‘Inbar estava amamentando e, pouco antes de deixar o trem, começaram a atirar’, conta amigo da vítima em ataque a tiros em Jaffa

Inbar Segev Vigder, de 33 anos, morta no ataque a tiros em Jaffa, no sul de Tel Aviv
Inbar Segev Vigder, de 33 anos, morta no ataque a tiros em Jaffa, no sul de Tel Aviv — Foto: Arquivo pessoal

Na noite de terça-feira, como um prenúncio trágico da tensão que tomaria conta de todo o território israelense devido ao ataque de mísseis lançados pelo Irã, dois atiradores abriram fogo contra passageiros de um vagão de trem e, posteriormente, transeuntes, em Jaffa, no sul de Tel Aviv. Sete pessoas morreram, incluindo Inbar Segev Vigder, de 33 anos, que estava com o filho de nove meses e seu cachorro. Ela estava prestes a sair do trem quando os disparam começaram. Tudo o que conseguiu fazer em meio ao caos foi proteger o bebê, contou seu amigo, Itay Dror.

— Inbar estava amamentando o bebê e, pouco antes de se levantar para deixar o trem, os terroristas começaram a atirar. Eu não sei exatamente onde a atingiram, mas ela conseguiu proteger o bebê — disse Dror, de 32 anos. — Depois disso, quando alguém estava tentando cuidar de Inbar, perceberam que ela estava com um bebê e que ele estava vivo e bem, estava no carrinho de bebê. Uma mulher o levou para o hospital e cuidou dele. O cachorro também estava ferido. Provavelmente, de alguma forma, eles protegeram ele. Inbar morreu imediatamente.

O ataque a tiros aconteceu pouco depois de as Forças Armadas de Israel (FDI) ampliarem o alcance das medidas de segurança voltadas aos civis na cidade e pelo menos 40 minutos antes de as sirenes soarem na cidade devido ao ataque aéreo do Irã. Entre os mortos, além de Inbar, está uma adolescente de 17 anos. Os atiradores foram baleados e mortos, e a polícia suspeita de terrorismo. Em entrevista à rádio nacional israelense, o marido da vítima, Yeari Vigder, contou que o bebês estava “coberto de sangue, mas ileso”.

Dror contou que ele, Inbar e Yeari costumavam malhar na mesma academia de crossfit há alguns anos e acabaram se tornando bons amigos. Ele disse que, inclusive, chegou a ver Ya’ari na manhã de terça-feira, horas antes dos incidentes daquela noite. O amigo, disse Dror, experimentou uma outra forma de desespero: enquanto todos procuravam um bunker para se abrigar dos mísseis iranianos, e “as sirenes gritavam ao fundo”, Ya’ari estava percorrendo os hospitais da região para ver se o filho e a mulher estavam lá. Para o amigo do casal, “parecia uma cena de filme”.

— Depois que soubemos o que aconteceu [o ataque], começamos a enviar mensagens e ligar uns para os outros para tentar ver se estava tudo bem. E percebemos que Inbar não atendia o telefone, nem seu marido. Ele, enquanto havia sirenes por conta do ataque de mísseis do Irã, estava basicamente indo ao hospital para ver se eles estavam lá.— relembrou Dror, acrescentando: — E então ele encontrou o bebê, não conseguiu encontrar a esposa, e acho que o resto está bem claro.

A informação oficial de que a amiga tinha partido chegou por entre 21h e 22h (entre 15h e 16h no horário de Brasília). No mesmo momento, Dror redirecionou os pensamentos ao marido de Inbar, pela perda, e pelo filho “que agora crescerá sem mãe”. Dror descreveu a amiga como “uma pessoa muito boa”, que “estava sempre querendo ajudar as pessoas”, “muito gentil”, e “prestativa”.

— Inbar e seu marido eram um casal jovem que estava começando a vida. Ela deu à luz seu primeiro filho há nove meses, e eles tinham um cachorro. Ela era professora de esportes e treinava como técnica esportiva em Tel Aviv, e o marido está fazendo doutorado em matemática e também trabalha em uma empresa de alta tecnologia — disse Dror, lamentando: — Fico imaginando o que o marido de Inbar tentando descobrir o que aconteceu com ela. É devastador ver como Yeari vai viver sem o amor da vida dele, sem a mãe de seu bebê, e [que morreu] por ter feito nada de errado, por simplesmente sair de casa.

Em meio à dor da perda, Dror contou que muitas mulheres em Israel se ofereceram para doar leite materno ao filho de Inbar.

— Apenas com muita sorte e talvez alguma fé, ou outra coisa em que as pessoas acreditam, que o bebê não está ferido ou morto no momento. Mesmo o cachorro está andando sozinho agora, e seu marido obviamente não foi ferido pelo ataque. É devastador. E outras seis pessoas foram assassinadas por não terem feito nada de errado.

Fonte: O Globo

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