Uma operação extremamente complexa de resgate, que durou cerca de 8 horas e mobilizou veterinários e bombeiros de cinco estados diferentes. Depois do cavalo caramelo, que comoveu o país ao ser resgatado do telhado de uma casa, durante as cheias no Rio Grande do Sul, nesta terça-feira a operação foi para salvar uma égua que viralizou ao ser vista ilhada do alto do 3º andar de um prédio, no Condomínio São Gabriel, no bairro Campina, em São Leopoldo.
Os bombeiros foram informados preliminarmente pela vizinhança que a égua e um bezerro teriam sido levados pelo dono, morador do apartamento, no intuito de salvá-los das chuvas, dias antes. Acontece que, com o nível alto da água, o homem teria precisado deixar o local, conseguindo levar apenas o animal mais leve. O capitão do Corpo de Bombeiros Tiarles Gularte de Almeida, à frente da operação, conta que a égua estava debilitada quando foi achada.
— Nós chegamos ao local às 12h e, de pronto, já levamos uma veterinária de uma ONG, que estava num ponto próximo. Ela avaliou e disse que a égua estava muito debilitada, que precisava sair logo dali, mas não tinha material necessário para sedar o animal, que já estava estressado por toda a situação. Então, precisamos procurar outros veterinários, até que conseguimos e voltamos por volta das 17h30 para iniciarmos de vez o resgate — conta.
Participaram da operação, além de bombeiros gaúchos, militares de quarteis do Distrito Federal, Rondônia, Paraíba e Mato Grosso do Sul. Durante a ação de resgate, a guarnição batizou a “vítima” de égua Esperança, mas segundo moradores o nome dela seria Sarita. Gularte conta que, apesar de toda a expertise dos profissionais envolvidos, a ação para retirada foi extremamente difícil e necessitou de equipamentos e técnicas especiais.
— Foi uma operação extremamente complexa, embora tenhamos domínio das técnicas — diz o bombeiro. — Usamos técnicas de salvamento aquático, aumentando a estabilização dos nossos botes e fizemos uma tirolesa dinâmica para descida do animal com segurança. Depois, levamos até um ponto seco, onde havia um reboque já esperando para levá-lo até um haras, chamado Novo Hamburgo, onde ficará recebendo os devidos cuidados até ser entregue ao proprietário. O caso agora foi passado à Polícia Civil, que decidirá o que fazer.
Gularte conta ainda sobre a dificuldade no trajeto com o animal do condomínio até a parte seca e segura da cidade.
— O animal não podia ser totalmente sedado, não podia ser apagado, então no caminho tínhamos que ir dando as doses de sedativo de tempo em tempo para que, quando chegássemos no reboque, ele estar acordado e conseguir subir.
Por fim, o capitão dos bombeiros conta sobre a rotina exaustiva por conta da tragédia que assola o estado. Até agora, 149 pessoas morreram no Rio Grande do Sul por conta da catástrofe climática — 8 em São Leopoldo —, e 108 estão desaparecidos.
— Estamos desde o início de tudo e têm sido momentos bem complicados. Ninguém esperava algo dessa dimensão e com o efeito colateral que teve. A chuva, de certa forma, era prevista, mas ninguém imaginava que áreas jamais alagadas iriam encher desse jeito… a gente vem procurando salvar as pessoas, os animais, e seguimos trabalhando em toda a cidade alagada, porque há pessoas que resistiram em sair e ainda estão em suas moradias. Então, precisam de atendimento médico, alimentação, água potável, e nós levamos até eles. São ações humanitárias. Temos que pensar sempre que uma pessoa que não recebe um cobertor por se tornar uma vítima de hipotermia; uma pessoa que não recebe água, pode morrer de desidratação, e por aí vai.
Fonte: O Globo