Após o ataque do Irã contra Israel na terça-feira, quando cerca de 180 mísseis foram disparados, analistas avaliam que o próximo movimento do Estado judeu tem potencial para determinar o curso da guerra. Diferentemente da ofensiva realizada em abril, quando Israel e aliados interceptaram quase todos os 300 mísseis e drones das forças iranianas — numa investida que, apesar de superior em quantidade de armamentos lançados, foi amplamente considerada como simbólica — agora, a abordagem do Irã foi mais agressiva e com a intenção de causar danos significativos, dizem especialistas.
Na época, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao premier israelense, Benjamin Netanyahu, que “aceitasse a vitória”, e a resposta de Israel foi moderada: embora suas forças tenham disparado contra uma base aérea em Isfahan, uma cidade cercada por algumas das áreas nucleares mais importantes do Irã, a ofensiva evitou atingir as próprias instalações. A mensagem, porém, foi clara: da próxima vez, eles poderiam mirar em ativos valiosos para a administração iraniana.
Em abril, Israel estava preocupado que uma resposta intensa demais pudesse levar o Irã a ordenar que suas milícias aliadas — particularmente o grupo xiita Hezbollah no Líbano — retaliassem de forma extensa. No entanto, após terem intensificado os bombardeios no território libanês, matando o líder da organização político-militar libanesa e outros comandantes graduados do grupo, Israel agora sabe que enfraqueceu o Hezbollah, removendo grande parte da dissuasão do Irã contra um ataque mais amplo, disse Danny Citrinowicz, oficial aposentado da Inteligência israelense especialista em Irã.
— Israel tem muito mais liberdade no contexto iraniano do que em abril, já que essencialmente não há mais ameaça de que o Hezbollah se envolva — ressaltou Citrinowicz.
Assim como no ataque anterior, a administração Biden pode instar Israel a conter sua resposta. Desta vez, no entanto, com a chegada das eleições presidenciais de novembro nos EUA, as autoridades americanas provavelmente terão menos influência do que tiveram em abril. Na avaliação de Citrinowicz, o momento é de uma escalada cujo fim ainda é difícil de prever, e a ação de Israel “quase certamente” desencadeará outra resposta iraniana. A Guarda Revolucionária Islâmica do Irã afirmou que o ataque foi uma retaliação pela morte dos líderes do grupo terrorista Hamas e do Hezbollah, e avisou que, se o Estado judeu respondesse, haveria mais represálias.
— Parece que estamos no início de uma confrontação mais agressiva entre nós e os iranianos — disse o israelense.
Para Yaakov Amidror, general de divisão aposentado que serviu como conselheiro de segurança nacional de Netanyahu, o desafio de Israel hoje não é sobre atacar ou não o Irã, mas o quão poderoso esse ataque deve ser. A questão, disse, é o quanto as forças israelenses podem “prejudicá-los em relação à capacidade deles de nos prejudicar”. Até mesmo um ataque às instalações nucleares do Irã — há muito uma fonte de temor para Israel, que se preocupa que Teerã possa adquirir uma arma nuclear — “deve ser considerado”, acrescentou o general israelense.
O ex-primeiro-ministro de Israel Naftali Bennett escreveu nas redes sociais que seu país estava diante da “maior oportunidade dos últimos 50 anos” para mudar o cenário no Oriente Médio, sugerindo que as forças do Estado judeu devem agir para “destruir o projeto nuclear do Irã” e suas “principais instalações energéticas”, atingindo “criticamente esse regime terrorista”. “Os tentáculos desse polvo estão gravemente feridos — agora é a hora de mirar na cabeça”, acrescentou. Embora Bennett não seja mais premier, sua posição reflete um sentimento crescente no país, e Israel de fato pode estar considerando ataques a alvos mais relevantes no território iraniano, como instalações nucleares.
Os alvos militares mais óbvios são as bases terrestres que lançaram a salva de mísseis balísticos na terça-feira, publicou a BBC. Isso inclui não apenas os silos, mas também os centros de comando e controle, além das instalações de reabastecimento. Em seguida, há os locais petroquímicos ou outros pontos que poderiam afetar significativamente a economia iraniana. Israel pode até tentar ativar sua rede de agentes dentro do Irã para perseguir aqueles que ordenaram e executaram o ataque.
A estratégia atual do governo israelense, segundo análise da rede britânica, parece ser de duas frentes: eliminar seus inimigos por meio de assassinatos e ataques aéreos e, em seguida, dissuadir — demonstrando ao Irã e seus aliados que todo ataque a Israel será respondido com uma força ainda maior. Além disso, os Estados Unidos estão reforçando sua presença militar no Mediterrâneo, sinalizando ao Irã que um ataque a Israel poderia implicar uma reação americana. De qualquer forma, um contra-ataque iraniano seria quase inevitável, com ambos os países perpetuando o ciclo atual de ataques e vinganças. (Com New York Times)
Fonte: O Globo