A inflação brasileira voltou a acelerar em junho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, ficou em 0,69% neste mês, segundo os dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em maio, a taxa havia ficado em 0,59%.
A taxa do IPCA-15 em 12 meses ficou em 12,04% (o acumulado até maio era de 12,20%), ante uma meta de inflação de 3,5% perseguida pelo Banco Central (BC) para 2022, com intervalo de tolerância de 2% a 5%. No ano passado, a inflação pelo IPCA foi de 10,06%, quase o dobro do teto de tolerância de 5,25%, que tinha como centro da meta uma taxa de 3,75%.
O alívio em maio pelo fim da cobrança extra da bandeira tarifária de escassez hídrica sobre a conta de luz foi sucedido em junho por uma pressão de aumentos disseminados pelos demais grupos de bens e serviços investigados. Os vilões foram os reajustes dos planos de saúde e dos medicamentos, mas também da taxa de água e esgoto, passagens aéreas e automóveis novos.
De acordo com o IBGE, todos os grupos pesquisados tiveram alta em junho. O maior impacto (0,19 ponto porcentual no índice) veio dos transportes (0,84%). No entanto, esse segmento desacelerou em relação a maio (1,8%). A maior variação veio de vestuário (1,77% de alta e 0,08 ponto porcentual no índice), seguido por saúde e cuidados pessoais (1,27%), que contribuiu com 0,16 ponto no índice do mês. O grupo habitação, que havia registrado queda no mês anterior (-3,85%), subiu 0,66% em junho. Os demais grupos ficaram entre o 0,07% de Educação e o 0,94% de Artigos de residência, conforme o IBGE.
Perspectivas
Para o economista Lucas Godoi, da consultoria GO Associados, o IPCA-15 trouxe sinais de aumentos de preços menos disseminado. Segundo ele, o resultado favorece o fim do ciclo de aperto monetário na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de agosto, com um novo aumento da taxa básica de juros, a Selic, dos atuais 13,25% ao ano para 13,75%.
A despeito da avaliação positiva do IPCA-15 de junho, o economista deve revisar para cima sua projeção de 0,70% para o IPCA fechado do mês. “Deve vir um pouco maior porque tem a questão dos combustíveis e dos planos de saúde”, justificou Godoi, que estima um IPCA de 8,5% em 2022.
O banco BNP Paribas espera um IPCA de 10% neste ano, seguido de alta de 5% em 2023. “Apesar de a gente estar vendo a inflação voltando para patamares um pouco mais baixos do que aqueles 1,7%, 1,5% que vimos desde o início do ano, ainda é uma composição muito ruim”, avaliou a economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho.
Itens de festa junina têm alta de 13,51% em 12 meses
Nas alturas
Passagens aéreas aumentam 123% em 12 meses
O maior impacto no resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de junho veio do setor de transportes, que influenciou o índice em 0,19 ponto porcentual. Os preços do setor aceleraram 0,84% em junho, ante 1,80% em maio, puxados principalmente pelas passagens aéreas (11,36%), gás veicular (8,77%), seguro voluntário de veículo (4,2%).
A desaceleração do setor de transportes em relação ao mês de maio se deu pela queda do preço dos combustíveis de veículos, que retraiu 0,55% em junho. Em maio, haviam subido 2,05%. Embora o óleo diesel tenha subido 2,83% em junho, o etanol e a gasolina caíram 4,41% e 0,27%.
Apesar da retração mensal de alguns itens, o preço dos combustíveis é um dos alvos atuais do presidente Jair Bolsonaro, que teme que a inflação atinja sua popularidade em ano eleitoral Na semana passada, após a Petrobras anunciar o reajuste de preços, o governo Jair Bolsonaro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) partiram para cima da estatal, cujas ações despencaram mais de 7% no pregão do dia 17.
No acumulado de 12 meses, o setor de transportes acumula alta de 20,51%. As maiores altas são das passagens aéreas (123,26%), transporte por aplicativo (64,03%), óleo diesel (51,04%), seguro voluntário de carro (39,91%), gás veicular (34,33%), combustíveis de veículos (27,44%), gasolina (27,36%), transporte público (21,73%) e etanol (21,21%).
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados entre 14 de maio e 13 de junho de 2022 (referência) e comparados com os vigentes de 14 de abril a 13 de maio de 2022 (base). O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários-mínimos. A metodologia é a mesma do IPCA, a diferença está no período de coleta dos preços e na abrangência geográfica.