No Rio Grande do Norte, 129 municípios não têm agências bancárias

No Rio Grande do Norte, 129 municípios (77% do total) não têm agência bancária. Desse total, 82 cidades possuem apenas postos de atendimento; dois  municípios possuem somente caixas eletrônicos e 45  municípios não possuem agência, posto de atendimento e nem caixa eletrônico. As estatísticas são do Banco Central do Brasil fornecidas à TRIBUNA DO NORTE. Lagoa D’anta, com  6,2 mil habitantes e a 100 quilômetros de Natal, está nesse último grupo.

O município, que tem limites com as cidades de Nova Cruz, Passa e Fica, São José do Campestre e Santo Antônio, atualmente, é o único entre essas que não possui sequer um caixa eletrônico ou Correios. O único modo de sacar dinheiro é através de correspondentes bancários. “Nem os carros fortes vem para cá porque os bancos consideram uma despesa muito grande”, relata Eduardo Guedes.

A situação dos lagoa-dantenses, como é chamada a população da cidade, se agravou há cerca de três anos, quando a agência do Correios local foi assaltada e deixou de operar com dinheiro. Serviço bancário mesmo existiu até os anos 1990, através de uma agência do Banco Econômico, que encerrou as atividades em 1995. Somente a farmácia de Eduardo, um mercado e uma casa lotérica fazem o serviço de saque nos dias atuais.

Em quatro anos, o número de municípios sem nenhum serviço bancário no Rio Grande do Norte aumentou em 10, saindo de 35, no ano de 2015, para 45, no ano passado.Em dezembro de 2019, 378 municípios do Brasil se encontravam nessa situação, 78 a mais que em 2015. No Estado, o número de cidades com agências caiu de 54, no ano de 2015, para 38, em 2019.

Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), entidade que reúne os grandes bancos do país, a redução faz parte da estratégia comercial das instituições e é provocada principalmente pela digitalização dos serviços. Os assaltos a agências e bancos em cidades pequenas, com baixo aparato policial, também é outra razão para os fechamentos.

Apesar do serviço de saque ainda existir por meio dos correspondentes, os locais não têm estrutura bancária. Além disso, realizar um saque depende do quanto o correspondente possui no caixa. Se estiver vazio, é preciso esperar um boleto ser pago e entrar dinheiro. O processo pode render horas a mais de espera.

Essas limitações tornam a falta do banco um problema econômico. Para não enfrentar as longas filas e o risco de não conseguir sacar, ou sacar mais tarde do que o planejado, funcionários públicos aposentados costumam recorrer às cidades vizinhas para realizar o serviço, como Nova Cruz, distante 29 km, ou Goianinha, a 66 km. Como consequência, acabam gastando o dinheiro também nessas cidades. “A pessoa que está lá acaba comprando uma feira, com um almoço, porque passa o dia lá”, explica Cristovão Campos, chefe de gabinete da prefeita Taianni Lopes.

“Atrapalha muito o crescimento da cidade porque o dinheiro não fica aqui. Lagoa D’anta já é ‘o fim da linha’, porque não é passagem para cidade nenhuma, e sem banco fica mais isolada ainda”, complementa.

Uma das tentativas de reter o dinheiro na cidade, feita pelos comerciantes privados, é pagar os funcionários em espécie – o que também evita que eles se desloquem a outra cidade e percam um dia de trabalho. A maioria que necessita dos serviços bancários são funcionários públicos e aposentados.

A outra solução são as maquininhas de cartão, que se popularizaram nos últimos três anos. Praticamente todos os estabelecimentos de Lagoa D’anta possuem uma. “É assim que eu faço o dinheiro ficar aqui. Tento passar tudo no débito para não ter que me deslocar em outra cidade. Quase todo lugar hoje tem uma maquininha”, conta Poliana Corsino, funcionária da prefeitura. Ouvindo a fala da colega de trabalho, Cristovão complementa: “Senão fica uma situação desconfortável”.

Da Tribuna do Norte

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