Mortes relacionadas à onda de calor são registradas pelo país e SP fala em 102,5% de aumento nos atendimentos em hospitais

São Paulo 40 graus: morte de menino, que pode estar ligada ao calor, chocou população
São Paulo 40 graus: morte de menino, que pode estar ligada ao calor, chocou população — Foto: Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo

Com 16 estados da federação hoje sob alerta vermelho do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que atenta para risco de vida por conta da forte onda de calor, as autoridades de várias regiões do país, inclusive as mais acostumadas historicamente com altas temperaturas, já estão tendo que lidar com as consequências dos extremos climáticos à saúde pública, que passam a fazer parte da pauta. Na última terça-feira, a combinação entre a negligência do motorista de uma van escolar, em São Paulo, e a temperatura de quase 40 graus registrada na capital paulista durante a tarde, terminou em tragédia. Esquecido no interior do veículo, quando na verdade deveria ter sido deixado na creche no início da manhã, o menino Apollo Gabriel Rodrigues, de apenas 2 anos, morreu sob circunstâncias que, de acordo com a perícia, estariam ligadas diretamente à condição climática.

– Ele deixou a perua no estacionamento, num calor terrível como hoje, só foi perceber (que o menino ainda estava no carro) na hora de entregar as crianças. Eles não tiveram culpa, mas foi irresponsabilidade – desabafou a avó Luzinete Rodrigues dos Santos, em entrevista a jornalistas em frente à delegacia.

E, caso confirmado o calor como causa principal da morte do menino Apollo, pode-se dizer que já não se trata de um caso isolado. Ao GLOBO, a Secretaria de Estado da Saúde de SP afirmou que, antes da tragédia envolvendo a criança, uma outra pessoa já tinha morrido em unidade de saúde pública este ano. Levantamento da pasta mostra que, entre 2019 e julho de 2023, foram registradas cinco mortes por causas diretamente relacionadas a efeitos da exposição ao calor natural excessivo.

Ainda segundo o governo paulista, no mesmo período, houve registro de aumento de 102,5% nos atendimentos ambulatoriais e internações por causas relativas à exposição ao calor em relação a 2022. Foram 312 neste ano e 154 no mesmo período de 2022. “A pasta reforça a toda a população a necessidade de cuidados redobrados durante esta semana, quando as altas temperaturas no estado de São Paulo podem chegar aos níveis mais elevados do ano. Pessoas com mais de 60 anos, crianças com menos de quatro anos e pessoas com deficiências cognitivas são as mais afetadas”, acrescentou a secretaria.

O motorista de van escolar Robson Benes, de 45 anos, e a esposa que o auxilia no serviço, Luciana Graft, de 44 anos, chegaram a ser presos pela morte do menino, mas, após audiência de custódia, foi concedida liberdade provisória ao casal, que deverá cumprir medidas cautelares, como proibição de sair de casa à noite, e suspensão da atividade profissional.

As mortes relacionadas aos efeitos do calor extremo podem quase quintuplicar nas próximas décadas em todo o planeta, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira pela revista “The Lancet”, feito por mais de 100 especialistas de 52 instituições de pesquisas e agências da ONU de todo o mundo, que monitora os impactos das mudanças climáticas na saúde.

Em Minas Gerais, um dos estados onde houve maior incidência de temperaturas acima dos 40 graus – em Unaí termômetros marcaram 42,6 graus na terça – também houve registro de morte. Aconteceu em Juiz de Fora. Uma idosa de 73 anos morreu depois de passar mal por conta do calor enquanto fazia compras num supermercado que fica na Avenida Getúlio Vargas, na região central da cidade. No mesmo município, pelo menos outros dois idosos também precisaram ser socorridos com sintomas ligados à alta temperatura.

No Mato Grosso do Sul, em setembro, um homem de 54 anos também morreu sob condições que podem estar ligadas à onda de calor. Ele fazia o trabalho de capinar um terreno, na cidade de Bataguassu, na divisa com São Paulo, quando, sob o sol escaldante, acabou desfalecendo e morrendo. A causa da morte foi definida como “mal súbito”, segundo a imprensa local.

E o número de casos de mortes e internações relacionados ao calor pode ser maior. A reportagem apurou que, inclusive no Ministério da Saúde, ainda se estuda como classificar e quantificar esses casos. O cenário, como se apresenta hoje, é tido como algo novo.

No Rio de Janeiro, o secretário municipal de Saúde, o médico Daniel Soranz, afirmou que, durante todo o fim de semana na cidade, as unidades de emergência e urgência atenderam uma pessoa a cada duas horas com sintomas causados pelas altas temperaturas. Foram casos foram de queimaduras de segundo grau ou relacionados à combinação de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, com o calor.

Os estados que total ou parcialmente estão sob alerta vermelho do Inmet por conta do calor são: Amapá, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Goiás, Mato Grosso do sul, Piauí e Tocantins.

O Ministério da Saúde, por sua vez, disponibilizou uma cartilha sobre quais cuidados tomar durante este período. Em publicação feita pela pasta, a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador, Agnes Soares, reforçou que até mesmo as pessoas que moram em lugares em que estão acostumadas com o calor têm de pensar em formas de se proteger durante o período de altas temperaturas.

– Idosos, crianças, mulheres grávidas, pessoas doentes ou acamadas são vulneráveis e merecem mais atenção. Idosos e crianças, por exemplo, têm muita dificuldade de reconhecer a sede. Por isso, é necessário oferecer água com muito mais frequência a eles.

A reportagem pediu a secretarias de Saúde de alguns dos estados mais atingidos pela onda de calor, como MS, MG e Bahia, sobre números de atendimentos médicos e mortes que podem estar ligadas às altas temperaturas, mas não obteve retorno destas até a publicação.

No Mato Grosso do Sul, estado campeão de alta temperatura em último levantamento publicado pelo Inmet, na terça-feira – Corumbá, 43,3 graus –, dois motociclistas pararam, na capital Campo Grande, para ajudar uma capivara que parecia se arrastar pela rua por conta do calor. Eles usam um balde d’água para tentar amenizar a situação para o animal, que não resiste e acaba morrendo. Quando a Polícia Ambiental chegou no local, o animal já estava sem vida. Os especialistas irão investigar se o bichinho perdeu a vida por conta da alta temperatura ou se foi atropelado antes.

Em Belo Horizonte (MG), a prefeitura já recolheu quase 500 peixes mortos da Lagoa da Pampulha, entre segunda e quarta-feira. Especialistas do município afirmam que as mortes se dão por conta justamente da onda de calor que atinge a capital mineira.

O Ministério da Saúde destaca que as condições da onda de calor podem impactar a saúde de toda a população, em especial os mais vulneráveis — como idosos, crianças, pessoas com problemas renais, cardíacos, respiratórios ou de circulação, diabéticos, gestantes e população em situação de rua. Os principais sinais de alerta são transpiração excessiva, fraqueza, tontura, náuseas, dor de cabeça, cãibras musculares e diarreia. Nestes casos, deve-se procurar a unidade de saúde mais próxima para uma avaliação com um profissional. Confira as orientações do MS:

Fonte: O Globo

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