Inteligência Artificial é usada para ‘ressuscitar’ políticos na campanha eleitoral da Índia

Apoiadores do partido do Congresso seguram cartazes para o candidato Mansoor Ali Khan, na cidade de Bengaluru
Apoiadores do partido do Congresso seguram cartazes para o candidato Mansoor Ali Khan, na cidade de Bengaluru — Foto: IDREES MOHAMMED/ AFP

A inteligência artificial (IA) veio com tudo na campanha eleitoral da Índia, que começou este mês: ela é usada para ridicularizar candidatos com vídeos manipulados e até para ‘ressuscitar’ políticos mortos há muito tempo. Autoridades locais temem o aumento da desinformação e a ameaça à democracia.

Um exemplo aconteceu em Tamil Nadu, um estado no sul do país, onde a oposição recorreu a um vídeo gerado por IA da atriz e política J. Jayalalithaa, morta em 2016, para criticar o governo local. O partido no poder respondeu com um vídeo de seu antigo adversário M. Karunanidhi, falecido em 2018, em que elogia seu filho, M.K. Stalin, o atual ministro-chefe do estado.

A reciclagem de oradores “muito carismáticos” é um novo meio de ganhar audiências, explica à AFP Senthil Nayagam, fundador da sociedade Muonium, responsável pelo vídeo que ressuscitou Karunanidhi. A crescente penetração da internet nas zonas rurais, onde vivem mais da metade dos 800 milhões de usuários do país, por sua vez, permite difundir uma mensagem política de forma mais eficaz e barata do que com os comícios tradicionais, diz Nayagam.

— É difícil atrair multidões — disse ele.

Em novembro o ministro da Comunicação, Ashwini Vaishnaw, advertiu que a tecnologia também pode ser usada para desinformar, o que constitui “uma séria ameaça à democracia e às instituições sociais”. Hoje, a IA é capaz de reproduzir tão bem a voz e a imagem de um político que os eleitores mal conseguem distinguir o verdadeiro do falso.

— A IA pode se tornar o mais importante instrumento de desenvolvimento do século XXI, ao mesmo tempo em que pode desempenhar o papel mais importante na destruição do século XXI — disse o primeiro-ministro Narendra Modi.

Isso não impediu que o seu partido, o BJP, tenha sido dos primeiros a usar as ferramentas para fazer o líder aparecer virtualmente em comícios.

Divyendra Jadoun, criador de produtos de IA para a empresa The Indian Deepfaker, notou um “enorme aumento” das demandas e reconhece que “uma grande parte do país” não entende esta tecnologia e acredita facilmente em seus conteúdos.

— Temos tendência a verificar a veracidade somente dos vídeos que vão contra nossas ideias preconcebidas — explica.

A IA também vem sendo utilizada para ridicularizar adversários. O Congresso, comandado pelo principal partido da oposição, divulgou um vídeo adulterado no qual o primeiro-ministro canta uma canção sobre seus supostos vínculos com poderosos empresários.

Outra formação opositora, Aam Aadmi, que governa Nova Délhi, fez circular um vídeo gerado por IA no qual Modi foge com uma urna eleitoral.

— É mais eficaz ridicularizar um adversário para reduzir suas opções políticas do que chamá-lo de valentão ou de corrupto — acredita Joyojeet Pal, especialista em tecnologia e democracia da Universidade de Michigan.

Ele destaca ainda que a “polarização” crescente na política faz com que os eleitores estejam “mais inclinados” a acreditar nas informações falsas do campo oposto, afirma.

— É uma ameaça à democracia como um todo — alerta ele.

Fonte: O Globo

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