Mortes por câncer triplicam no Rio Grande do Norte

Da Tribuna do Norte – Principal causa de morte em 10% dos municípios brasileiros, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer ocasionou o triplo de mortes no Rio Grande do Norte, comparando os anos de 2000 e 2016.

O número de mortes causadas pela doença no Estado saltou de 1.214, em 2000, para 3.280, em 2016, um aumento de 37% em 16 anos, maior, porém não tão distante, do aumento da média nacional, que foi de 31%. Os números, do Ministério da Saúde, retratam uma realidade já prevista pelos especialistas: até 2030, calcula-se que o câncer será a principal causa de óbitos entre os brasileiros, superando os problemas vasculares, que atualmente lideram a lista.

A tendência de aumento dos casos de câncer no país, no entanto, não é o único fator responsável pelos números do RN. No Estado, apenas cinco municípios realizam o exame de biópsia, fundamental para o diagnóstico da doença. Além disso, muitos ainda enfrentam dificuldades por depender do transporte fornecido pelas prefeituras para ir à capital ou a cidades mais próximas para realizar o tratamento da doença. De acordo com a médica oncologista Andrea Ferreira, a realidade dos moradores do interior, em especial, os mais pobres, ainda é um obstáculo para o tratamento e o diagnóstico precoce.

“É uma realidade que persevera ao longo dos anos. O que a gente pode perceber é que o cenário atual é um pouco melhor, mediante a própria consciência das pessoas. A informação vem chegando, e quando as pessoas se deparam com a possibilidade de estarem com uma doença mais grave, como o câncer, se juntam com familiares para buscar fazer exames particulares”, afirma a médica. 

A recusa vem, principalmente, em nível municipal. De acordo com ela, o tempo de espera para exames fundamentais no diagnóstico de alguns tipos de câncer, como a colonoscopia, podem demorar até um ano para serem liberados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Dependendo do lugar, ele sequer consegue fazer o exame. Já avisam logo a ele que não vai ser liberado pela Prefeitura”, completa. 

Quando Maria Mendes, de 71 anos, começou a sentir as primeiras dores na região do quadril, atribuiu à osteoporose, doença que já possuía. Foi ao médico e, após alguns exames, teve a dose da medicação para os ossos aumentada. As dores, no entanto, não pararam. “Foi aumentando cada vez mais, até que um dia eu fui fazer o preventivo e comecei a sangrar. Falei para a minha médica: isso não pode ser normal”, conta a idosa, natural de Assu, município da região  Central do Estado. A família se mobilizou para tentar conseguir um exame particular. Mesmo assim, somente quase um ano depois do início das dores, Maria teve o diagnóstico: câncer no colo de útero. 

Atualmente, fazendo tratamento na Liga Contra o Câncer, em Natal, Maria vive na Casa de Apoio Irmã Gabriela, criada para pacientes que, como ela, vivem no interior e não possuem família na capital onde possam ficar para fazer o tratamento. Para ela, ainda restam 33 sessões de radioterapia pela frente. “Tenho fé que vou me curar. Foi uma luta para que alguém pudesse me dizer o que eu tinha e começar o tratamento. Mas não sangro mais, a dor diminuiu”.

Se diagnosticado nos estágios iniciais, o câncer no colo do útero tem entre 80% e 90% de chances de cura. De acordo com os especialistas, o diagnóstico precoce aumenta consideravelmente as chances de cura de um paciente, além de poder proporcionar um tratamento menos invasivo. Na Liga Contra o Câncer, no entanto, que atende a cerca de 85% dos pacientes com a doença no Estado, menos da metade dos casos vindos do interior (45%) chegam ao tratamento em fase inicial. Na capital, o número é de pouco mais da metade dos casos (55%).

O aumento no número de óbitos por câncer no RN não tem um fator único responsável. Ao longo dos últimos anos, vem-se intensificando o acompanhamento tanto de pacientes em tratamento, como dos próprios diagnósticos. “O que acontecia, em especial no interior, é que as pessoas morriam e ninguém sequer sabia o porquê. Muitas vezes, não era dado sequer o diagnóstico, e isso fazia com que os números do passado fossem defasados”, afirma a oncologista.

Atualmente, explica ela, quando um de seus pacientes falta uma consulta ou dia de tratamento, a Liga, automaticamente, entra em contato para descobrir o porquê dele ter faltado. “Às vezes, o paciente pode ter inclusive falecido. É importante fazer esse acompanhamento, porque isso nos dá uma proximidade maior dos números com a realidade”, completa. 

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