Juiz Henrique Baltazar: “as facções não terão fôlego para enfrentar essa onda por muito tempo”

Para o Juiz de Execuções Penais da Grande Natal não é de hoje que o Estado começou a perder o controle sobre o sistema prisional. Depois de 2010, na avaliação dele a situação só fez piorar.

Até que em 2017 depois de uma rebelião com a morte de dezenas de internos na Penitenciária de Alcaçuz o Estado resolveu assumir o controle do sistema penitenciário de verdade, “e passou o resto do ano de 2017 nesse controle. Fechou algumas unidades e melhorou outras. Fez melhorias físicas em várias unidades e fez concurso para agentes penitenciários. Então o agente penitenciário, os policiais penais e aí o Estado passou a controlar o sistema, que é o que mantém até hoje e a partir do segundo semestre de 2017, o Estado manter o controle do sistema penitenciário”, explicou.

E a condição do Estado controlar o Sistema Prisional, na avaliação do juiz não agrada as lideranças criminosas.

Porque eles querem mandar no sistema, não querem ter o Estado mandando neles, o Estado evitando que eles controlem o crime fora dos presídios. E aí, o que me parece é que essas alegações que estão tendo para a rebelião, para esses movimentos, é apenas desculpa, apenas a fachada. O que o interesse mesmo é assumir o controle dos presídios, como já aconteceu no passado”.

Apesar do clima de medo e de incertezas que tem reinado nos últimos dias no Estado, o juiz Henrique Baltazar acredita que o crime organizado não tenha fôlego para enfrentar essa onda por muito tempo.

Vai depender do Estado, depende do que o Estado colocar pra agir. O Estado já divulgou que prendeu mais de 50 pessoas. Vai ter que prender mais 100 para a coisa ter uma calma. As facções não tem folego para enfrentar isso muito tempo. Por mais que um maluco vá para as redes sociais mandar distribuir algo, nós temos muita gente e tal, não é assim, não tem essa força suficiente. Aquele pessoal está deixando de praticar crime para fazer essas coisas, está deixando de angariar recursos para fazer ataques. Vai ter o momento que serão vistos, vai ter um momento que serão confrontados, que as pessoas indicarão a polícia onde eles estão e serão presos, e depois vai a choradeira dos familiares porque o cara tá preso, cumprindo e pagando pelos atentados que ele fez”.

O juiz também levantou suspeitas sobre a autenticidade dos comunicados, chamados de “salves” que estão sendo espalhados nas redes sociais como se fosse de autoria das facções criminosas do RN.

Uma boa parte é mentira, uma boa parte são gaiatos, são pessoas que ficam mandando áudios ou textos, inventando e fazendo ali. Tem gente que tem que divertimento, um senso de humor macabro e que acha bonito ficar fazendo esse tipo de coisa. Você tem que ter atenção no que está vendo, você tem que ver se aquilo tem alguma lógica ou não. Aquilo que está sendo que está sendo divulgado. Tem muita coisa que é besteira. Eu já vi várias mensagens que estão circulando que não tem nada a ver. São evidentemente falsas, não tem sentido nenhum naquilo que está dizendo, naquele comunicado oficial do Sindicato do Crime, ou de quem quer que seja”.

 Na entrevista ao Panorama 95 desta sexta-feira (17) o juiz chama a responsabilidade de todos os órgãos que compõem o Estado para agir.

 “A polícia militar precisa identificar quem são as pessoas e prender, a Polícia Civil investigar e começar a levar as pessoas a prisão e aí cabe a nossa responsabilidade do Poder Judiciário e do Ministério Público em também agir, aplicando a força do Estado contra essas pessoas. Não pode um Estado inteiro ser submetido a uma facção criminosa sem que os órgãos públicos não façam nada para combatê-los”. Ponderou.

Confira a entrevista na íntegra do Juiz Henrique Baltazar: