No caos pós-chuva, prefeitura de São Paulo faz licitação de R$ 2 bilhões para poda de árvore

Árvores caídas devido à chuva forte em São Paulo

Ainda enfrentando as consequências do caos provocado pela chuva forte que assolou a cidade na última sexta-feira, com bairros ainda sem luz e registro de quase 300 árvores derrubadas, a prefeitura de São Paulo decide na próxima sexta (10) quem fará a poda de árvores pelos próximos cinco anos, serviço pelo qual serão pagos cerca de R$ 2 bilhões. É a maior licitação do gênero em disputa no Brasil e está sendo feita por pregão eletrônico.

O problema, de acordo com técnicos do setor, é que o modelo de contratação continua o mesmo dos últimos cinco anos, que prevê pagamento mensal e não por árvore derrubada.

Em outras capitais do Brasil, como Porto Alegre, Brasília, Salvador, Recife ou Curitiba, o contrato prevê pagamento por árvore derrubada, e a fiscalização dos serviços é feita por aplicativo.

O edital da prefeitura que orienta a disputa prevê pagar R$ 310 mil por equipe, por mês. Estão previstas 122 equipes.

Cada uma tem obrigação de derrubar no 11 árvores de grande porte mensalmente, mas pode-se tanto combinar a poda com a derrubada de árvores para comprovar o cumprimento da meta como também receber comprovando apenas a derrubada das grandes espécies. Nesse cenário a prefeitura pagaria R$ 28 mil por árvore grande derrubada.

Para se ter uma ideia do que isso significa, um levantamento recente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), que reúne empresas e técnicos da área no setor privado e no setor público, mostra que em Recife, por exemplo, onde o pagamento é por produtividade, a poda de uma grande árvore custa cerca de R$ 2 mil.

“O pagamento por serviço prestado, ou seja , por poda, vem se demonstrando mais eficiente do que um pagamento por equipe fixa mensal, mesmo quando há metas. Até porque as metas estipuladas no edital de São Paulo são pífias em relação à necessidade das subprefeituras”, afirma Sérgio Chaves, presidente da SBAU.

Desde o início das chuvas, parte da responsabilidade pelo apagão é atribuída à queda de árvores sobre cabos de eletricidade, que não só interrompem o fornecimento de energia como obstruem a circulação dos técnicos.

Outro problema é que, uma vez que as árvores caem e se misturam aos cabos, só é possível retirá-las com a autorização e a colaboração da concessionária de energia – no caso de São Paulo, a Enel, que está sob fortes críticas até mesmo da prefeitura em razão da reação problemática ao caos na cidade.

Em várias ruas que continuam sem luz, aliás, o problema é justamente o excesso de árvores caídas e não removidas. Segundo a própria prefeitura, há nesta segunda-feira cerca de 500 mil pessoas sem luz em São Paulo.

A prefeitura foi procurada para comentar o modelo do edital e a questão da poda das árvores, mas até agora não respondeu aos pedidos da reportagem. O espaço está aberto para a manifestação.

Fonte: O Globo