalém e as sírias Colinas do Golã), de acordo com a Resolução 242 da ONU.
No conflito contra o Irã, não há disputa territorial entre israelenses e iranianos. O regime de Teerã prega, há 45 anos, a destruição de Israel. Membros das forças iranianas são acusados de envolvimento nos atentados terroristas contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 e contra a Amia, também na capital argentina, dois anos mais tarde. O Irã arma o Hezbollah, uma milícia xiita libanesa que mantém dezenas de milhares de mísseis apontados contra Israel no sul do Líbano. Nos atuais embates na fronteira, o grupo atua à revelia do governo libanês e contra os interesses da imensa maioria da população libanesa, especialmente os cristãos e os sunitas.
Na Síria, o regime iraniano tenta estabelecer há anos uma nova frente militar contra o território israelense. O Irã também apoia grupos terroristas palestinos como o Hamas e a Jihad Islâmica, responsáveis por múltiplos atentados contra Israel, incluindo o de 7 de outubro, quando 1.200 pessoas foram mortas, mulheres, estupradas, e mais de 200 pessoas, sequestradas.
Se os palestinos têm a justa demanda de exigir o fim da ocupação israelense (o que não justifica o terrorismo do Hamas), Teerã tem apenas o discurso genocida de destruir Israel.
Fonte: O Globo