Apesar da euforia com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro já demonstram nos bastidores desânimo com o plano de ir aos Estados Unidos prestigiar a posse do republicano, marcada para 20 de janeiro.
Embora parlamentares da órbita de Bolsonaro vejam Trump como “maior liderança conservadora” do planeta e tenham anunciado uma “caravana bolsonarista” em Washington D.C., com mais de 50 pessoas, alguns deles cogitam reservadamente mudar de ideia e ficar pelo Brasil mesmo por conta de uma série de fatores.
O primeiro deles é que, diferentemente de Javier Milei, Trump não deve dar nenhum “tratamento VIP” à comitiva de Bolsonaro nem garantir uma foto ao lado dos parlamentares brasileiros, nem antes nem durante a posse.
A exceção fica por conta de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem canal direto com Trump e foi um dos convidados para acompanhar a apuração de votos em um resort de luxo na Flórida, no mês passado.
Os parlamentares esperavam repetir com Trump o mesmo que fizeram com Milei, que se reuniu com uma comitiva bolsonarista um dia antes de sua posse em Buenos Aires, em dezembro passado. Na ocasião, o presidente argentino tirou fotos e gravou vídeos com os bolsonaristas para suas redes sociais.
“Com o Milei foi tudo mais tranquilo e fácil e ele conseguiu nos receber antes em um hotel. Com o Trump isso não será possível”, disse reservadamente ao blog um parlamentar da tropa de choque bolsonarista. “Talvez seja melhor para a gente ir para os Estados Unidos em um momento mais calmo, quando ele possa nos dar mais atenção.”
Outro motivo apontado nos bastidores são os altos custos envolvidos com o deslocamento à capital americana.
Nas contas de parlamentares, só o aluguel de um veículo com capacidade para transportar quatro pessoas no dia da posse já está na faixa de US$ 2 mil dólares – o equivalente a R$ 12 mil, considerando a atual taxa de câmbio.
“É preciso acabar com essa escala 6 por 1 do dólar”, ironiza um outro parlamentar da bancada da oposição, em referência à alta da moeda norte-americana, que tem como uma das causas a desconfiança do mercado financeiro em relação ao pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Bolsonaro, que esteve na cerimônia de Milei acompanhado de deputados estaduais, federais e governadores, também não deve ir aos Estados Unidos, já que está com o passaporte apreendido pela Polícia Federal.
O ex-presidente deve pedir uma nova autorização ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para sair do território nacional, mesmo com os desdobramentos da investigação de uma trapa golpista para impedir a posse de Lula. Mas as chances de conseguir são mínimas.
Conforme informou o blog, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não deve ir à posse do presidente eleito dos Estados Unidos, já que a tradição da diplomacia americana é a de não convidar chefes de Estado para a solenidade.
“Os EUA não recebem enviados estrangeiros, nem chefes de Estado, nem de governo, nem ministros, nem enviados especiais. Os representantes na posse são os embaixadores locais. Nenhum chefe de Estado vai”, disse ao blog um integrante do primeiro escalão do governo petista.
Durante a campanha, Lula declarou apoio à democrata Kamala Harris na disputa contra Trump, chegando a dizer que com ela seria “muito mais seguro” o esforço de “fortalecer a democracia”.
Agora, a torcida no Palácio do Planalto é a de que as relações entre Brasília e Washington sejam pautadas pelo pragmatismo – mesmo raciocínio, aliás, de bolsonaristas para decidir se vão ou não à posse.
Fonte: O Globo