Milei ressuscita o crédito imobiliário na Argentina e provoca corrida aos bancos

Banco Central da Argentina: país vem reduzindo taxas de juros, mesmo com inflação ainda muito alta
Banco Central da Argentina: país vem reduzindo taxas de juros, mesmo com inflação ainda muito alta — Foto: Erica Canepa/Bloomberg

As reduções de juros na Argentina desde que o presidente Javier Milei assumiu o poder e a aposta de que ele será capaz dedomar a inflação estão ressuscitando o financiamento imobiliário de um sono profundo de seis anos. E os argentinos agora fazem filas nos bancos para solicitar empréstimos.

Alguns dos maiores bancos privados e estatais do país afirmaram nas últimas semanas que começarão a oferecer empréstimos imobiliários a taxas de juros entre 3,5% e 8,5% anuais, mais um índice de inflação, que disparou para 288% por ano em março.

Os argentinos não se intimidam com as taxas elevadas que terão de pagar, apostando que Milei conseguirá conter a inflação.

— As pessoas estão muito ansiosas, as consultas congestionam nossos canais de comunicação e estamos sobrecarregados — disse em entrevista Daniel Tillard, presidente do Banco Nación, maior credor estatal do país.

O banco anunciou que desembolsará cerca de US$ 4 bilhões para financiamento imobiliário nos próximos quatro anos a 40 mil potenciais mutuários.

Durante anos, o mercado imobiliário da Argentina foi castigado por controles cambiais e taxas de juro entre as mais elevadas do mundo. As vendas de imóveis com financiamento, especialmente na capital, despencaram desde 2018, segundo a associação de notários de Buenos Aires.

— A Argentina é o único país do mundo onde as pessoas podem comprar um liquidificador em 12 vezes sem juros, mas adquirem uma casa com um saco de dinheiro — diz Gaston Rossi, diretor do Banco Ciudad, em Buenos Aires.

O valor máximo do empréstimo oferecido pelos bancos é de aproximadamente US$ 250.000 (R$ 1,28 milhão), com prazo de até 30 anos. Até sexta-feira, o Banco Ciudad já havia recebido pelo menos 11.000 pedidos formais de empréstimos de seus clientes desde que o financiamento foi lançado em 29 de abril, disse Rossi.

— Nunca tive que esperar tanto, as pessoas não conseguiam sentar e lotavam os corredores — disse Santiago Martellono, que visitou uma das agências do Banco Ciudad na segunda-feira depois que o credor anunciou que iria conceder os empréstimos.

Martellono, um advogado de 28 anos, acrescentou que seus amigos também começaram a manifestar interesse:

— Eles não veem outra maneira de comprar uma casa neste país no futuro a não ser com um empréstimo.

Um número crescente de bancos argentinos está disposto a satisfazer essa demanda crescente. O Banco Santander Rio pretende começar a oferecer financiamento imobiliário este mês, e o Banco Macro começou a oferecer empréstimos de até 20 anos na segunda-feira.

Representantes do Banco de Galicia e do BBVA Argentina não quiseram comentar.

Fonte: O Globo

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