A Força Aérea Brasileira, a Embraer e a sueca Saab concluíram mais uma etapa de testes do novo caça F-39E Gripen. As aeronaves estão em processo de desenvolvimento e certificação no Brasil e, desta vez, foram submetidas a condições climáticas extremas. Durante as avaliações, a aeronave voou aproximadamente 12 horas em 10 missões em condições quentes e úmidas, típicas da região Norte do Brasil.
Os testes foram realizados para avaliar o desempenho de todos os sistemas em condições extremamente quentes e úmidas, garantindo o resfriamento adequado dos equipamentos, o conforto do piloto e o comportamento geral da aeronave quando inserida naquele ambiente.
— O Gripen ficou sediado na Base Aérea de Belém, onde estava o apoio de solo e as equipes da Saab e da Embraer. Após a decolagem, a aeronave seguiu em direção a uma área de ensaios sobre o mar perto de Salinópolis, a cerca de 160 km de Belém. Nós montamos uma estação de telemetria naquele local para coletar todos os dados dos voos — explicou Dalton Leite, engenheiro da Embraer responsável pela campanha.
A Embraer ficou responsável por esta etapa pois é a empresa responsável no Brasil pelo programa de transferência de tecnologia, com o objetivo de aprimorar a expertise da empresa brasileira nessa área. A campanha também incluiu testes de voo em regime transônico e a avaliação da funcionalidade do radar altímetro.
— Apesar das condições climáticas desafiadoras e a mudança repentina da meteorologia ao longo do dia, os resultados obtidos demonstram que o Gripen pode operar sem restrições de clima de qualquer local da região norte — disse Martin Leijonhufvud, chefe do Centro de Ensaios em Voo do Gripen (GFTC) da Saab em comunicado.
O caça explorou as faixas de 200 metros a 500 metros de altitude sobre a floresta densa e úmida para permitir que a equipe validasse a precisão das medições do radar altímetro naquele ambiente. Todos os ensaios realizados foram concluídos com sucesso.
O Gripen começa a substituir gradativamente os F-5M, caça de fabricação americana que entrou em serviço no Brasil em 1975 e cuja modernização, executada pela Embraer, terminou em 2020. Até o momento, apenas quatro aeronaves chegaram ao Brasil, no entanto, a previsão é que até 2027 as demais sejam entregues à Força Aérea, totalizando uma frota de 36 caças.
Os aviões tem capacidade de voar a até16 mil metros de altura, em uma velocidade máxima de 2.400 km/h. Pronto para combate, o Gripen pode percorrer por volta de 1.100 quilômetros, estando equipado com armamento externo, mas vazio, ele chega a quatro mil quilômetros de distância.
Em uma velocidade média usada pelo caça, de 2.100 km/h, ele é capaz de percorrer a distância de 365 quilômetros entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo em apenas 12 minutos. Além de ser equipado com radares e sensores avançados, e sistema inteligente de detecção de alvos, o que a torna a mais moderna aeronave em operação na América Latina
Segundo a FAB, o avião pode receber mísseis ar-ar de curto e de longo alcance, mísseis ar-superfície e bombas guiadas por laser ou GPS para emprego contra alvos na terra e no mar. A aeronave suporta decolar com um peso máximo de 16,5 toneladas para missões de defesa aérea, ataque e reconhecimento sem precisar voltar para a base e mudar a sua configuração.
O projeto FX-2, lançado em 2006, deu início a implementação do caça sueco F-39 Gripen E/F na Força Aérea Brasileira, mas só entrou em operação após 16 anos. A compra dos aviões só foi fechada definitivamente em 2013, após muita negociação, e os quatro primeiros modelos entregues em dezembro de 2022.
A renovação da aviação de caça é um dos principais projetos estratégicos do Ministério da Defesa. Inicialmente, o contrato previa a compra e a entrega, até 2027, de 36 Gripen por US$ 3,77 bilhões, aproximadamente R$ 20 bilhões na cotação atual. No entanto, outras quatro aeronaves foram acrescidas, totalizando 40 caças produzidos pela Saab em parceria com a Embraer. A FAB estuda ainda adquirir mais 26 Gripen por meio de um segundo contrato.
As quatro primeiras unidades fabricadas na Suécia e trazidas para o Brasil em navios foram incorporadas ao 1.º GDA. As 15 últimas do primeiro lote de 36 caças serão construídas no Brasil, já que o acordo prevê a transferência de tecnologia para o território nacional e o treinamento de dois anos para 350 profissionais, que vão cuidar da montagem das aeronaves na planta da Embraer, em Gavião Peixoto, em São Paulo.
A base em Anápolis, onde estão as novas aeronaves, passou por três obras para poder abrigar os Gripen. Foram instalados sistemas de missão e de suporte do caça, com a montagem de simuladores de voo e estações de planejamento de produção de imagens digitais, além de reformas estruturais.
Por enquanto, os F-39 ficarão em Goiás, mas a Força Aérea estuda a possibilidade de distribuir o Gripen em outras bases ao redor do país, de acordo com a necessidade operacional, a disponibilidade de infraestrutura e a posição geográfica.
Fonte: O Globo