O ataque aos indígenas é página pouco conhecida da ditadura, e Rubens Paiva é capítulo que nunca se fechou

Presidente da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz, pede desculpa ao povo Krenak em nome do Estado brasileiro
Presidente da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz, pede desculpa ao povo Krenak em nome do Estado brasileiro — Foto: Comissão de Anistia/Reprodução

A violência e a perseguição contra indígenas durante a ditadura militar é um capítulo pouco conhecido da nossa história. Os Krenak, em Minas Gerais, no Vale do Rio Doce – eles chamam Watu -, e os Guarani-Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, receberam ontem da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos, pela primeira vez, o reconhecimento do Estado brasileiro da perseguição, das prisões e das torturas sofridas pelos povos indígenas durante o regime militar. Isso é muito importante.

Ailton Krenak, escritor, filósofo, que vai assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras esta semana, disse que não é um ato simplesmente simbólico, porque isso é um reconhecimento do Estado de que houve esse crime contra os povos indígenas, contra o povo Krenak, uma tentativa de extermínio físico e cultural. Ele pontua que a partir desse reconhecimento se vai discutir outras questões que são importantes para todos os povos.

Na Amazônia houve crimes terríveis durante a ditadura, que chegaram ao extermínio de povos originários. É preciso conhecer mais essa história, entender o que aconteceu com os diversos povos, abrir esse capítulo que os brasileiros não podem mais ignorar.

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos, ao mesmo tempo, reabriu o processo referente ao assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, uma história que nunca se fechou, como várias outras.

Rubens Paiva era deputado pelo Partido Trabalhista, cassado pelo golpe. Era também engenheiro e empresário. Foi preso em frente à sua casa no feriado de 20 de janeiro de 1971, no Rio de Janeiro, por oficiais da Aeronáutica, levado para o Exército, torturado e morto. Seu corpo nunca aparece.

Tive a oportunidade de conversar com a família, com os filhos, ele tinha cinco filhos, e eles falam que há no caso dos desaparecidos um luto em suspenso.

O país precisa ter respostas. Elas continuarão rondando a vida brasileira.

Fonte: O Globo

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