Médico nascido em Jardim do Seridó encabeça grupo que se prepara para tratamento inovador contra covid-19

Um tratamento inovador contra o Covid-19 vem sendo estudado por um grupo de médicos em Cascavel, no Paraná. A iniciativa é encabeçada pelo médico hematologista e oncologista clínico Ademar Dantas da Cunha Júnior, seridoense nascido em Jardim do Seridó.

A matéria é do site O Paraná

Um grupo de dez médicos cascavelenses se prepara para iniciar um estudo de tratamento inovador contra a covid-19 em Cascavel. Trata-se da utilização do plasma sanguíneo ou plasma convalescente (a parte líquida do sangue onde ficam os anticorpos) de pacientes curados da doença para o tratamento de pacientes infectados em estado grave. Os profissionais integram o corpo clínico da Uopeccan e do HU (Hospital Universitário) de Cascavel.

A iniciativa é encabeçada pelo médico hematologista e oncologista clínico Ademar Dantas da Cunha Júnior, que aguarda agora a autorização da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para que os trabalhos sejam iniciados.

“Nós elaboramos um projeto completo de como o estudo irá funcionar, com todos os detalhes, e enviados ao Conep para que seja avaliado e aprovado. O envio foi feito no último dia 2 e a proposta já passou por algumas análises, por isso, esperamos que até a próxima semana haja um parecer”, explica o chefe da equipe cascavelense, que destaca: “No Brasil, apenas um grupo de pesquisadores de São Paulo conseguiu esta semana a autorização para realizar o tratamento. É uma iniciativa inédita”.

O médico ressalta que, embora seja um trabalho experimental para o tratamento da covid-19, a técnica já apresentou bons resultados no tratamento de outras doenças. “É um estudo experimental, não há como afirmar que trará os resultados esperados, mas só descobriremos realizando os tratamentos. A mesma técnica já é usada há 60 anos e apresenta melhoras para outras doenças, por isso acreditamos que seja uma possibilidade contra a covid-19”, acrescenta Ademar. Pela proposta do estudo, o tratamento será de dez pacientes e só poderá ser ampliada caso haja resultados positivos no tratamento de 50% +1, ou seja seis pacientes.

Quem pode doar?

O tratamento se dá por meio da retirada do plasma de pacientes que estão recuperados da doença há pelo menos 14 dias e tenham um título alto de anticorpos, o que traz mais segurança no combate ao vírus. “Os doadores devem se encaixar nos critérios estabelecidos para a doação de sangue. Além disso, tem um título alto de anticorpos e fator sanguíneo, além do fator do plasma compatíveis com o paciente que vai receber o tratamento. Não se retira sangue. O doador é colocado em uma máquina específica que faz a extração somente do plasma, uma espécie de filtragem do sangue. Retira-se de 400 a 500 ml de plasma e o restante do sangue volta para o doador, que não tem complicação nem precisa ficar em observação, doa e está liberado. Cada doador que se encaixar nos critérios pode doar duas vezes o plasma, a segunda doação pode ser feita 14 dias após a primeira e o plasma pode ser armazenado por um longo período, podendo ficar estocado para pacientes futuros”, afirma o hematologista.

Quem pode receber?

Poderão receber o plasma pacientes graves da covid-19, desde que haja indicação médica. “Os pacientes do estudo ficarão concentrados na Uopeccan, que tem uma máquina para coleta do plasma e vai receber pacientes encaminhados pelo HU de Cascavel e pelo Hospital Policlínica. O critério para inclusão no estudo é o estado de saúde. Então, se o médico que o acompanha verificar que há necessidade do tratamento, ele aciona a equipe e, caso o paciente se encaixe nos critérios, recebe o tratamento. É importante frisar que tanto o doador quanto o receptor do plasma precisam ter a doença confirmada pelo teste definitivo”, ressalta Ademar Dantas da Cunha Júnior.

A transferência do plasma – cerca de 500 ml por paciente – ocorre em duas etapas: “É ideal que o tratamento aconteça em até dez dias desde o início da apresentação dos sintomas. O plasma é administrado em duas etapas, cada uma de 250 ml, com intervalo de 12 horas entre uma aplicação e outra. Essa divisão é uma medida de segurança para evitar o risco de sobrecarga no corpo do paciente, assim como uma possível reação ao plasma”.

Os anticorpos agem no corpo do paciente atacando e combatendo o vírus, como se fosse um soro administrado para impedir o vírus de se proliferar, o que auxilia na melhora dos sintomas. Contudo, não é como a vacina, que há uma indução para que o organismo da pessoa produza os anticorpos por conta própria.

Ademar explica que, da identificação de paciente e doador, caso não haja plasma em estoque, o tratamento pode ser iniciado de 24 a 48 horas. O uso do plasma pode ser administrado com outro tratamento contra a doença, como a cloroquina, por exemplo, desde que haja indicação do médico responsável.

Custeio

O material inicial para a realização do tratamento está sendo adquirido com o auxílio de doações, mas, quando houver a sinalização positiva para a realização do estudo, a iniciativa deve ser inscrita em projetos federais para custeio de pesquisas.

Confira a entrevista do Dr. Ademar Júnior ao Blog do Marcos Dantas