Loja denuncia racismo em pedido por aplicativo, no RS: ‘não gosto dessa gente encostando na minha comida’

Loja denuncia racismo em pedido por aplicativo
Loja denuncia racismo em pedido por aplicativo — Foto: Arquivo pessoal

Uma pastelaria da cidade de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, denunciou um caso de racismo cometido por uma cliente ao fazer um pedido na loja, na noite desta terça-feira. No campo de “observações” do aplicativo, a consumidora pediu, “por gentileza”, que a loja enviasse “um motoboy branco” por não gostar de pessoas negras “encostando” em sua comida.

Responsável pelo atendimento, Daniela Rodrigues é proprietária do estabelecimento — uma franquia do restaurante Hora do Pastel —, e conta que a notificação chegou às 20h.

A observação da cliente, identificada como Andressa Oliveira, foi feita no pedido, e, em seguida, no chat. Ao abrir, se deparou com o recado: “Última vez veio um motoboy negro. Peço a gentileza que mande um branco. Não gosto de pessoas assim encostando na minha comida. Obrigada!”, escreveu a cliente.

O motoboy negro em questão, no entanto, é o marido de Daniela. Gabriel Fernandes da Cunha também é proprietário da loja e, segundo a mulher, faz entregas em dias de maior movimento.

— Ela cita meu esposo, que é proprietário junto comigo. Foi bem dessa forma que aconteceu. Ela fez o pedido, colocou as observações e depois mandou mensagem com a mesma observação pelo chat — diz Daniela.

Após receber a mensagem da cliente, Daniela a repreende, pede que ela não compre mais na loja e diz que o motoboy ao qual a pessoa se refere é o dono da empresa. Ela também avisa que pretende denunciá-la. Após o recebimento da mensagem, o casal decidiu registrar ocorrência na 3ª Delegacia de Polícia Regional. O caso foi documentado como injúria racial consumada.

Com a repercussão do caso na região de Campo Bom, um novo personagem surge na história: o síndico do prédio cadastrado como endereço da cliente que fez a exigência racista também registrou ocorrência. Ele alega que o número de apartamento informado pela autora do crime no aplicativo não corresponde a nenhum dos números existentes no condomínio. Além disso, segundo o síndico, não há nenhuma “Andressa” no local.

— O síndico do prédio já fez boletim de ocorrência, porque a suposta cliente informou que era num condomínio, mas o número de apartamento que ela informou não existe e muito provavelmente esse nome não existe, porque não tem morador com esse nome — explica Daniela.

O casal já conseguiu apoio jurídico, e aguarda, agora, o andamento das investigações para que pessoa por trás do pedido seja identificada.

— Temos uma junta de advogados nos apoiando, e vamos descobrir quem é. Porque tem que ter alguém por trás, principalmente quando se trata de uma conta no aplicativo — diz.

Em nota publicada nas redes sociais, a empresa franqueadora prestou solidariedade aos proprietários da franquia, e repudiou o comentário da cliente. “Não passará impune”, diz a nota.

O caso também foi repercutido pela deputada estadual gaúcha Laura Sito, em publicações nas redes sociais. “É revoltante o que aconteceu em Campo Bom, no Rio Grande do Sul (…) Parabéns pela reação. É assim que racista tem que ser tratado!”, escreveu.

Fonte: O Globo

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