Um terço de todos os incêndios registrados este ano no Pantanal aconteceu nos primeiros 16 dias de novembro, mês que já se consolida como o mais danoso para o bioma em 2023. O dado chama atenção especialmente porque novembro é o período em que habitualmente se inicia a época da chuva — a seca, portanto, já deveria estar mais amena. No entanto, a atual onda de calor reconfigurou o cenário no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
O infográfico abaixo mostra a evolução dos focos de incêndio no bioma neste mês.
De acordo com o Painel do Fogo, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) — monitoramento do Ministério da Defesa —, houve 871 eventos de incêndio desde o início do ano no Pantanal. Somente no intervalo entre os dias 1 e 16 de novembro, foram 261. Ou seja, 30% do total.
Há em curso três grandes frentes de fogo no Pantanal: a primeira se iniciou no dia 1º de outubro, no Parque Estadual Encontro das Águas. Ao fim daquele mês, o incêndio parecia controlado, sem grandes proporções, mas, a partir de novembro, com a chegada da onda de calor, o fogo se alastrou, e uma área de 160 mil hectares já foi afetada. Já o maior incêndio em curso se iniciou no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, no dia 22 de outubro, chegou à beira da Rodovia Transpantaneira, atingindo mais de 260 mil hectares.
O terceiro grande incêndio está ocorrendo ao sul do Mato Grosso do Sul, em Corumbá. Ele teve início no Parque Estadual Rio Grande e já afetou uma área de 89 mil hectares. Ainda há outros focos importantes, impactando dezenas de milhares de hectares.
Os incêndios florestais no Pantanal fizeram os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretarem situação de emergência. Com os decretos, os governos podem transferir recursos aos municípios afetados para a realização de ações de combate às queimadas.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, foi ao Mato Grosso. Nesta quarta-feira, acompanhado do governador em exercício, Otaviano Pivetta, ele sobrevoou as áreas atingidas pelos incêndios.
Agostinho foi até Poconé, em uma das áreas mais afetadas pelas chamas. O presidente do Ibama sobrevoou o Parque Estadual Encontro das Águas.
Proprietários de hospedagens nos dois estados onde fica o bioma relatam o medo de que as chamas consumam seus terrenos e reclamam de uma suposta demora na chegada de ajuda efetiva dos governos no combate ao fogo. Uma força-tarefa que conta com o Corpo de Bombeiros, representantes de ONGs e moradores vem atuando 24 horas para apagar focos de incêndio.
— As queimadas vêm ocorrendo há cerca de 20 dias e chegaram bem próximas das pousadas nesta última semana. Foi evidente que a ajuda governamental para apagar o fogo demorou a chegar. Até mandaram frotas no início, mas foi um efetivo pequeno. Se tivesse vindo com uma equipe maior quando os incêndios começaram a ser registrados, boa parte da destruição teria sido evitada — relata Thiago Brandão, proprietário da pousada Dona Onça, no Mato Grosso.
Brandão afirma que o fogo próximo de sua pousada ainda não foi totalmente apagado, já que em “todo amanhecer aparecem novos focos nos mesmos lugares”. A expectativa dos moradores é que a chuva prevista para esse final de semana consiga apagar de vez as queimadas.
— Se não tivesse um trabalho em equipe para atenuar os efeitos da queimada, a pousada já teria sido destruída, não só a minha, como a maioria. Reunimos maquinários, caminhões-pipa e aviões para nos auxiliar nesse trabalho contínuo. Nós apagamos os focos de incêndio, vem a noite, a situação se tranquiliza, e, quando o sol nasce, começa tudo de novo— diz o empresário.
Fonte: O Globo